A devoção a Nossa Senhora de Walsingham, cuja festa litúrgica celebra-se a 24 de setembro, é uma das mais antigas e queridas manifestações marianas da cristandade. Nascida na Inglaterra medieval, no século XI, tornou-se conhecida como a “Nazareth de Inglaterra” e até hoje continua a ser ponto de encontro para fiéis católicos, anglicanos e peregrinos de várias partes do mundo.
A origem da devoção
A história remonta ao ano 1061, quando uma piedosa nobre inglesa, Lady Richeldis de Faverches, rezava pedindo uma graça especial a Nossa Senhora. Segundo a tradição, a Virgem Maria apareceu-lhe em visão e levou-a misticamente até Nazaré, mostrando-lhe a casa da Sagrada Família.
A pedido de Nossa Senhora, Lady Richeldis construiu uma réplica daquela casa em Walsingham, uma pequena aldeia no condado de Norfolk, na Inglaterra. Este “Santuário da Anunciação” tornou-se rapidamente um centro de peregrinação, conhecido como o “Nazareth inglês”.
Um dos maiores santuários medievais da Europa
Nos séculos seguintes, Walsingham cresceu em fama e importância. Reis, rainhas, nobres e milhares de peregrinos visitavam o santuário. Entre os devotos ilustres contam-se Henrique III, Eduardo I, Eduardo II, Henrique VI e Henrique VIII (antes da ruptura com Roma).
No final da Idade Média, o Santuário de Walsingham era considerado um dos mais importantes centros de peregrinação da Europa, rivalizando com Santiago de Compostela e Roma.
A destruição durante a Reforma
Com a Reforma Inglesa, desencadeada por Henrique VIII no século XVI, os mosteiros e santuários católicos foram suprimidos. Em 1538, o Santuário de Walsingham foi destruído, a famosa imagem de Nossa Senhora foi levada para Londres e queimada publicamente em Chelsea.
Durante séculos, a devoção sobreviveu apenas de forma discreta, guardada no coração dos fiéis católicos.
O renascimento da devoção
No século XIX, após a restauração da hierarquia católica em Inglaterra, a devoção começou a ser reavivada. Em 1897, foi erguido um novo santuário católico em Walsingham. Mais tarde, também a Igreja Anglicana recuperou a devoção, erguendo em 1931 o seu próprio santuário.
Hoje, Walsingham é único no mundo cristão: católicos, anglicanos e ortodoxos veneram ali Nossa Senhora, e a aldeia tornou-se um lugar de encontro ecuménico e de oração comum.
A imagem de Nossa Senhora de Walsingham
A imagem de Nossa Senhora de Walsingham apresenta a Virgem Maria sentada num trono, com o Menino Jesus ao colo. A iconografia remete à Cátedra da Sabedoria (Sedes Sapientiae), representando Maria como trono de Cristo, a Sabedoria divina.
A escultura é carregada de simbolismo medieval:
- O trono com três arcos evoca a Santíssima Trindade.
- O lírio nas mãos de Nossa Senhora recorda a pureza da Anunciação.
- O Menino Jesus ergue a mão em bênção e segura um livro, sinal de sabedoria e Palavra de Deus.
Um lugar de peregrinação vivo
Todos os anos, milhares de peregrinos visitam Walsingham. Destaca-se a peregrinação nacional católica em Setembro, que atrai fiéis de toda a Inglaterra e de outros países.
Walsingham é também conhecido pela “Santa Casa” reconstruída, réplica da que Lady Richeldis mandou edificar no século XI. A atmosfera de oração e silêncio torna o local particularmente especial para quem busca encontro com Deus através de Maria.
Curiosidades sobre Nossa Senhora de Walsingham
- O título mariano é por vezes chamado de “Our Lady of England” (Nossa Senhora da Inglaterra).
- Em 1897, o Papa Leão XIII restaurou oficialmente a peregrinação a Walsingham.
- Em 2015, a imagem de Nossa Senhora de Walsingham foi entronizada na Basílica de São Pedro, em Roma, como reconhecimento da sua importância universal.
- A aldeia de Walsingham é tão marcada pela devoção mariana que é conhecida como “England’s Nazareth” (Nazaré de Inglaterra).
Aprovações pontifícias
- O Papa Leão XIII emitiu um decreto papal de Roma abençoando a imagem mariana para veneração pública a 6 de fevereiro de 1897.
- O Papa Pio XII concedeu uma coroação canónica à imagem católica através do núncio papal, o bispo Gerald O’Hara, a 15 de agosto de 1954, com uma coroa de ouro financiada pelas suas devotas, agora veneradas na Capela Slipper.
- O Papa João Paulo II venerou a imagem na celebração do Pentecostes no Estádio de Wembley a 29 de maio de 1982 durante uma Santa Missa ao ar livre.
- O Papa Francisco elevou o santuário ao estatuto de basílica menor a 27 de dezembro de 2015 através de um decreto apostólico da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
Conclusão
A devoção a Nossa Senhora de Walsingham mostra como Maria é capaz de unir povos, línguas e até confissões cristãs. Mais do que um título local, é um sinal de esperança para a Igreja e para o mundo: através de Maria, todos somos conduzidos a Cristo.
Como recordava São João Paulo II, que teve grande apreço por esta devoção: “Walsingham continua a ser um lugar de encontro com a Mãe de Deus, que nos conduz sempre ao seu Filho.”