São Cléofas é uma figura mencionada no Novo Testamento, reconhecido pela tradição cristã como um dos primeiros discípulos do Ressuscitado. Embora apareça discretamente nas Escrituras, a sua presença no episódio dos discípulos de Emaús confere-lhe um lugar singular entre os seguidores de Jesus. A Igreja celebra a sua memória a 25 de setembro.
A caminhada para Emaús
Cléofas é conhecido principalmente por ter sido um dos dois discípulos que caminhavam de Jerusalém para Emaús no dia da Ressurreição de Jesus. O Evangelho segundo São Lucas (24,13-35) narra esse encontro extraordinário com o Senhor Ressuscitado, que se aproximou deles no caminho e os ajudou a compreender as Escrituras antes de Se revelar ao partir o pão.
A narrativa mostra Cléofas e o seu companheiro profundamente abatidos após a morte de Jesus, mas abertos à escuta. O encontro transforma a sua tristeza em alegria e a dúvida em fé viva. A caminhada com Cristo simboliza a jornada espiritual de todo cristão, marcada pelo diálogo com a Palavra e pelo reconhecimento de Jesus na Eucaristia.
Identidade e tradição
A identidade de Cléofas tem sido alvo de reflexão ao longo dos séculos. Alguns estudiosos e tradições antigas identificam-no com Alfeu, pai de Tiago Menor, um dos apóstolos. Outras tradições afirmam que era irmão de São José, esposo da Virgem Maria, e portanto tio de Jesus segundo a carne.
Segundo Eusébio de Cesareia, que cita Hegésipo, Cléofas teria sido o pai de São Simeão, o segundo bispo de Jerusalém após Tiago. Essa relação familiar aproxima-o ainda mais do núcleo da primeira comunidade cristã. Embora a história concreta de Cléofas esteja envolta em mistério, a sua proximidade a Jesus e aos primeiros discípulos é reconhecida.
Testemunha da Ressurreição
São Cléofas é especialmente recordado como uma das primeiras testemunhas da Ressurreição. A experiência que viveu no caminho de Emaús tornou-o um anunciador da Boa Nova. Ele e o outro discípulo, após reconhecerem Jesus, voltaram imediatamente para Jerusalém, apesar da longa distância, para contar aos outros o que tinham vivido.
A sua história ensina-nos que o encontro com o Ressuscitado transforma a vida. O partir do pão, símbolo eucarístico, é o momento decisivo em que os olhos dos discípulos se abrem. Cléofas representa todos os que redescobrem a fé através da escuta da Palavra e da participação nos sacramentos.
Devoção e culto
A Igreja celebra São Cléofas como mártir e discípulo do Senhor. A sua memória é mantida viva especialmente entre os cristãos orientais e em algumas regiões da Europa. Embora não existam muitos detalhes sobre a sua morte, a tradição sustenta que terá sido martirizado por causa da sua fé em Cristo.
O seu exemplo convida os cristãos a não perderem a esperança mesmo quando tudo parece perdido. A sua fidelidade ao Mestre, mesmo após a crucifixão, é recompensada com a graça de ser um dos primeiros a encontrar o Ressuscitado.
Mensagem espiritual
São Cléofas mostra-nos que Jesus caminha connosco, mesmo quando não O reconhecemos. A presença do Senhor na vida diária, especialmente nas situações de dúvida e sofrimento, é uma certeza que anima a fé cristã. O relato de Emaús é um convite à escuta da Palavra de Deus e à celebração da Eucaristia com coração aberto.
Tal como Cléofas, também nós somos chamados a percorrer o caminho da fé, a deixar que Cristo nos fale ao coração e a partilhar com os outros a alegria do encontro com Ele. A sua figura, discreta mas profundamente significativa, é um modelo de discípulo atento, humilde e fiel.
Conclusão
São Cléofas é um exemplo de discípulo silencioso, mas profundamente marcado pelo encontro com Jesus. A sua presença no caminho de Emaús revela a força transformadora da fé e da presença do Ressuscitado. A sua vida convida-nos a reconhecer Cristo nas Escrituras, na Eucaristia e nos caminhos do quotidiano, caminhando com Ele mesmo quando a esperança parece ausente.