Neste dia, em 543, ocorria o famoso encontro entre São Bento e a sua irmã Santa Escolástica

A história da Igreja está repleta de episódios que, mais do que simples narrativas, se tornam verdadeiros ícones espirituais. Um dos mais belos relatos encontra-se nos Diálogos de São Gregório Magno (Livro II, capítulo 33) e diz respeito à última visita de São Bento de Núrsia à sua irmã, Santa Escolástica, poucos dias antes desta morrer. Este encontro entre os dois santos é não só um testemunho profundo do amor fraterno, mas também uma lição sobre a primazia da caridade e da oração sobre qualquer regra ou disciplina monástica.

O encontro dos irmãos

São Bento e Santa Escolástica eram irmãos gémeos, ambos dedicados à vida consagrada. Enquanto Bento fundava a célebre Ordem Beneditina e estruturava a sua Regra, que marcaria a vida monástica no Ocidente, Escolástica vivia consagrada a Deus num mosteiro feminino próximo de Monte Cassino.

Segundo narra São Gregório Magno, três dias antes da morte de Santa Escolástica, os dois irmãos encontraram-se numa casa situada a meio caminho entre os mosteiros, como era habitual uma vez por ano. Passaram o dia inteiro em conversas santas, meditando sobre as coisas de Deus e fortalecendo os laços de fé e fraternidade.

A oração de Santa Escolástica

Quando chegou a noite, São Bento preparava-se para regressar ao mosteiro, fiel à sua regra que proibia os monges de passar a noite fora. Porém, Santa Escolástica, sentindo que a morte estava próxima, pediu-lhe insistentemente que permanecesse com ela até ao amanhecer, para continuarem a falar das maravilhas divinas.

Bento recusou, invocando a regra. Então, Escolástica, com coração humilde e fé ardente, dirigiu-se a Deus em oração. De repente, uma tempestade violenta de chuva e trovões caiu sobre o local, tornando impossível a saída de São Bento. Diante do inesperado, Bento lamentou:

“Que fizeste, irmã?”
Ao que Santa Escolástica respondeu:
“Pedi-te e não quiseste ouvir-me; pedi ao meu Senhor e Ele ouviu-me. Agora, parte se puderes; deixa-me e volta para o teu mosteiro.”

São Gregório comenta que Bento ficou impressionado, e os dois passaram a noite em oração e diálogo espiritual.

A morte de Santa Escolástica

Três dias depois, em 10 de fevereiro do ano 543, Santa Escolástica faleceu. São Bento, recolhido no seu mosteiro, viu a sua alma subir ao céu em forma de pomba branca, sinal da pureza e do amor com que vivera.

O corpo de Escolástica foi levado ao mosteiro de Monte Cassino, onde foi sepultada no túmulo que Bento tinha preparado para si próprio. Poucos meses depois, o próprio São Bento viria a falecer e ser sepultado junto da sua irmã, como que testemunhando a união indissolúvel que tiveram na vida e na eternidade.

O significado espiritual do episódio

O relato da última visita de São Bento a Santa Escolástica encerra várias lições espirituais:

  • Primazia da caridade: Bento seguia a regra, mas Escolástica mostrou-lhe que a caridade e o amor fraterno estão acima de qualquer disciplina.
  • Força da oração: O poder da súplica confiante de Escolástica foi capaz de mover a natureza, mostrando como Deus escuta os corações humildes.
  • Unidade da vida consagrada: Ambos representam o modelo de vida entregue a Deus, ele como pai dos monges do Ocidente, ela como expressão da dimensão feminina da vida monástica.
  • Esperança na vida eterna: O símbolo da pomba que leva a alma de Escolástica ao céu reforça a certeza da ressurreição e da comunhão eterna com Deus.

Conclusão

O encontro entre São Bento e Santa Escolástica continua a inspirar monges, religiosas e leigos. Não é apenas uma história de dois irmãos santos, mas um convite a valorizar a oração, a fraternidade e a caridade como caminhos seguros para Deus.

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