O falecimento do Papa João Paulo II, a 2 de abril de 2005, marcou um dos momentos mais emocionantes e significativos da história recente da Igreja Católica. O seu pontificado, que durou 26 anos, 5 meses e 17 dias, foi um dos mais longos da história da Igreja, e a sua morte encerrou uma era de profunda transformação espiritual, política e cultural. O mundo inteiro acompanhou, comovido, as últimas horas do Papa polaco que se tornara símbolo de fé, coragem e esperança.
Os últimos dias de João Paulo II
Em fevereiro de 2005, a saúde de João Paulo II — já debilitada pela doença de Parkinson e por outras complicações associadas à idade — agravou-se consideravelmente. No dia 24 de fevereiro, o Papa foi internado no Hospital Gemelli, em Roma, com sintomas de gripe e dificuldades respiratórias. Dias depois, submeteu-se a uma traqueotomia para aliviar a respiração, o que limitou severamente a sua capacidade de falar.
Em 13 de março de 2005, João Paulo II regressou ao Vaticano, desejoso de passar os seus últimos dias em casa. A sua aparência frágil e o esforço com que abençoava os fiéis da janela do seu apartamento durante a Semana Santa comoveram o mundo.
No dia 30 de março de 2005, já sem conseguir falar, o Papa apareceu pela última vez à janela, tentando abençoar a multidão reunida na Praça de São Pedro. O gesto silencioso, acompanhado por um olhar de ternura e sofrimento, tornou-se uma das imagens mais marcantes do seu pontificado.
No dia seguinte, 31 de março, João Paulo II sofreu uma infeção urinária que evoluiu rapidamente para choque séptico e colapso cardiovascular, tornando irreversível o seu estado clínico. O Vaticano anunciou que o Papa estava “a morrer serenamente” e que permanecia consciente, acompanhado pelos seus colaboradores mais próximos e por orações ininterruptas dos fiéis.
Na tarde de sábado, 2 de abril de 2005, pelas 21h37 (hora de Roma), João Paulo II faleceu nos seus aposentos privados, rodeado de sacerdotes, médicos e membros da sua casa pontifícia. As suas últimas palavras teriam sido:
“Deixem-me ir para a casa do Pai.”
Pouco depois, o arcebispo Leonardo Sandri anunciou a morte aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro, com a frase “O Santo Padre voltou à casa do Pai.”
O luto e a comoção mundial
Logo após o anúncio, os sinos de Roma tocaram em todas as igrejas, e milhões de pessoas começaram a dirigir-se ao Vaticano. A Praça de São Pedro tornou-se um imenso espaço de oração, onde fiéis de todas as idades, credos e nacionalidades rezavam e cantavam hinos em honra do Papa.
Entre 4 e 7 de abril de 2005, o corpo de João Paulo II foi exposto à veneração pública na Basílica de São Pedro. Estima-se que mais de 4 milhões de peregrinos passaram diante do seu corpo, muitos após horas ou dias de espera. As filas estendiam-se por quilómetros pelas ruas de Roma, num dos maiores movimentos de devoção popular já registados.
O funeral do Papa João Paulo II
O funeral foi celebrado na Praça de São Pedro a 8 de abril de 2005, presidido pelo cardeal Joseph Ratzinger, então Decano do Colégio Cardinalício. Estiveram presentes mais de 200 chefes de Estado e líderes religiosos, tornando o evento um dos maiores encontros políticos e espirituais da história moderna.
Durante a homilia, Ratzinger emocionou o mundo com as palavras:
“Podemos ter a certeza de que o nosso amado Papa está agora na janela da casa do Pai, a ver-nos e a abençoar-nos.”
Após a Missa exequial, o corpo do Papa foi colocado num caixão de cipreste, posteriormente encerrado dentro de outro de chumbo e, por fim, num terceiro de carvalho, segundo a tradição papal. O féretro foi então sepultado nas Grutas Vaticanas, junto ao túmulo de São Pedro, local onde permaneceu até 2011, quando foi trasladado para uma capela lateral da Basílica de São Pedro, após a sua beatificação.
O impacto global do falecimento
O falecimento de João Paulo II teve um impacto planetário. Governos, líderes religiosos e instituições de todo o mundo prestaram homenagem ao Papa que, ao longo do seu pontificado, desempenhou papel decisivo na queda do comunismo na Europa de Leste, no aprofundamento do diálogo inter-religioso e na defesa intransigente da dignidade humana.
O funeral foi transmitido para mais de 200 países, com uma audiência estimada de 2 mil milhões de pessoas — um dos eventos mais assistidos da história. Milhares de cartazes e cânticos espontâneos ecoavam na Praça de São Pedro, entre eles o comovente grito:
“Santo subito!” (Santo já!),
manifestando o desejo popular imediato de canonização.
O processo de beatificação e canonização
Respondendo a esse clamor, o seu sucessor, Papa Bento XVI, dispensou o prazo habitual de cinco anos e iniciou o processo de beatificação apenas três meses após a morte, a 28 de junho de 2005.
João Paulo II foi beatificado a 1 de maio de 2011, domingo da Divina Misericórdia — festa instituída por ele próprio em 2000 —, e canonizado a 27 de abril de 2014 pelo Papa Francisco, numa cerimónia histórica em que também esteve presente Bento XVI, o Papa emérito.
O legado espiritual e histórico
João Paulo II foi um dos pontífices mais influentes da história contemporânea. Durante o seu pontificado (1978–2005):
- realizou 104 viagens apostólicas internacionais, visitando 129 países;
- promulgou o Catecismo da Igreja Católica (1992);
- nomeou mais de 230 cardeais;
- e foi o primeiro Papa a entrar numa sinagoga e numa mesquita, abrindo caminhos de diálogo e reconciliação.
O seu lema pontifício — Totus Tuus (“Todo teu”, dirigido a Maria) — refletiu o seu profundo marianismo e a confiança total na providência divina.
Conclusão — Um Papa para a eternidade
O falecimento do Papa João Paulo II não foi apenas o fim de um pontificado, mas o encerramento de uma era. A sua vida, marcada pela dor, pela fé inabalável e pela dedicação incansável à humanidade, continua a inspirar milhões de católicos em todo o mundo.
Mais do que um líder espiritual, João Paulo II foi um testemunho vivo da cruz e da ressurreição, um homem que enfrentou o sofrimento com serenidade e fez da sua morte um último ato de evangelização.
Hoje, o seu túmulo na Basílica de São Pedro é lugar de peregrinação constante, onde fiéis de todo o mundo se ajoelham para rezar ao “Papa que veio de longe”, mas que se tornou, verdadeiramente, o Papa de todos.
“Não tenhais medo! Abri, antes, escancarai as portas a Cristo!”
— São João Paulo II, homilia de início de pontificado, 22 de outubro de 1978