A atribuição do Prémio Nobel da Paz a Madre Teresa de Calcutá, a 17 de outubro de 1979, marcou um dos momentos mais emblemáticos da história contemporânea da Igreja e da humanidade. O reconhecimento internacional à pequena religiosa albanesa, que dedicou a vida aos mais pobres entre os pobres, transformou-se num tributo à força silenciosa da caridade e da fé vivida em ação.
O contexto da atribuição do Prémio
Na década de 1970, o mundo vivia um período de fortes tensões políticas e sociais: a Guerra Fria, a pobreza extrema em muitas regiões, e uma crescente indiferença perante o sofrimento humano. Neste cenário, Madre Teresa de Calcutá (1910–1997), fundadora das Missionárias da Caridade, surgia como um exemplo luminoso de serviço desinteressado e amor incondicional.
O Comité Nobel norueguês, ao anunciar a sua escolha, justificou o prémio como um reconhecimento “ao trabalho em prol da humanidade sofredora”, destacando que Madre Teresa, “com o seu amor ativo pelos mais pobres, trouxe ajuda aos que a sociedade esqueceu”.
A religiosa, que sempre viveu sem luxo e sem ambições pessoais, aceitou o prémio não em nome próprio, mas “em nome dos pobres”, como afirmou no seu discurso de aceitação em Oslo.
A cerimónia em Oslo
A cerimónia decorreu a 17 de outubro de 1979, no Auditório da Universidade de Oslo, presidida pelo rei Olavo V da Noruega. Madre Teresa, vestida com o seu simples sari branco de bordas azuis, recusou o tradicional banquete oferecido aos laureados e pediu que o valor correspondente fosse distribuído aos necessitados de Calcutá.
No seu discurso, pronunciado com humildade e profunda convicção cristã, Madre Teresa declarou:
“O maior destruidor da paz hoje é o aborto, porque é uma guerra direta, uma morte direta — um assassínio cometido pela própria mãe. Se aceitamos que uma mãe pode matar o seu próprio filho, como podemos dizer às outras pessoas para não se matarem umas às outras?”
Estas palavras ressoaram fortemente em todo o mundo, revelando a dimensão espiritual e moral do seu compromisso com a vida humana, em todas as suas fases e condições.
O significado do Nobel para a sua missão
O Prémio Nobel da Paz trouxe uma visibilidade sem precedentes à obra das Missionárias da Caridade, fundadas em 1950 em Calcutá. A congregação, que começara com apenas uma dúzia de irmãs, já contava com centenas de casas e comunidades em vários países.
Graças ao impacto mediático do prémio, Madre Teresa conseguiu ampliar a sua ação humanitária, abrindo novas casas em regiões marcadas pela guerra, pela pobreza e pela exclusão.
Contudo, para ela, o reconhecimento não era motivo de glória pessoal: “Não mereço este prémio. Recebo-o em nome de todos os pobres e famintos, dos doentes e abandonados, de todos os que são amados por Deus, mas que ninguém ama.”
Um testemunho que ultrapassou fronteiras
O discurso de Madre Teresa em Oslo é considerado um dos mais poderosos na história dos Prémios Nobel da Paz. Longe da retórica política, falou com simplicidade evangélica sobre o amor, a família, a oração e o valor de cada vida humana.
Ela recordou que a paz começa em casa: “Talvez não possamos fazer grandes coisas, mas podemos fazer pequenas coisas com grande amor. O começo do amor é o sorriso.”
Este tom profundamente humano e espiritual tocou pessoas de todas as religiões e convicções. Mesmo os críticos reconheceram na figura de Madre Teresa um símbolo universal da compaixão.
Impacto e legado
O Nobel consolidou o papel de Madre Teresa como uma das vozes morais mais respeitadas do século XX. Nos anos seguintes, a sua presença foi requisitada em crises humanitárias, zonas de guerra e regiões devastadas pela fome. O prémio não mudou o seu estilo de vida, continuou a viver com austeridade, partilhando a vida dos mais pobres.
Até à sua morte, a 5 de setembro de 1997, Madre Teresa manteve o mesmo espírito de serviço que a guiou desde jovem: ver em cada pessoa o rosto de Cristo sofredor.
O eco espiritual do Prémio Nobel
Para a Igreja, o Prémio Nobel da Paz de 1979 não foi apenas um reconhecimento humanitário, mas também um testemunho do poder transformador do Evangelho vivido concretamente. O Papa João Paulo II, que sempre teve profunda admiração por Madre Teresa, afirmou pouco depois:
“Ela é um sinal do amor de Cristo, uma chama acesa nas trevas do mundo moderno.”
Em 2003, foi beatificada pelo mesmo pontífice e, em 4 de setembro de 2016, canonizada pelo Papa Francisco, recebendo o título de Santa Teresa de Calcutá.
Conclusão
O Prémio Nobel da Paz de 1979 não alterou a vida de Madre Teresa, apenas a amplificou aos olhos do mundo. Continuou a fazer o que sempre fizera: servir, consolar, cuidar e amar.
Hoje, o seu exemplo continua a inspirar milhões de pessoas, religiosas ou não, a viverem a caridade com simplicidade e coragem. A pequena mulher de Calcutá mostrou que a paz começa em gestos concretos de amor — “um sorriso, uma mão estendida, uma palavra de ternura” — e que a santidade se constrói nas pequenas coisas, feitas com grande amor.