Entre as mais marcantes manifestações marianas reconhecidas pela Igreja no século XX, encontram-se as aparições de Nossa Senhora de Akita, no Japão. Num país de maioria não cristã, a Virgem Maria escolheu um pequeno convento em Akita para transmitir uma mensagem profunda de oração, reparação e penitência, que ecoa com força ainda hoje.
O Contexto: o Japão e o Convento de Akita
As aparições ocorreram na cidade de Akita, no norte do Japão, numa pequena comunidade religiosa chamada Instituto das Servas da Eucaristia, situada perto da cidade de Yuzawadai.
A protagonista dos acontecimentos foi Irmã Agnes Katsuko Sasagawa, uma religiosa japonesa nascida em 1931, que, após ter sofrido uma doença grave e a perda total da audição, ingressou no convento em 1973.
A devoção à Eucaristia e à Virgem Maria eram os pilares espirituais daquela pequena comunidade. Foi nesse ambiente de oração e silêncio que começaram os acontecimentos extraordinários que viriam a comover o mundo católico.
O Início das Aparições (1973)
Os fenómenos começaram a 12 de junho de 1973, quando Irmã Agnes viu uma luz intensa a irradiar do sacrário da capela e observou seres semelhantes a anjos em adoração. Pouco depois, começaram as mensagens da Virgem Maria, transmitidas através de uma estátua de madeira da Mãe de Deus.
A primeira mensagem ocorreu a 6 de julho de 1973. Nossa Senhora pediu à Irmã Agnes que rezasse com fervor e fizesse reparação pelos pecados da humanidade, acrescentando:
“Reza em reparação pelos pecados dos homens. Muitas almas estão a caminho da perdição. Desejo que tu recites o Rosário e que ofereças reparação pelas ofensas cometidas contra o Coração de meu Filho.”
As Mensagens de Nossa Senhora
As mensagens de Akita foram três, transmitidas entre julho e outubro de 1973. Em todas, Maria sublinha temas profundamente evangélicos: oração, sacrifício, reparação e fidelidade à Igreja.
1. Primeira mensagem (6 de julho de 1973)
A Virgem pediu oração e penitência pela salvação das almas, pedindo também a devoção ao Coração Eucarístico de Jesus.
2. Segunda mensagem (3 de agosto de 1973)
Nossa Senhora alertou para as provações da Igreja, pedindo que as religiosas e os fiéis rezassem pela conversão dos pecadores e pela santificação do clero. Disse ainda:
“Muitas almas estão ferindo o Coração de meu Filho… Desejo almas que consolem o Senhor.”
3. Terceira mensagem (13 de outubro de 1973)
Nesta data — curiosamente o mesmo dia do Milagre do Sol em Fátima (13 de outubro de 1917) —, Nossa Senhora transmitiu a mensagem mais grave, comparável em conteúdo ao Terceiro Segredo de Fátima:
“Se os homens não se arrependerem e não melhorarem, o Pai infligirá à humanidade um castigo terrível. Será um castigo maior do que o dilúvio, como nunca se viu antes. Fogo cairá do céu e aniquilará uma grande parte da humanidade…”
Nossa Senhora concluiu com uma exortação à esperança e à oração do Rosário como meio de salvação:
“O Rosário é a arma contra o mal. Reza-o em reparação pelos pecados e pela conversão dos pecadores.”
O Milagre da Estátua: As Lágrimas de Nossa Senhora
Entre 4 de janeiro de 1975 e 15 de setembro de 1981, a estátua de madeira de Nossa Senhora — talhada por um escultor budista e representando Maria com os braços cruzados sobre o peito — chorou 101 vezes diante de numerosas testemunhas, incluindo sacerdotes, religiosas e até pessoas não católicas.
As lágrimas foram recolhidas e analisadas cientificamente por peritos, que confirmaram tratar-se de substância humana autêntica (com composição idêntica à das lágrimas).
Os acontecimentos foram filmados e documentados, tornando Akita um dos fenómenos marianos mais bem comprovados da era moderna.
O Reconhecimento da Igreja
Após longos anos de estudo e prudente discernimento, o bispo local, Dom John Shojiro Ito, da diocese de Niigata, declarou em 22 de abril de 1984:
“Não existe erro doutrinal nem moral nas mensagens de Akita. Reconheço oficialmente a autenticidade dos acontecimentos e autorizo a veneração de Nossa Senhora de Akita.”
O Cardeal Joseph Ratzinger (futuro Papa Bento XVI), então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, teria confirmado informalmente que as mensagens de Akita são “uma continuação da mensagem de Fátima”.
Em 2020, a Irmã Agnes, já idosa, declarou ter recebido uma nova mensagem pedindo “oração, penitência e coragem”, precisamente antes do início da pandemia de Covid-19, o que reacendeu o interesse mundial pelas aparições.
Significado Espiritual das Mensagens
A mensagem de Akita resume-se em três apelos fundamentais:
- Conversão e arrependimento sincero dos pecados.
- Oração fervorosa do Rosário e adoração eucarística.
- Reparação pelos pecados cometidos contra o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.
Tal como em Fátima, Maria adverte o mundo sobre os perigos do afastamento de Deus, mas ao mesmo tempo oferece esperança, lembrando que a oração pode mudar o destino da humanidade.
Nossa Senhora de Akita Hoje
O local das aparições tornou-se um santuário mariano e eucarístico, visitado por peregrinos de todo o mundo. O Japão, país de minoria cristã, recebeu através de Akita uma mensagem universal de fé e reconciliação.
A estátua milagrosa permanece no convento, onde é venerada com profunda devoção. O dia 6 de julho é celebrado como festa de Nossa Senhora de Akita, sendo cada vez mais difundida entre os fiéis católicos, especialmente os devotos de Nossa Senhora de Fátima.
Conclusão
A história de Nossa Senhora de Akita mostra que o amor materno de Maria ultrapassa fronteiras e culturas. No coração do Japão, um país marcado pelo silêncio e pela disciplina, a Mãe de Deus falou de forma simples e direta, chamando os seus filhos à oração e à conversão.
Hoje, as suas palavras soam mais atuais do que nunca: num mundo em crise espiritual, Maria continua a apontar-nos o caminho seguro — a oração, a penitência e a fé em Jesus Cristo.
“Rezem muito o Rosário. Eu sou a vossa Mãe e desejo salvar-vos das desgraças que se aproximam. Confiai no meu Coração Imaculado, que será o vosso refúgio e o caminho que vos conduzirá a Deus.”