No dia 11 de outubro de 1954, o Papa Pio XII publicou a encíclica Ad Caeli Reginam (“À Rainha do Céu”), um documento que ficou marcado na história da Igreja por definir de forma solene a doutrina da Realeza de Maria e por instituir oficialmente a festa litúrgica de Maria Rainha.
Este documento foi promulgado no auge do pontificado de Pio XII, num período em que a Igreja, após os horrores da Segunda Guerra Mundial e já em plena Guerra Fria, buscava reafirmar a esperança cristã e a confiança na proteção da Virgem Maria. Apenas quatro anos antes, em 1950, o mesmo Papa havia proclamado solenemente o dogma da Assunção de Maria (constituição apostólica Munificentissimus Deus), reforçando a centralidade da Mãe de Deus na fé católica.
A encíclica Ad Caeli Reginam
Na encíclica, Pio XII expõe fundamentos bíblicos, patrísticos e teológicos para declarar Maria como Rainha do Céu e da Terra.
Principais pontos:
- Fundamentos bíblicos
- O Papa recorda que Maria, como Mãe do Rei dos Reis (Cristo), participa de modo especial na realeza do Filho.
- A tradição cristã vê no Apocalipse (12,1) — “uma Mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça” — uma referência à glorificação real de Maria.
- Tradição da Igreja
- Desde os primeiros séculos, os Padres da Igreja chamaram Maria de “Senhora” e “Rainha”.
- Ao longo da Idade Média e do Barroco, multiplicaram-se invocações marianas que lhe atribuíam a realeza.
- Razão teológica
- Maria é Rainha não apenas por ser Mãe de Jesus, mas também pela sua singular cooperação na obra da Redenção.
- A sua maternidade espiritual sobre todos os fiéis dá-lhe uma autoridade maternal e real.
Instituição da festa da Realeza de Maria
A instituição oficial da festa teve origem em movimentos de fiéis e congressos marianos, especialmente um movimento liderado por Maria Desideri nos anos 1930, que pedia o reconhecimento litúrgico da realeza de Maria.
Na mesma encíclica, Pio XII instituiu oficialmente a festa litúrgica de Maria Rainha, a celebrar-se todos os anos a 31 de maio (na altura, data que concluía o mês tradicionalmente dedicado a Maria).
Mais tarde, após a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI transferiu a celebração para o dia 22 de agosto, oitava da solenidade da Assunção de Maria, realçando assim a ligação entre a sua glorificação no Céu e a sua realeza.
Significado espiritual e pastoral
Pio XII apresentava a proclamação da Realeza de Maria como um chamado à confiança e à oração, sobretudo em tempos de crise e incerteza:
- Pedia aos fiéis que se colocassem sob a proteção da Rainha do Céu diante das ameaças de guerra e de divisões no mundo.
- Relembrava que a devoção a Maria não diminuía a centralidade de Cristo, mas antes conduzia a Ele.
- Indicava Maria como modelo de serviço, amor maternal e intercessão poderosa junto de Deus.
Atualidade da Ad Caeli Reginam
A festa de Maria Rainha continua a ser celebrada em toda a Igreja, reforçando a dimensão espiritual da maternidade universal de Maria e a sua participação no reinado de Cristo.
O ensinamento de Pio XII permanece atual porque:
- Relembra que Maria não é apenas um modelo de humildade, mas também de autoridade espiritual.
- A sua realeza não é de poder humano, mas de serviço, amor e intercessão pelos filhos da Igreja.
- Num mundo ainda marcado por conflitos, a Igreja continua a invocá-la como Rainha da Paz.
Conclusão
A encíclica Ad Caeli Reginam de Pio XII, de 11 de outubro de 1954, representa um marco na devoção mariana. Ao proclamar Maria como Rainha do Céu e da Terra e instituir a sua festa litúrgica, o Papa não apenas confirmou uma tradição antiga, mas deu-lhe novo vigor num tempo de desafios históricos.
Assim, a Igreja reconhece que a Virgem Maria, associada intimamente à obra de Cristo, continua a ser para os fiéis um sinal de esperança, proteção e intercessão, a quem todos podem recorrer com confiança filial.