As Aparições de Pontevedra, ocorridas em Espanha entre 1925 e 1926, constituem uma das mais importantes continuações da mensagem de Fátima, revelando a dimensão reparadora do Imaculado Coração de Maria e dando origem à devoção dos Cinco Primeiros Sábados.
Estas aparições, menos conhecidas que as de 1917, foram dirigidas à Irmã Lúcia de Jesus, a vidente de Fátima, e completam o ciclo de revelações iniciadas na Cova da Iria, ao explicarem de forma concreta o desejo de Nossa Senhora: a reparação pelos pecados cometidos contra o seu Coração Imaculado.
Contexto histórico e espiritual
Depois das aparições de Fátima, em 1917, Lúcia dos Santos, a mais velha dos três pastorinhos, entrou em 1921 no colégio das Doroteias de Vilar, no Porto, sob o nome de Lúcia de Jesus.
Em 1925, foi enviada para o convento da mesma congregação em Pontevedra, uma cidade galega situada perto de Santiago de Compostela, onde iniciou o noviciado.
A vida religiosa de Lúcia caracterizava-se por um intenso espírito de oração, recolhimento e obediência. Apesar de manter silêncio sobre as aparições de Fátima, continuava a sentir no coração o apelo que a Virgem lhe havia deixado em 1917: a devoção ao seu Imaculado Coração.
Foi neste contexto que Nossa Senhora e o Menino Jesus voltaram a aparecer-lhe, dando continuidade à missão confiada em Fátima.
A primeira aparição – 10 de dezembro de 1925
Na tarde de 10 de dezembro de 1925, a Irmã Lúcia encontrava-se na sua cela no convento das Doroteias, em Pontevedra, quando teve uma visão extraordinária.
A própria Irmã Lúcia relatou o acontecimento nestes termos:
“Apareceu-me a Santíssima Virgem, e junto dela, suspenso numa nuvem luminosa, o Menino Jesus. A Santíssima Virgem pôs-me a mão no ombro e mostrou-me o Coração cercado de espinhos que segurava na outra mão. O Menino disse:
‘Tem compaixão do Coração de tua Santíssima Mãe, coberto de espinhos que os homens ingratos cravam a todo o momento, sem haver quem faça ato de reparação para os tirar.’”
Logo depois, Nossa Senhora acrescentou:
“Olha, minha filha, o meu Coração rodeado de espinhos que os homens ingratos cravam continuamente com blasfémias e ingratidões.
Tu, ao menos, procura consolar-me e diz que todos aqueles que, durante cinco meses consecutivos, no primeiro sábado, se confessarem, receberem a Sagrada Comunhão, rezarem o Terço e me fizerem companhia durante quinze minutos, meditando nos quinze mistérios do Rosário com o fim de me desagravar, eu prometo assisti-los na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação das suas almas.”
Esta mensagem constitui o fundamento da devoção reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, diretamente ligada à devoção ao Imaculado Coração de Maria pedida em Fátima.
O pedido de reparação – sentido e promessa
O pedido da Virgem em Pontevedra é profundamente teológico e espiritual.
Os “cinco primeiros sábados” foram estabelecidos em reparação às cinco ofensas principais cometidas contra o Coração Imaculado de Maria, que a própria Lúcia mais tarde explicou, segundo revelação divina:
- As blasfémias contra a Imaculada Conceição;
- As blasfémias contra a virgindade de Maria;
- As blasfémias contra a maternidade divina de Maria, recusando-a como Mãe dos homens;
- As blasfémias dos que procuram publicamente infundir nos corações das crianças a indiferença, o desprezo ou o ódio contra Maria;
- As ofensas dos que a ultrajam diretamente nas suas imagens santas.
Nossa Senhora, ao pedir esta devoção, não se apresenta como uma Mãe ofendida por motivos pessoais, mas como Mãe preocupada com a salvação das almas, desejando que se repare o mal causado à graça e à fé dos fiéis.
A promessa da salvação associada a esta prática — “assistir na hora da morte com todas as graças necessárias” — é um sinal da misericórdia divina concedida por meio da intercessão de Maria.
A segunda aparição – 15 de fevereiro de 1926
Pouco mais de dois meses depois, a 15 de fevereiro de 1926, Lúcia teve uma nova aparição, desta vez no pátio do convento, onde se encontrava a despejar um balde de lixo.
O Menino Jesus apareceu-lhe e perguntou:
“Cumpriste o que a minha Mãe te pediu?”
Lúcia expôs-lhe as dificuldades que algumas pessoas encontravam em confessar-se no próprio sábado, e o Senhor respondeu:
“Pode ser feita a confissão dentro de oito dias; e, se alguém se esquecer, pode fazê-la depois, desde que esteja em graça e tenha a intenção de reparar o Coração Imaculado de Maria.”
Com esta aparição, Jesus confirmou e precisou as condições práticas da devoção, mostrando que o essencial é a intenção reparadora e o amor filial à sua Mãe.
A confirmação posterior e a ligação a Tuy
A mensagem de Pontevedra seria novamente confirmada em Tuy, também na Galiza, em 13 de junho de 1929, quando Lúcia teve a célebre visão da Santíssima Trindade, durante a qual Nossa Senhora lhe pediu a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração.
Assim, as aparições de Pontevedra e Tuy são continuação direta das aparições de Fátima, completando o pedido mariano iniciado em 1917:
- A devoção reparadora dos Cinco Primeiros Sábados (Pontevedra);
- A consagração da Rússia (Tuy).
Ambas expressam o mesmo desígnio divino: a salvação das almas e o triunfo do Imaculado Coração de Maria.
A devoção dos Cinco Primeiros Sábados – prática e difusão
A prática pedida por Nossa Senhora é simples, mas profundamente espiritual.
Consiste em cumprir, durante cinco primeiros sábados consecutivos, os seguintes atos, com intenção reparadora:
- Confissão sacramental, podendo ser feita alguns dias antes ou depois;
- Comunhão eucarística;
- Recitação do Terço (Rosário);
- Meditação de quinze minutos sobre os mistérios do Rosário, fazendo companhia a Nossa Senhora.
Esta devoção foi aprovada por diversos bispos e recomendada por papas, incluindo Pio XII, que em 1942 consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria.
Em Portugal, e em muitas outras nações, a prática dos Cinco Primeiros Sábados tornou-se expressão viva do amor e reparação ao Coração de Maria, sendo promovida em paróquias e movimentos marianos ligados à mensagem de Fátima.
O significado espiritual das aparições de Pontevedra
As aparições de Pontevedra sublinham a dimensão reparadora da devoção mariana.
Em Fátima, Maria pedira:
“Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração.”
Em Pontevedra, essa devoção é concretizada: através da oração, da confissão, da comunhão e da meditação, o fiel participa na reparação do pecado e na conversão das almas.
A espiritualidade de Pontevedra é, portanto, profundamente cristocêntrica e eucarística, pois conduz o crente ao sacramento da reconciliação e à comunhão, vividas em união com Maria.
Pontevedra e a continuidade da mensagem de Fátima
Enquanto Fátima fala ao mundo da necessidade de conversão, oração e penitência, Pontevedra revela o modo concreto de responder a esse apelo: pela reparação amorosa.
Estas aparições mostram que Maria continua a agir na história, chamando os fiéis à santidade e ao amor misericordioso de Deus.
A devoção dos Cinco Primeiros Sábados é, assim, um meio de salvação e intercessão, que prolonga no coração da Igreja a mensagem profética de Fátima.
A atualidade da mensagem de Pontevedra
Hoje, quase um século depois, as aparições de Pontevedra continuam a ser de grande atualidade.
Num mundo marcado pela indiferença religiosa e pela perda do sentido do pecado, a prática dos Cinco Primeiros Sábados é um caminho de reparação, purificação interior e reconciliação com Deus.
É também um convite a unir-se a Maria na sua compaixão por todos os pecadores e a colaborar no seu desejo maternal:
“Que as almas não se percam, que o mundo se converta, e que o meu Coração Imaculado triunfe.”
Conclusão
As Aparições de Pontevedra representam o elo espiritual e teológico entre Fátima e a devoção universal ao Imaculado Coração de Maria.
Elas revelam o amor compassivo da Mãe de Deus, que procura consolar-se e salvar os seus filhos através da reparação, da oração e da conversão.
Pontevedra é, pois, o coração silencioso de Fátima, onde a Mãe Santíssima completa a sua mensagem com o convite à participação ativa na redenção.
“Ao Imaculado Coração de Maria, confio a minha alma, o meu coração e o meu futuro,
para que, purificados pela graça, possamos viver e morrer no amor de Deus.”