O Corpo Nacional de Escutas – Escutismo Católico Português (CNE) é a maior organização juvenil de Portugal e uma das mais importantes no contexto do escutismo católico mundial. Fundado em 27 de maio de 1923, o CNE nasceu com o objetivo de formar jovens segundo os princípios do escutismo, integrando a espiritualidade cristã e os valores católicos na sua missão educativa.
Contexto histórico
O escutismo foi criado em 1907 por Robert Baden-Powell, um general britânico que viu na educação ao ar livre e na vida em patrulha uma forma de desenvolver o caráter, a responsabilidade e a cidadania nos jovens. Em pouco tempo, o movimento expandiu-se por todo o mundo, chegando a Portugal em 1913, com a fundação da Associação dos Escoteiros de Portugal (AEP), de caráter interconfessional.
Contudo, a necessidade de um escutismo alinhado com a doutrina da Igreja Católica levou à criação de um movimento próprio. Inspirado pelo sucesso do Escutismo Católico Francês, o cónego Fernando de Sousa, juntamente com um grupo de sacerdotes e leigos, fundou o Corpo Nacional de Escutas em 1923. A organização recebeu o apoio da Igreja Católica e obteve o reconhecimento oficial do Patriarcado de Lisboa e das autoridades eclesiásticas.
A fundação do CNE
A fundação oficial do Corpo Nacional de Escutas ocorreu a 27 de maio de 1923, com a criação do primeiro agrupamento na Paróquia de São Nicolau, em Lisboa. O CNE adotou os princípios do escutismo tradicional, mas integrando uma forte dimensão cristã, com a espiritualidade e os valores do Evangelho como parte essencial da formação dos seus membros.
A partir de então, o movimento cresceu rapidamente, expandindo-se para várias dioceses do país e contando com o apoio da Igreja. O CNE foi reconhecido como movimento educativo católico, promovendo não só atividades escutistas como também uma forte formação cristã para os seus membros.
Os valores e a identidade do CNE
O Corpo Nacional de Escutas segue os princípios do escutismo mundial, definidos por Baden-Powell, mas adaptados à fé católica. O CNE assenta nos seguintes pilares:
- Fé e espiritualidade – A vivência do escutismo é orientada por valores cristãos, promovendo a participação ativa na Igreja.
- Serviço e compromisso – O lema escutista “Sempre Alerta para Servir” reflete o espírito de dedicação aos outros e à comunidade.
- Natureza e aventura – O contacto com a natureza é um dos principais meios educativos do escutismo, incentivando a responsabilidade ambiental.
- Trabalho em equipa e liderança – A organização em patrulhas e agrupamentos desenvolve o sentido de responsabilidade e liderança nos jovens.
A estrutura do CNE inclui várias secções, organizadas de acordo com as faixas etárias:
- Lobitos (6-10 anos)
- Exploradores/Moços (10-14 anos)
- Pioneiros/Marinheiros (14-18 anos)
- Caminheiros (18-22 anos)
Crescimento e reconhecimento oficial
Desde a sua fundação, o CNE expandiu-se rapidamente por todo o país. Em 1929, recebeu o reconhecimento oficial do Estado Português como organização de utilidade pública. No mesmo ano, foi admitido na Federação Escutista Internacional.
Com a ascensão do Estado Novo, o regime tentou integrar o CNE na sua estrutura ideológica, mas a organização manteve-se fiel à sua missão católica e independente. Após o Concílio Vaticano II, o CNE reforçou o seu compromisso com a educação cristã dos jovens, tornando-se um dos principais movimentos juvenis da Igreja em Portugal.
Impacto e legado
Ao longo dos seus mais de 100 anos de história, o CNE tem desempenhado um papel fundamental na formação de milhares de jovens, promovendo valores como a fraternidade, o serviço ao próximo e a vivência cristã. Atualmente, o Corpo Nacional de Escutas conta com mais de 70.000 membros, sendo a maior organização juvenil de Portugal.
Além das atividades escutistas, o CNE tem estado envolvido em inúmeras iniciativas sociais, ambientais e religiosas, incluindo a Jornada Mundial da Juventude, os encontros nacionais de escuteiros e as campanhas de solidariedade.
O Corpo Nacional de Escutas mantém-se, até hoje, um dos pilares da juventude católica em Portugal, transmitindo a fé e os valores cristãos através do método escutista, que continua a inspirar novas gerações.