Santa Teresa de Jesus (Ávila, 1515 – Alba de Tormes, 1582) é um dos maiores nomes da mística cristã e a primeira mulher proclamada Doutora da Igreja. Mesmo após a sua morte, os sinais ligados à sua santidade continuaram a impressionar gerações — entre eles, a preservação extraordinária do corpo, verificada em três ocasiões documentadas: 1750, 1914 e 28 de agosto de 2024. Estas aberturas serviram não só para confirmar a incorrupção como também para estudos, transladações e veneração pública das suas relíquias.
Contexto: o sepultamento e a tradição da incorrupção
Santa Teresa morreu em 4 de outubro de 1582 no convento do Carmelo em Alba de Tormes. Foi sepultada no local e, ao longo dos séculos, a sua fama de santidade levou a que o seu túmulo fosse aberto em situações pontuais para transladação, recolha de relíquias e verificação canónica. A Igreja, com prudência, sempre tratou estes factos como sinais possíveis da santidade, sem transformá-los em objeto de espetáculo, e submeteu investigações canónicas quando necessário.
1) A primeira abertura documentada: 1750
A primeira referência credível e amplamente citada acerca de uma abertura do túmulo de Santa Teresa data de 1750. Nos relatos preservados pela Ordem do Carmelo e por cronistas locais, o corpo foi encontrado em estado notável de preservação — descrito como “inteiro e cheiroso” — e houve recolha de relíquias e actuações litúrgicas de veneração. Esta abertura faz parte da memória histórica das comunidades carmelitas da região e foi citada mais tarde nos relatórios sobre aberturas subsequentes.
2) A segunda abertura: 1914 — confirmação cem anos antes do século XXI
A 16 de agosto de 1914, o túmulo voltou a ser aberto. As actas e reportagens da altura — e posteriores resumos diocesanos — referem que o corpo foi novamente encontrado em estado de preservação notável. A Diocese de Ávila declarou que o corpo permanecia “completamente incorrupto” nessa ocasião. A abertura de 1914 passou a ser a referência para o século XX e o documento-memória que os carmelitas invocaram nas avaliações posteriores.
3) A terceira abertura: 28 de agosto de 2024 — investigação científica e verificação atual
A mais recente abertura ocorreu a 28 de agosto de 2024, em Alba de Tormes. Desta vez, o acto foi preparado como parte de um estudo científico e canónico: técnicos e peritos médicos foram convidados a examinar as relíquias para estudos de conservação, análise antropológica e radiografias, sob supervisão e autorização da Ordem do Carmelo Descalço e com comunicação à Santa Sé.
As reportagens e comunicados oficiais divulgados após a cerimónia indicam que:
- o corpo permaneceu visivelmente preservado, em condições muito semelhantes às observadas em 1914;
- foram realizadas fotografias, radiografias e exames não invasivos;
- o acto foi acompanhado de cerimonial religioso e do rigor científico exigido para relicários e investigação de património sagrado.
Fontes jornalísticas e católicas confirmaram que a iniciativa tem também um objectivo canónico: consolidar o estatuto das relíquias, garantir métodos de preservação e preparar exposições controladas para veneração pública (por exemplo, em 2025 houve períodos de exposição para veneração conforme anúncios da diocese).
O que se encontrou e o que isso significa
Em todas as três aberturas registadas (1750, 1914, 2024) a observação constante foi a preservação anómala do corpo face ao tempo decorrido desde 1582. A descrição de “incorrupção” no léxico tradicional da Igreja refere-se à conservação do corpo sem a decomposição habitual. Nos relatórios modernos, os resultados foram documentados por imagens e exames complementares; as conclusões científicas detalhadas (por exemplo, relativas a causas naturais de conservação) têm vindo a ser preparadas por peritos e aguardam publicação completa. Enquanto isso, a Igreja e a Ordem manifestaram atitude de ação reverente e de abertura ao diálogo científico.
Relíquias destacadas: coração e outras partes
Historicamente, além da verificação global do corpo, partes específicas (ou “relíquias”) da Santa foram separadas para veneração — prática habitual na tradição católica. Fontes assinalam que, em ocasiões anteriores, se conservaram e expuseram relicários com fragmentos ou elementos do hábito, bem como o coração em contexto de devoção (a tradição carmelita preserva memoriais e pequenas relíquias para culto privado e público, sempre sob regras e supervisão). Nos estudos recentes (2024) a preocupação dos peritos passou também pela conservação dessas peças e pela documentação científica.
Prudência da Igreja e investigação científica
A Igreja tem tratado estes factos com prudência: a incorrupção, quando verificada, é considerada «sinal» possível de santidade, mas não é, por si, fundamento exclusivo para canonização (que exige processo canónico e verificação de milagres segundo outras normas). No caso de Teresa, a sua santidade já estava reconhecida (canonizada em 1622; Doutora da Igreja em 1970). As aberturas de túmulo serviram sobretudo para confirmar a veneração, estudar conservação e organizar a exposição controlada das relíquias para os fiéis. As iniciativas científicas recentes (2024–2025) refletem também a colaboração entre ciência e fé para preservar o património sacro.
Cronologia resumida
- 4 out. 1582 — morte de Santa Teresa em Alba de Tormes.
- 1750 — primeira abertura documentada do túmulo; relato de corpo “inteiro” e perfume.
- 16–23 ago. 1914 — segunda abertura documentada; diocese relata corpo “completamente incorrupto”.
- 28 ago. 2024 — terceira abertura para estudo científico e canónico; confirmação visual da preservação em estado similar ao de 1914; exames e radiografias realizados; preparação de veneração pública em 2025.
Conclusão
A preservação do corpo de Santa Teresa não é espetáculo: é convite à contemplação. Se a incorrupção é sinal, o sinal aponta para algo maior — uma vida que se consumiu em amizade com Deus, uma carne que foi instrumento de graça. Para os fiéis, isto não substitui a prática da fé; antes, a aprofunda: leitura de Teresa, oração, Eucaristia e caridade tornam-se respostas concretas ao testemunho que o corpo incorrupto recorda.
A Igreja, nessa linha, tem chamado à veneração reverente e ao discernimento: investigar, preservar e — sempre que se exponham relíquias — fazê-lo com finalidade espiritual e catequética, não turística.