Neste dia, em 1858, tinha origem em Lourdes a procissão mariana com velas

A Procissão das Velas em Lourdes, França, é um dos momentos mais emblemáticos e comoventes da espiritualidade mariana em todo o mundo. Realizada diariamente desde o século XIX, esta procissão noturna é um símbolo de fé viva, esperança e oração comunitária, reunindo milhões de peregrinos de todas as nações que, com velas acesas nas mãos, caminham em silêncio ou em canto, invocando a Virgem Maria sob o título de Imaculada Conceição.

Origens da procissão

As origens da Procissão das Velas remontam às aparições de Nossa Senhora a Santa Bernadette Soubirous, em 1858, na Gruta de Massabielle. Durante a 3ª aparição, a 18 de fevereiro de 1858, quando uma das pessoas que acompanhava Bernadette levava uma vela. Depois disso, a próprio Bernadette passou a vir também sempre com uma vela, com o próprio povo de Lourdes a responder a este pedido, reunindo-se à noite, com velas acesas, como expressão de fé e devoção.

Com o tempo, este gesto espontâneo de oração coletiva foi-se transformando numa procissão regular, tendo começado a ser organizada em 1863 pelo Padre Marie-Antoine. A primeira Procissão Mariana com velas oficialmente reconhecida data de 1872, organizada pelos fiéis e pela administração do Santuário, como forma de agradecer a proteção de Nossa Senhora durante o período difícil da Guerra Franco-Prussiana (1870–1871).

Desde então, o gesto simples de caminhar com uma vela acesa tornou-se um dos rituais mais conhecidos de Lourdes e um símbolo mundial da devoção mariana.

Significado espiritual e simbólico

A vela, na tradição cristã, é símbolo de Cristo – Luz do Mundo. Quando o peregrino acende a sua vela, ele manifesta o desejo de manter viva a luz da fé e de oferecer a sua oração à Virgem Maria.
Durante a procissão, milhares de pequenas chamas iluminam a escuridão da noite, criando uma imagem profundamente simbólica: a fé dos cristãos que ilumina o mundo e vence as trevas da dor, do sofrimento e da incredulidade.

O Rosário é recitado durante o percurso, alternando-se as dezena de Ave-Marias com cânticos marianos entoados em diversas línguas, refletindo o caráter universal de Lourdes como lugar de encontro das nações.

Quando e como é realizada

A Procissão das Velas realiza-se diariamente de abril a outubro, o chamado “tempo das peregrinações” em Lourdes. O horário habitual é às 21h, iniciando-se na Praça do Rosário, em frente à Basílica de Nossa Senhora do Rosário, e terminando diante da Basílica de Nossa Senhora do Rosário ou da Imaculada Conceição, dependendo das condições e da afluência.

Durante os meses de inverno (de novembro a março), a procissão não se realiza no exterior devido às condições climatéricas, sendo substituída por momentos de oração no interior da Basílica.

A procissão é sempre presidida por um bispo ou sacerdote e acompanhada por uma imagem iluminada de Nossa Senhora de Lourdes, transportada por fiéis. Os peregrinos seguem com as velas nas mãos, cantando o tradicional “Ave, Ave, Ave Maria”, hino que ecoa por todo o recinto, criando uma atmosfera de fé e emoção que toca até os corações mais distantes.

Momentos principais

  1. Início: os sinos da Basílica anunciam o começo da procissão. Os fiéis acendem as velas, formando uma corrente de luz.
  2. Procissão: a multidão percorre lentamente a esplanada, enquanto é recitado o Rosário em várias línguas.
  3. Oração final e bênção: diante da Basílica, o celebrante dá a bênção aos participantes, frequentemente com o Santíssimo Sacramento.

Durante as grandes peregrinações internacionais — como a dos doentes, dos militares ou das famílias — a procissão reveste-se de solenidade especial, com hinos, bandeiras nacionais e presença de delegações eclesiais de vários países.

Cânticos e devoção popular

O cântico “Ave Maria de Lourdes” é o hino oficial da procissão, composto no século XIX. Cada estrofe é intercalada pelo refrão “Ave, Ave, Ave Maria”, cantado em várias línguas. A melodia simples e envolvente permite que todos participem, mesmo sem conhecer o idioma.

Outro elemento tradicional é a folha da procissão, um pequeno suporte de papel ou plástico colocado à volta da vela, com as orações e cânticos impressos, para proteger a chama e facilitar a participação.

O impacto espiritual e emocional

Para muitos peregrinos, participar na Procissão das Velas é o ponto alto da visita a Lourdes. O silêncio respeitoso, a luz suave das velas e a união de milhares de vozes em oração criam um ambiente profundamente espiritual.
É comum ver pessoas emocionadas, rezando pelos doentes, pelos familiares ou simplesmente agradecendo graças recebidas. Muitos descrevem este momento como uma experiência de fé transformadora, que renova o coração e fortalece a esperança.

Um símbolo universal de fé

A Procissão das Velas de Lourdes inspirou procissões semelhantes em santuários marianos de todo o mundo, incluindo Fátima, Aparecida e Medjugorje, tornando-se um modelo de oração mariana coletiva.

Mais do que uma tradição, é um testemunho vivo da fé cristã, um encontro entre o Céu e a Terra, entre a luz e a escuridão, entre o coração humano e o amor materno de Maria.

Conclusão

A Procissão das Velas em Lourdes é, sem dúvida, uma das expressões mais belas e universais da devoção mariana. Nascida do pedido simples da Virgem à humilde Bernadette, tornou-se um farol de esperança que continua a iluminar o mundo.

No silêncio da noite, sob a luz trémula de milhares de velas, os peregrinos recordam que Maria conduz sempre a Cristo, e que a luz da fé, mesmo pequena, é suficiente para dissipar qualquer treva.

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