Neste dia, em 1590, o Papa Gregório XIV dava o nome à Sala das Lágrimas

No coração da Basílica de São Pedro, em Roma, existe uma pequena sala silenciosa, reservada apenas a um momento único e profundamente humano: os primeiros instantes de um Papa recém-eleito.
Chama-se “Sala das Lágrimas” (Stanza delle Lacrime), e o seu nome traduz a carga espiritual e emocional que se vive ali — o instante em que o eleito, consciente do peso da missão confiada, deixa correr as lágrimas perante Deus, antes de se apresentar ao mundo.

Onde se situa

A Sala das Lágrimas encontra-se no interior da Basílica de São Pedro, à direita do altar da Confissão, muito próxima da Capela Sistina, onde decorre o conclave.
Após o “Habemus Papam!”, o novo Papa é conduzido discretamente da Capela Sistina até esta pequena sala, que se localiza no corredor que liga o espaço do conclave ao balcão central da basílica — o mesmo de onde é proclamada a eleição.

É um espaço de dimensões modestas, com paredes de mármore claro, pinturas discretas e uma atmosfera de recolhimento absoluto.
Ali, o novo Papa permanece a sós, acompanhado apenas pelo Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias e por um sacristão, antes de se apresentar ao povo.

Para que serve a Sala das Lágrimas

A função desta sala é simples, mas profundamente simbólica: é o primeiro lugar onde o Papa entra após a sua eleição.
É ali que o eleito:

  • Se reveste pela primeira vez com as vestes brancas papais;
  • Faz uma breve oração em silêncio, pedindo força e humildade para a missão;
  • Encontra-se a sós com Deus, num momento de profunda emoção.

Por essa razão, a sala ganhou o nome comovente de “Sala das Lágrimas” — não por tradição litúrgica, mas pela experiência humana e espiritual que tantos papas ali viveram.

Os relatos dos últimos conclaves confirmam que quase todos os papas choraram nesse momento, conscientes do peso do ministério petrino e da responsabilidade de guiar a Igreja universal.

A origem do nome “Sala das Lágrimas”

A expressão “Sala das Lágrimas” tornou-se popular a partir do século XIX, embora o espaço em si exista desde o século XVI, quando foi definida a atual configuração da Basílica de São Pedro.

Conta-se que o Papa Gregório XIV (eleito em 1590) foi o primeiro que terá chorado copiosamente ao vestir a batina branca pela primeira vez, o que terá inspirado a designação simbólica.
Desde então, a expressão “Stanza delle Lacrime” passou a ser usada pelos prelados e cerimoniários vaticanos de forma quase oficial.

A placa comemorativa

Na parede da Sala das Lágrimas encontra-se uma pequena placa de mármore, datada de 31 de maio de 2013, que diz: “Nesta sala, chamada ‘do choro’ em homenagem a Gregório XIV, que derramou lágrimas de emoção aqui em 5 de dezembro de 1590, assim que foi eleito Papa, o novo Pontífice, depois de aceitar a eleição, veste as roupas próprias”.

Esta inscrição visa recordar a santidade e o recolhimento que devem marcar aquele primeiro instante do novo Papa.

As vestes brancas e o momento da transformação

Na Sala das Lágrimas aguardam três conjuntos completos de vestes papais — em tamanhos pequeno, médio e grande —, preparados com antecedência pela Sastraria Eclesiástica Gammarelli, tradicional fornecedora do Vaticano.
Esta prática assegura que, seja quem for o eleito, encontrará ali um paramento que lhe sirva imediatamente, simbolizando a prontidão do novo Papa para assumir o seu ministério.

Ao vestir a batina branca, o faixão, o solidéu e a mozeta, o eleito deixa simbolicamente de ser cardeal e torna-se o Sucessor de Pedro.
É um momento de transição interior, de humildade e entrega — o instante em que a alegria da eleição se mistura com o peso do serviço à Igreja.

Momentos marcantes na Sala das Lágrimas

Vários testemunhos descrevem o que ali se passou em diferentes conclaves:

  • Em 1958, o recém-eleito Papa João XXIII teria dito aos cerimoniários, com voz embargada:
    “Sou apenas um pobre homem, mas o Senhor chamou-me; que Ele me ajude.”
  • Em 1978, João Paulo II chorou longamente e rezou ajoelhado diante de um pequeno crucifixo antes de se dirigir à sacada de São Pedro.
    Mais tarde, diria: “Naquele momento senti o peso de toda a Igreja sobre os meus ombros.”
  • Em 2005, o Papa Bento XVI emocionou-se profundamente, e um dos cardeais presentes relatou:
    “O seu rosto estava cheio de lágrimas, mas também de uma paz extraordinária.”
  • Em 2013, após a sua eleição, Francisco permaneceu vários minutos em silêncio absoluto, olhando o crucifixo da sala. Segundo relatos, murmurou apenas: “Senhor, perdoai-me pelos meus pecados e tende misericórdia do vosso povo.”

Cada uma destas cenas, discretas e íntimas, testemunha a humanidade e a espiritualidade que envolvem a missão petrina.

Significado espiritual

A Sala das Lágrimas recorda que, antes de qualquer gesto público ou palavra solene, o Papa é um homem diante de Deus.
As lágrimas derramadas ali não são de fraqueza, mas de entrega, humildade e amor pela Igreja.
São lágrimas que ligam o trono de Pedro à cruz de Cristo, lágrimas de fé e responsabilidade.

Conclusão

A Sala das Lágrimas é um dos lugares mais discretos e, ao mesmo tempo, mais comoventes do Vaticano.
Ali, o novo Papa despede-se do anonimato, reveste-se da missão e oferece a Deus as suas lágrimas, antes de aparecer à multidão que o espera com júbilo na Praça de São Pedro.

Num tempo em que tudo é público e imediato, esta sala lembra-nos que a autoridade verdadeira nasce do silêncio e da oração. É ali, nesse pequeno espaço escondido, que o Sucessor de Pedro começa o seu caminho, chorando não de medo, mas de amor pela Igreja e pelo mundo.

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