O Dia Internacional das Vítimas de Perseguição Religiosa é uma data dedicada a recordar, honrar e dar voz àqueles que sofrem discriminação, violência, tortura ou até a morte em razão da sua fé. Embora o dia não tenha uma data universalmente oficializada por todos os países, várias nações e organizações religiosas, como a Igreja Católica, a Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) e outras entidades cristãs e inter-religiosas, observam este dia a 22 de Agosto, coincidindo com a memória litúrgica de Maria Rainha, instituída por São João Paulo II como Dia Internacional de Oração pelas Vítimas de Perseguição Religiosa.
Origem
O Dia Internacional de Oração pelas Vítimas de Perseguição Religiosa é celebrado no dia 22 de agosto, conforme estabelecido pela ONU em sua resolução A/RES/73/296. Essa data foi instituída para lembrar e expressar preocupação com os atos de intolerância e violência baseados em religião ou crença.
A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 28 de maio de 2019, através da resolução A/RES/73/296, com o objetivo de homenagear as vítimas de perseguição religiosa e promover a conscientização sobre a importância da liberdade religiosa.
A iniciativa de criar essa data surgiu após a organização Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) promover uma conferência internacional em Roma, onde foi discutida a reconstrução de povoados cristãos na Planície de Nínive, destruídos pelo Estado Islâmico. A partir daí, a advogada Ewelina Ochab propôs a criação de um dia para chamar a atenção global para as violações da liberdade religiosa, especialmente a perseguição cristã.
Diversas organizações e igrejas em todo o mundo se mobilizam para celebrar essa data, promovendo eventos de oração e reflexão sobre a situação dos cristãos e outras minorias religiosas perseguidas.
Em Portugal, a Fundação AIS tem um papel importante na promoção do Dia de Oração pelos Cristãos Perseguidos, e convida as comunidades a se unirem em oração e solidariedade com aqueles que sofrem perseguição
Perseguição religiosa no mundo: realidade dramática e crescente
Segundo relatórios recentes, como os publicados pela Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) e pela Open Doors (Portas Abertas), mais de 360 milhões de cristãos vivem atualmente em países onde enfrentam algum tipo de perseguição grave. Trata-se da religião mais perseguida do mundo, segundo diversas fontes internacionais e independentes.
A perseguição religiosa pode manifestar-se de diversas formas:
– Proibição de culto ou limitação legal à expressão religiosa
– Destruição de templos e bens sagrados
– Discriminação institucional e social
– Prisões arbitrárias, tortura, rapto ou assassinato
– Obrigação de converter ou renunciar à fé sob ameaça
Estas violações dos direitos humanos atingem milhares de pessoas todos os anos, criando mártires do nosso tempo e provocando ondas de sofrimento silencioso e ignorado pelos grandes meios de comunicação.
Focos principais de perseguição aos cristãos
Os cristãos continuam a ser particularmente visados em diferentes contextos. Eis alguns dos países mais críticos segundo os relatórios anuais:
1. Coreia do Norte – Qualquer prática cristã é considerada traição. A posse de uma Bíblia pode levar à prisão em campos de trabalho forçado.
2. Nigéria – Grupos terroristas como o Boko Haram e pastores extremistas fulani protagonizam ataques sistemáticos contra comunidades cristãs, com assassinatos em massa e destruição de igrejas.
3. Paquistão – As leis da blasfémia são usadas para perseguir minorias cristãs. Casos como o de Asia Bibi, condenada à morte por alegada blasfémia, tornaram-se símbolos dessa opressão.
4. Índia – O nacionalismo hindu tem alimentado hostilidade contra os cristãos, com igrejas vandalizadas, padres agredidos e comunidades atacadas por mobs.
5. China – Apesar do crescimento cristão, o regime impõe controle severo sobre as igrejas, monitorização digital, remoção de cruzes e encerramento de locais de culto não autorizados.
6. Eritreia e Somália – Nestes países africanos, os cristãos enfrentam prisões sem julgamento, tortura e repressão religiosa em nome do islamismo radical ou do totalitarismo estatal.
Um novo tipo de perseguição: o “martírio branco” no Ocidente
Se em alguns países os cristãos são mortos ou presos, em muitas nações ocidentais vive-se um novo tipo de perseguição: mais subtil, mas real. Trata-se do que o Papa Bento XVI chamou de “martírio branco” — quando se ridiculariza, marginaliza ou exclui quem deseja viver e expressar a fé cristã de forma coerente.
Exemplos disso incluem:
– A exclusão de profissionais por não quererem colaborar com práticas contrárias à fé
– O ataque à liberdade de educação cristã por parte do Estado
– A censura à presença de símbolos religiosos no espaço público
– A cultura do cancelamento aplicada a valores cristãos
Não é uma perseguição sangrenta, mas é uma forma de pressão e silenciamento que desafia os crentes a permanecerem firmes e corajosos.
A resposta da Igreja: oração, solidariedade e denúncia
A Igreja Católica não tem sido indiferente a este drama. Os últimos Papas têm denunciado publicamente a perseguição dos cristãos e apelado à liberdade religiosa como um direito humano fundamental.
São João Paulo II, Bento XVI e Papa Francisco têm recordado constantemente os mártires contemporâneos, promovido encontros ecuménicos e apelado ao respeito pela dignidade de cada pessoa, crente ou não.
O Papa Francisco declarou: “Os mártires de hoje são mais numerosos do que nos primeiros séculos. O seu sangue é semente de unidade para a Igreja.”
Instituições como a Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) e a fundação Open Doors promovem campanhas de sensibilização, apoio material às vítimas e iniciativas como a “Noite dos Mártires”, a iluminação de monumentos de vermelho e o envio de relatórios aos parlamentos europeus e da ONU.
Portugal e a solidariedade com os perseguidos
Em Portugal, a AIS promove anualmente a campanha “Red Wednesday” (“Quarta-feira Vermelha”), iluminando igrejas e monumentos em cor vermelha, como forma de recordar os cristãos perseguidos. O evento inclui momentos de oração, vigílias, conferências e distribuição de materiais educativos.
O povo português, com grande tradição missionária e católica, é chamado a rezar, informar-se, apoiar e testemunhar com coragem a fé, mesmo num contexto aparentemente livre.
Conclusão: A fé que resiste ao ódio
O Dia Internacional das Vítimas de Perseguição Religiosa não é apenas um dia de memória, mas um grito de alerta à consciência mundial. O silêncio cúmplice, a indiferença e a normalização do ódio religioso devem ser denunciados.
A Igreja convida-nos a unir-nos em oração e solidariedade, mas também em ação concreta: apoiar financeiramente os projetos de ajuda, partilhar testemunhos, educar para o respeito inter-religioso e viver com coerência a fé cristã, mesmo quando custa.
“Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.”
(Mateus 5, 10)