Entre os muitos acontecimentos extraordinários da vida de São Francisco de Assis, fundador da Ordem dos Frades Menores e um dos santos mais amados da Igreja, destaca-se a recepção dos estigmas de Cristo. Este dom místico, recebido no final da sua vida, é considerado um dos sinais mais profundos da sua união com o Senhor e da sua conformidade com os sofrimentos da Paixão.
O contexto da vida de Francisco
Francisco nasceu em Assis em 1181/1182, vivendo uma juventude marcada pela riqueza e pela busca de glória mundana. Após a sua conversão, renunciou a todos os bens e dedicou-se a uma vida de pobreza radical, fraternidade e amor a Cristo pobre e crucificado.
Ao longo da sua vida, buscou sempre imitar Jesus em tudo, até às últimas consequências. Este desejo de identificação plena com Cristo culminou num episódio singular: a recepção dos estigmas.
O acontecimento do Monte Alverne
No ano de 1224, dois anos antes da sua morte, Francisco retirou-se com alguns irmãos para o Monte Alverne (na Toscana), um lugar de solidão e oração. Ali desejava preparar-se espiritualmente para a festa da Exaltação da Santa Cruz, que se celebra a 14 de Setembro.
Segundo os relatos dos primeiros biógrafos (como Tomás de Celano e São Boaventura), enquanto rezava em profunda contemplação da Paixão de Cristo, Francisco teve uma visão de um serafim crucificado. Este serafim radiante, representando Cristo em chamas de amor, imprimiu-lhe nas mãos, nos pés e no lado os sinais das chagas de Jesus.
Francisco tornou-se, assim, o primeiro santo da história a receber os estigmas visíveis.
O significado espiritual dos estigmas
Os estigmas em São Francisco não foram apenas um fenómeno extraordinário, mas sobretudo um sinal da sua perfeita conformidade com Cristo crucificado.
- Participação na Paixão – Francisco não apenas meditava a Paixão de Cristo, mas foi configurado a ela no próprio corpo, tornando-se “imagem viva do Crucificado”.
- Sinal de santidade – as chagas visíveis testemunhavam o seu amor radical a Cristo e eram vistas pelos contemporâneos como selo da sua união mística com Deus.
- Mensagem para a Igreja – recordava a todos os cristãos que o seguimento de Cristo implica amor até à cruz, entrega até ao fim e aceitação do sofrimento com fé.
Testemunhos históricos
Diversos relatos confirmam a autenticidade deste acontecimento. Os primeiros frades que conviveram com Francisco testemunharam as marcas das chagas, que permaneciam abertas e dolorosas. Após a sua morte em 3 de Outubro de 1226, muitos fiéis viram e veneraram os estigmas no seu corpo.
O Papa Bento XI, em 1337, confirmou oficialmente a autenticidade dos estigmas. Desde então, a Igreja celebra a festa dos Estigmas de São Francisco de Assis a 17 de Setembro.
A actualidade da mensagem
Os estigmas de São Francisco não são apenas uma curiosidade histórica, mas uma mensagem sempre viva:
- Chamam-nos à contemplação do Crucificado: a vida cristã não pode esquecer o amor que Jesus revelou na cruz.
- Recordam-nos a centralidade da pobreza evangélica: Francisco, marcado por Cristo, mostra que a verdadeira riqueza está no amor e na entrega.
- Inspiram-nos à fraternidade universal: quem se une a Cristo crucificado aprende a amar os outros sem distinções, como irmãos.
Conclusão
Os Estigmas de São Francisco de Assis são um dom místico que confirma a sua vida inteira dedicada ao Evangelho. Através deles, Francisco tornou-se testemunha viva do amor de Cristo até às últimas consequências.
Hoje, ao contemplarmos este acontecimento, somos convidados a olhar para a cruz não como sinal de derrota, mas como vitória do amor. Francisco ensina-nos que só quem abraça a cruz com fé encontra a verdadeira alegria e a vida em abundância.