A Igreja Católica celebra, na segunda-feira após o Pentecostes, a memória da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja. Esta celebração litúrgica, relativamente recente no calendário universal, convida os fiéis a contemplar Maria como mãe espiritual de todos os cristãos, aquela que, unida a Cristo e ao nascimento da Igreja, continua a acompanhar e a proteger o povo de Deus com ternura maternal.
Origem do título “Mãe da Igreja”
O título “Mater Ecclesiae” (Mãe da Igreja) tem raízes antigas. Os primeiros cristãos já reconheciam em Maria a nova Eva, aquela que, ao dar o seu “sim” a Deus, colaborou no plano da salvação. No entanto, a designação ganhou força com o Concílio Vaticano II (1962–1965), especialmente na Constituição Lumen Gentium, onde se afirma:
“A bem-aventurada Virgem Maria é reconhecida e venerada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor (…) Ela é também, de maneira muito especial, mãe dos membros de Cristo, pois cooperou com amor materno para o nascimento da Igreja” (Lumen Gentium, n.º 53).
A devoção a Maria sob este título foi depois intensamente promovida por São Paulo VI, que, a 21 de novembro de 1964, durante o Concílio, declarou solenemente Maria como “Mãe da Igreja”.
Instituição da memória litúrgica
A celebração oficial desta memória foi instituída mais recentemente. A 11 de fevereiro de 2018, o Papa Francisco, através de um decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, inscreveu no calendário romano a memória obrigatória de Maria, Mãe da Igreja, a ser celebrada na segunda-feira após o Pentecostes.
Segundo o decreto, o objetivo desta celebração é promover o crescimento do sentido materno da Igreja nos pastores, nos consagrados e nos fiéis, assim como o verdadeiro culto mariano.
Por que depois do Pentecostes?
A escolha do dia seguinte ao Pentecostes tem profundo significado simbólico e espiritual:
- No Pentecostes, o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos e nasceu a Igreja.
- A tradição e os Atos dos Apóstolos (cf. At 1,14) afirmam que Maria estava presente com os discípulos no cenáculo, orando com eles e por eles.
- Assim, ao colocar a memória de Maria, Mãe da Igreja, imediatamente a seguir ao Pentecostes, a liturgia mostra que Maria não é apenas Mãe de Cristo, mas também Mãe do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja.
Conteúdo litúrgico da memória
A celebração inclui:
- Leituras próprias: habitualmente, a leitura do Génesis (3, 9-15.20), que fala da mulher prometida por Deus após o pecado original, e o Evangelho de João (19,25-34), onde Jesus, na cruz, entrega Maria como mãe ao discípulo amado — e a toda a Igreja.
- Orações específicas que invocam Maria como modelo da Igreja em escuta, oração e caridade.
Significado espiritual para os fiéis
Esta memória ajuda os cristãos a reconhecerem:
- A maternidade espiritual de Maria, que intercede por nós como mãe solícita e amorosa;
- O seu papel como modelo de fé, de entrega e de comunhão com o Espírito Santo;
- O convite a cada fiel para acolher Maria em sua vida, como fez o discípulo João, representando todos os membros da Igreja.
Celebrar Maria como Mãe da Igreja é também um modo de reconhecer que a vida cristã não se faz sozinho, mas em comunidade, acompanhados pela graça de Deus e pela intercessão materna da Virgem.
Conclusão
A memória da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja é um dom litúrgico que a Igreja oferece aos fiéis para aprofundarem o seu vínculo com Maria e com a própria Igreja. Ao colocá-la no início do Tempo Comum após Pentecostes, recorda-se que Maria continua a acompanhar a Igreja peregrina, como Mãe vigilante, consoladora e guia.
Neste dia, somos convidados a rezar com e por Maria, pedindo-lhe que nos ajude a viver como verdadeiros filhos da Igreja, sempre fiéis ao Evangelho e unidos em comunhão.