A Capelinha das Aparições, no coração do Santuário de Fátima, é hoje um dos lugares mais visitados e venerados pelos católicos em todo o mundo. Foi ali que, em 1917, a Virgem Maria apareceu a três humildes pastorinhos, pedindo oração e penitência pela conversão do mundo. Contudo, poucos sabem que a primeira Missa celebrada na Capelinha das Aparições foi um acontecimento marcante, que consolidou o reconhecimento do local como espaço de culto mariano e deu início à sua vida litúrgica.
As origens da Capelinha
Após as aparições de Nossa Senhora entre maio e outubro de 1917, a Cova da Iria tornou-se, espontaneamente, um lugar de oração. Peregrinos começaram a acorrer ao local, rezando o terço e deixando ex-votos em sinal de gratidão.
Em 1919, dois anos após as aparições, e apesar das resistências das autoridades civis, foi construída a pequena capela por iniciativa popular. A obra foi realizada discretamente por um pedreiro de Fátima, João de Santa Maria, a pedido de uma mulher devota, Maria Carreira, conhecida como “Maria da Capelinha”.
A construção foi simples: paredes de pedra, telhado de madeira e um pequeno altar. No local onde a azinheira sagrada marcava o ponto das aparições, ergueu-se o altar e colocou-se uma imagem de Nossa Senhora, como sinal da presença materna da Virgem.
A primeira Missa — 13 de outubro de 1921
Durante os primeiros anos, a Capelinha foi apenas um local de oração. A diocese de Leiria ainda não tinha autorizado celebrações litúrgicas formais, pois a Igreja Católica aguardava o resultado das investigações canónicas sobre os acontecimentos de Fátima.
A primeira Missa na Capelinha das Aparições foi celebrada apenas a 13 de outubro de 1921, exatamente quatro anos após a última aparição de Nossa Senhora. A celebração foi autorizada pelo então bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, que reconheceu a devoção crescente e decidiu permitir o culto público.
A Santa Missa foi presidida pelo padre Manuel Marques Ferreira, pároco de Fátima, e contou com a presença de numerosos fiéis, muitos deles vindos de longe para marcar aquele momento histórico.
Assim, o altar simples da pequena capelinha tornou-se o centro espiritual de Fátima e o coração da devoção mariana que, mais tarde, se espalharia pelo mundo inteiro.
Profanação e reconstrução
A Capelinha das Aparições não tardou a tornar-se alvo de ataques. Em 6 de março de 1922, indivíduos hostis à fé católica lançaram uma bomba que destruiu quase completamente a capela. Apesar do choque entre os fiéis, o acontecimento reforçou a devoção popular.
Poucos meses depois, com o apoio dos peregrinos, a capela foi reconstruída e voltaram a celebrar-se Missas e orações. Este episódio foi visto pelos devotos como um sinal de que a mensagem de Fátima resistiria a qualquer perseguição.
A Capelinha como coração do Santuário
A partir dessa primeira Missa, a Capelinha das Aparições passou a ser o centro litúrgico e espiritual do Santuário de Fátima. Mesmo com a construção da Basílica de Nossa Senhora do Rosário e, mais tarde, da Basílica da Santíssima Trindade, é na Capelinha que permanece a imagem original de Nossa Senhora de Fátima, diante da qual se celebra diariamente a Eucaristia e se reza o Rosário.
Ali se realizam as procissões das velas, as orações dos peregrinos e as cerimónias das grandes peregrinações internacionais, especialmente a de 13 de maio e a de 13 de outubro.
Curiosidades litúrgicas e históricas sobre a primeira Missa
- O altar original foi construído sobre o local exato das aparições, junto à azinheira, e serviu durante décadas como o principal altar de Fátima.
- A imagem de Nossa Senhora de Fátima ainda não estava presente na primeira Missa de 1921; a escultura só seria colocada no local a 13 de junho de 1920, um ano antes, tendo sido benzida na Igreja Paroquial de Fátima.
- As vestes litúrgicas do celebrante, segundo testemunhos, eram simples, trazidas da paróquia, sem paramentos próprios do santuário, refletindo o caráter humilde do momento.
- Os paramentos próprios de Fátima só começaram a ser utilizados em 1923, quando o santuário passou a organizar peregrinações regulares.
- O primeiro ostensório usado foi oferecido por peregrinos de Torres Novas e ainda é conservado nos arquivos do santuário.
- Em 1946, durante a solene coroação da imagem de Nossa Senhora de Fátima — coro concedida pelo Papa Pio XII —, a Capelinha voltou a ser o centro das atenções mundiais, consolidando-se como o “altar do mundo”.
A Capelinha hoje
Atualmente, a Capelinha das Aparições mantém-se praticamente idêntica à estrutura de 1919, embora tenha sofrido pequenas melhorias e reforços ao longo dos anos.
Continua a ser um lugar de silêncio, oração e comunhão, onde todos os dias são celebradas Missas e rezados terços transmitidos para todo o mundo através dos meios de comunicação do Santuário.
A primeira Missa de 1921 é recordada todos os anos como o início da dimensão litúrgica de Fátima — o momento em que o local das aparições passou a ser também um altar vivo, onde Cristo e Maria continuam a acolher os corações dos peregrinos.
Conclusão
A primeira Missa celebrada na Capelinha das Aparições de Fátima, a 13 de outubro de 1921, marcou o reconhecimento espiritual do lugar onde Maria apareceu. A partir daquele dia, o altar de pedra erguido sobre a azinheira tornou-se o ponto de encontro entre o Céu e a Terra.
Ali, onde a Mãe de Deus falou aos três pastorinhos, continua a ecoar a mensagem de fé e esperança que transformou Fátima num dos maiores centros de oração do mundo.