A veneração das relíquias dos santos é uma tradição antiga na Igreja Católica, e uma das mais notáveis relacionadas com Santa Teresa de Ávila é o relicário que guarda a sua mão esquerda — frequentemente denominada “mão incorrupta de Santa Teresa”.
Origem e retirada da mão
Santa Teresa de Ávila faleceu a 4 de outubro de 1582 no Convento da Anunciação, em Alba de Tormes (Salamanca, Espanha). Pouco tempo após a sua morte — cerca de nove meses depois — o corpo foi exumado e encontrado em estado de notável conservação (“incorrupto”) perante as práticas da época.
Então o Padre Jerónimo Gracián, provincial da Ordem, cortou a mão esquerda da santa e a deu às freiras Carmelitas Descalças de San José de Ávila e, mais tarde, levada pelo próprio Gracián, às Carmelitas do convento de San Alberto, em Lisboa. O dedo mindinho está em falta, o qual permaneceu na posse de Gracián.
No século XIX , os Carmelitas foram suprimidos pelo governo português e a mão passou para o Patriarcado, que por sua vez a cedeu ao novo Convento Carmelita dos Olivais. Com a revolução portuguesa de 1910, os Carmelitas foram expulsos do país, dispersando-se por vários conventos Carmelitas na Espanha.
A história da relíquia: peregrinações, apropriações e restitução
A mão relíquia foi venerada durante séculos pelas carmelitas de Ronda. No ano de 1937, durante a Guerra Civil Espanhola, a mão foi saqueada das instalações religiosas em Málaga e posteriormente apareceu entre os bens pessoais de um militar franquista.
A relíquia permaneceu sob custódia informal ou particular até que, após a morte de Francisco Franco (1975), foi devolvida oficialmente ao convento carmelita de Ronda em 14 de dezembro de 1975, pelas mãos do então bispo de Málaga. Desde então, a mão tem sido mantida em Ronda, sob custódia das carmelitas, em exposição limitada, como parte do património devocional e histórico da Ordem.
Situação atual da relíquia
Hoje, a mão de Santa Teresa encontra-se no Convento de Nuestra Señora de la Merced, em Ronda (província de Málaga), Espanha. É exibida dentro de um elaborado relicário — uma “luva” de prata dourada e pedras preciosas — e pode ser venerada, embora com restrições de acesso.
O relicário de mão preserva outra relíquia da Santa na base, um fragmento de uma escrita ou carta com a assinatura manuscrita de Teresa de Jesus
Adicionalmente, o corpo principal de Santa Teresa permanece em Alba de Tormes, e em 2024 foi nova abertura do túmulo para estudo, confirmando a incorruptibilidade do corpo e demais relíquias (mão, braço, coração) conforme exames científicos.
Significado espiritual e devocional
A veneração da mão de Santa Teresa convida os fiéis a considerar:
- A total entrega e serviço de Santa Teresa, cujas mãos trabalharam pela reforma carmelita e pela vida contemplativa.
- O mistério da incorrupção corporal, que a Igreja interpreta não como objetivo, mas como sinal da santidade e da união com Cristo.
- A devoção às relíquias como meio de proximidade com os santos, pedindo a sua intercessão e lembrando-nos da ressurreição dos corpos.
Conclusão
A mão incorrupta de Santa Teresa de Ávila representa um elo tangível entre a história, a fé e a santidade. Desde a sua retirada após a exumação do corpo até ao recente restabelecimento em Ronda, a relíquia percorreu séculos e contextos — sempre mantendo-se como objeto de veneração, estudo e devoção. Hoje, como ontem, ela convida à oração, à confiança e à imitação da santa que proclamou: “Só Deus basta.”