A Primeira Comunhão é um dos momentos mais significativos na vida espiritual de um católico. Trata-se do momento em que, pela primeira vez, uma criança (ou um adulto catecúmeno) recebe o Corpo e o Sangue de Cristo na Eucaristia, sacramento central da fé católica. Mais do que uma cerimónia, é um encontro íntimo com Jesus presente na Hóstia consagrada, marcando o início de uma participação mais plena na vida da Igreja.
Origens da Primeira Comunhão
Nos primeiros séculos do Cristianismo, o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia eram celebrados conjuntamente, mesmo em crianças, o que era prática comum nas comunidades cristãs do Oriente e do Ocidente. Assim, não existia uma cerimónia específica de “Primeira Comunhão”, já que a receção da Eucaristia era parte do rito de iniciação cristã.
Com o passar dos séculos, sobretudo na Idade Média, a prática começou a mudar. O crescente sentido de reverência para com a Eucaristia e a ênfase na necessidade de uma preparação moral e catequética levaram a Igreja a adiar a idade da primeira receção do Sacramento. Assim, a Primeira Comunhão passou a ser administrada apenas a adolescentes ou mesmo adultos, após um longo período de catequese.
A Reforma Litúrgica de São Pio X
Foi o Papa São Pio X quem transformou radicalmente esta prática com o decreto Quam Singulari, publicado a 8 de agosto de 1910. O pontífice, profundamente preocupado com a vida espiritual das crianças e com o afastamento dos fiéis da Eucaristia, determinou que a Primeira Comunhão deveria ser recebida logo que a criança atingisse a “idade da razão”, ou seja, por volta dos sete anos.
Pio X afirmava que a Eucaristia era “o meio mais eficaz para unir as almas a Cristo” e que negar este acesso às crianças era privá-las de uma fonte de graça essencial. Com este decreto, o Papa inaugurou uma nova era na pastoral eucarística, incentivando também a comunhão frequente dos fiéis.
A Beata Imelda Lambertini: a pequena mística da Eucaristia
Entre as figuras que inspiraram esta reforma destacou-se a Beata Imelda Lambertini, uma jovem dominicana italiana nascida em Bolonha, em 1322. Desde muito pequena, Imelda demonstrava um amor extraordinário pela Eucaristia. Ingressou ainda criança num convento dominicano, onde desejava ardentemente receber a comunhão, mas, segundo a prática da época, era considerada demasiado jovem.

Na véspera da Ascensão de 1333, enquanto rezava diante do altar, as irmãs do convento testemunharam um fenómeno extraordinário: uma Hóstia consagrada flutuou no ar e lhe projetava uma luz branca. Rapidamente uma irmã chamou as outras monjas e todas se prostraram diante deste milagre. A Madre, constatando que se tratava de manifestação real de Deus para que a menina recebesse a Primeira Comunhão, chamou o pároco. Ao chegar com a patena de ouro nas mãos, o padre admirado, dirigiu-se até à Hóstia. Assim que se aproximou da menina ajoelhada, a Hóstia pousou sobre a patena. Assim, foi-lhe administrada a Primeira Comunhão. Em seguida, vagarosamente, Imelda baixou a cabeça em oração.
Imelda permaneceu assim, diante das irmãs por um tempo demasiadamente longo. Isto fez com que a Madre fosse até ela, que a nada respondia. Tentando levantá-la cuidadosamente pelos ombros, a menina caiu nos seus braços, trazendo no rosto uma expressão delicada, de inexplicável alegria. Havia partido para o Céu naquele sublime momento. A alegria de receber Nosso Senhor foi demais para o pequeno coração que ardia pela presença real de Cristo na Eucaristia. Certa vez, Imelda já havia dito às Irmãs: “Eu não sei por que as pessoas que recebem Nosso Senhor não morrem de alegria”.
Até hoje, seu pequeno corpo virginal encontra-se intacto, depois de mais de 680 anos, numa redoma de cristal, na Igreja de São Sigismundo, em Bolonha. Em 1826 o Papa Leão XII confirmou e estendeu para toda a Igreja o culto que havia séculos se prestava a ela em Bolonha. E São Pio X a proclamou, em 1908, Padroeira das Crianças que vão fazer a Primeira Comunhão, reconhecendo nela um modelo de pureza e amor eucarístico. A sua memória litúrgica é celebrada no dia 12 de maio.

A celebração da Primeira Comunhão hoje
Atualmente, a Primeira Comunhão é celebrada em todas as paróquias do mundo, geralmente entre os 7 e 10 anos, após um período de catequese e formação espiritual. As crianças aprendem o significado dos sacramentos, o valor da missa e a presença real de Jesus na Eucaristia.
A cerimónia é acompanhada de grande solenidade: as crianças vestem-se de branco, símbolo de pureza, e participam com alegria num dos momentos mais marcantes da vida cristã.
Conclusão
A história da Primeira Comunhão é, em si, um reflexo do amor da Igreja pela Eucaristia. Desde as suas origens antigas até à reforma de São Pio X, o objetivo sempre foi aproximar os fiéis de Cristo. A figura luminosa da Beata Imelda Lambertini recorda-nos que o coração puro e o amor sincero são o verdadeiro caminho para o encontro com Deus.
Assim, cada Primeira Comunhão é, mais do que um rito, um convite à fé viva, à pureza do coração e à intimidade com Jesus, o Pão da Vida.