A 27 de abril de 2014, na Praça de São Pedro, em Roma, realizou-se uma das celebrações mais marcantes da história contemporânea da Igreja Católica: a canonização conjunta de São João XXIII e São João Paulo II. O acontecimento ficou conhecido como o “dia dos quatro papas”, pois contou com a presença do Papa Francisco, que presidiu à cerimónia, e do Papa Emérito Bento XVI, que concelebrou. Pela primeira vez, dois papas vivos estiveram juntos para proclamar santos dois dos seus predecessores.
Contexto Histórico
A canonização de João XXIII e João Paulo II foi aguardada com grande expectativa por milhões de fiéis em todo o mundo.
João XXIII (1958-1963) é recordado como o “Papa Bom”, principalmente por ter convocado o Concílio Vaticano II, que marcou profundamente a vida da Igreja no século XX.
João Paulo II (1978-2005), por sua vez, foi uma das figuras mais influentes do século, tendo desempenhado papel fundamental na queda do comunismo na Europa de Leste e deixado um legado espiritual de grande vigor missionário e defesa da dignidade humana.
A decisão de canonizá-los juntos foi vista como um gesto simbólico que unia duas etapas fundamentais da Igreja: a abertura pastoral do Concílio Vaticano II e a sua implementação dinâmica no longo pontificado de João Paulo II.
O Processo de Canonização
João Paulo II foi beatificado em 1 de maio de 2011, apenas seis anos após a sua morte, num processo considerado dos mais rápidos da história moderna da Igreja, autorizado por Bento XVI. Dois milagres foram reconhecidos oficialmente para a sua canonização: a cura de uma religiosa francesa em 2005 e de uma mulher costa-riquenha em 2011.
João XXIII foi beatificado em 3 de setembro de 2000, juntamente com Pio IX. Para a canonização, o Papa Francisco dispensou a exigência do segundo milagre, justificando o gesto com a relevância extraordinária da sua figura e a sua contribuição decisiva para a Igreja.
A Celebração do Dia 27 de Abril de 2014
A cerimónia foi celebrada na Praça de São Pedro diante de uma multidão de mais de 800 mil peregrinos, vindos de todo o mundo. Milhões acompanharam através da televisão e da internet.
O momento foi histórico pela presença de dois papas vivos:
- O Papa Francisco, sucessor de Pedro, que presidiu à liturgia e proclamou santos João XXIII e João Paulo II.
- O Papa Emérito Bento XVI, que concelebrou discretamente a Missa, mas cuja presença reforçou o caráter único da ocasião.
Durante a homilia, Francisco destacou em João XXIII a sua coragem de convocar o Concílio Vaticano II, “um gesto de docilidade ao Espírito Santo”, e em João Paulo II, o “Papa da família”, que testemunhou até ao fim a alegria de se doar totalmente a Cristo e à Igreja.
O Significado do “Dia dos Quatro Papas”
A expressão “dia dos quatro papas” ficou para a história porque dois papas, João XXIII e João Paulo II, foram canonizados por Francisco, na presença de Bento XVI. Nunca antes um evento assim tinha ocorrido.
Este facto tornou visível a continuidade da missão da Igreja, através de diferentes pontífices unidos pela mesma fé. O mundo católico viu neste dia um sinal de comunhão e de unidade, que transcende as épocas e estilos de governo.
O Impacto e a Atualidade
A canonização conjunta reforçou o valor universal das duas figuras. João XXIII continua a ser visto como o pastor humilde que soube abrir a Igreja ao diálogo com o mundo moderno. João Paulo II permanece como referência de coragem, de proximidade com os jovens e de defesa da vida.
Ambos deixaram marcas profundas: o primeiro, no impulso reformador do Concílio Vaticano II; o segundo, no testemunho missionário e no desafio de “não ter medo” de viver a fé em tempos de crise.
Hoje, a celebração de 27 de abril de 2014 continua a ser lembrada como um marco de unidade e esperança, onde a Igreja celebrou, de forma sem precedentes, a santidade de dois grandes pastores do século XX.
Conclusão
O “dia dos quatro papas” ficará para sempre na memória da Igreja Católica. Mais do que uma coincidência histórica, foi uma ocasião que revelou ao mundo a vitalidade da fé cristã e a continuidade do Espírito Santo na condução da Igreja. A canonização conjunta de João XXIII e João Paulo II não apenas celebrou dois pontífices exemplares, mas também fortaleceu a consciência de que a santidade é a verdadeira herança deixada pelos papas à comunidade dos fiéis.