Santos José de Arimateia e Nicodemos são duas figuras discretas mas profundamente significativas dos Evangelhos, cujo papel foi determinante nos momentos finais da vida terrena de Jesus Cristo. Ambos eram membros respeitados da sociedade judaica e encontraram, em segredo, uma fé viva em Jesus, que os levou a gestos de enorme coragem e devoção.
Contexto histórico e religioso
Tanto José de Arimateia como Nicodemos viveram no século I, em plena Judeia, sob domínio romano. Eram homens influentes, membros do Sinédrio, o conselho religioso judaico. O clima religioso da época era marcado por tensões políticas e teológicas, e seguir Jesus abertamente podia significar exclusão ou mesmo perseguição.
Apesar disso, ambos se aproximaram de Jesus de forma gradual e silenciosa, e no momento da sua morte, não hesitaram em agir com compaixão e valentia.
José de Arimateia: discípulo silencioso
José de Arimateia é descrito nos Evangelhos como um homem rico, justo e membro do Sinédrio. Embora seguisse Jesus em segredo por medo das autoridades, tornou-se conhecido pelo seu gesto ousado após a crucifixão. Foi ele quem pediu a Pilatos o corpo de Jesus para lhe dar sepultura digna, num túmulo novo que ele próprio possuía.
Este gesto não só mostrou a sua devoção, como também representou uma profissão de fé num momento em que os próprios discípulos estavam escondidos. José arriscou o seu estatuto social e a sua segurança pessoal para prestar a última homenagem a Jesus.
Nicodemos: buscador da verdade
Nicodemos aparece três vezes no Evangelho segundo São João. Na primeira, visita Jesus à noite, procurando compreender os seus ensinamentos. É neste encontro que Jesus lhe fala sobre o “renascer do alto”, o baptismo e a salvação.
Mais tarde, Nicodemos defende Jesus diante dos fariseus, lembrando que segundo a Lei, qualquer homem tem direito a ser ouvido antes de ser julgado. Finalmente, após a crucifixão, Nicodemos junta-se a José de Arimateia e leva uma grande quantidade de perfumes para preparar o corpo de Jesus, segundo o costume judaico.
Estas aparições revelam uma fé crescente, silenciosa mas firme, culminando num acto de amor e respeito ao Salvador.
O sepultamento de Jesus
Juntos, José de Arimateia e Nicodemos deram a Jesus um sepultamento digno, num túmulo escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido colocado. A preparação do corpo, a unção com mirra e aloés, e a colocação no sepulcro antes do início do sábado, foram actos cuidadosamente realizados, com reverência e pressa, obedecendo às leis judaicas.
Este momento é particularmente simbólico: homens influentes e respeitados assumem publicamente a sua ligação a Jesus, quando os seus seguidores mais próximos estavam em fuga ou escondidos.
Tradição e veneração
A tradição cristã honra ambos como santos, reconhecendo neles modelos de fé amadurecida e corajosa. O gesto de José de Arimateia é recordado especialmente no Sábado Santo, no silêncio do túmulo. Nicodemos é visto como símbolo daqueles que buscam sinceramente a verdade, mesmo que aos poucos.
A Igreja celebra a sua memória no dia 31 de Agosto, em conjunto, como testemunhas do amor e respeito a Cristo crucificado. Na iconografia cristã, são frequentemente representados segurando o corpo de Jesus ou os instrumentos da sepultura.
Mensagem e actualidade
Santos José de Arimateia e Nicodemos ensinam-nos que há momentos em que a fé deve passar do interior para o exterior, mesmo que isso traga riscos. Mostram também que a conversão pode ser um processo gradual, mas sincero, que culmina em actos concretos de caridade, coragem e fidelidade.
Ambos são exemplos para todos os que vivem a fé em ambientes adversos, e para aqueles que, mesmo no silêncio, se mantêm fiéis a Cristo.
Conclusão
Santos José de Arimateia e Nicodemos são figuras discretas, mas com um profundo impacto no mistério da Paixão e da morte de Jesus. Os seus gestos silenciosos falam alto à Igreja de todos os tempos: a fé vivida com coragem, a reverência ao Corpo de Cristo e a busca pela verdade permanecem como marcas vivas do seu testemunho. A sua memória convida cada cristão a sair da hesitação e a agir com amor por Cristo e pelo seu Corpo, que é a Igreja.