Santo Alípio, exemplo de penitência e santidade no deserto da Síria

Santo Alípio, conhecido como o Estilita, é uma das figuras mais impressionantes do ascetismo cristão do primeiro milénio. Como outros estilitas, viveu durante décadas sobre uma coluna, num exercício radical de penitência, oração e testemunho público de fé. A sua vida é marcada por uma austeridade extrema e por uma espiritualidade profunda, que continua a intrigar e inspirar cristãos até hoje.

Origem e juventude

Santo Alípio nasceu no século VI, em Adrianópolis, na região da Paflagónia (actual Turquia). Desde muito jovem demonstrou grande piedade e desejo de seguir uma vida consagrada a Deus. Órfão de pai desde cedo, foi educado pela mãe, que se tornou depois religiosa, inspirando o filho a dedicar-se também à vida espiritual.

Foi ordenado diácono muito jovem e, durante algum tempo, viveu perto de uma igreja dedicada a São Tiago, onde começou a destacar-se pela sua vida de oração e penitência.

A vocação de estilita

Inspirado por outros santos ascetas, como São Simeão Estilita, Alípio construiu uma coluna junto à igreja e subiu ao seu topo, onde passou cerca de 53 anos da sua vida. Este gesto radical não era uma excentricidade, mas uma forma intensa de viver o desprendimento do mundo e consagrar-se inteiramente à contemplação e à penitência.

Durante esse tempo, permaneceu de pé ou encostado a um suporte, exposto ao calor, à chuva e ao frio, rezando constantemente e exortando os peregrinos que o procuravam. Mesmo do alto da sua coluna, continuava a orientar os fiéis, resolver disputas, dar conselhos e confortar os aflitos.

Quando a idade e as dores físicas o impediram de continuar de pé, foi-lhe construída uma pequena cela no topo da coluna, onde viveu os seus últimos 14 anos deitado, sem nunca abandonar o local.

Fama de santidade

A reputação de santidade de Santo Alípio espalhou-se por toda a região. Muitos acorriam a ele em busca de oração, cura, conselhos espirituais e até milagres. A sua presença tornou-se um ponto de referência espiritual e um testemunho vivo de fé radical.

Além da sua vida pessoal de ascese, Alípio fundou dois mosteiros nas proximidades da sua coluna: um para monges e outro para monjas, supervisionando a vida espiritual de ambos com grande dedicação.

A sua fama chegou mesmo a Constantinopla, onde era conhecido e venerado pelos fiéis e também por autoridades eclesiásticas.

Morte e culto

Santo Alípio faleceu com idade avançada, por volta do ano 640, ainda sobre a sua coluna. A sua morte foi considerada por muitos como o fim de uma era do ascetismo extremo no cristianismo oriental. Foi enterrado junto da coluna onde vivera tantos anos.

É venerado como santo pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa, especialmente nas tradições orientais, onde o modelo dos estilitas é mais difundido. A sua festa litúrgica é celebrada a 26 de Novembro.

Espiritualidade e mensagem

A vida de Santo Alípio parece, à primeira vista, quase inacessível à sensibilidade moderna. Contudo, o seu testemunho aponta para verdades profundas e universais: a busca de Deus acima de tudo, o desejo de purificação interior, a oração constante, o desprendimento radical dos bens terrenos, e a oferta da própria vida como sacrifício de louvor.

A sua escolha de viver sobre uma coluna simboliza a separação do mundo e a elevação da alma para Deus, num tempo em que os monges procuravam no deserto e na solidão o caminho para a perfeição cristã.

Conclusão

Santo Alípio, o Estilita, é uma figura extraordinária do ascetismo cristão. A sua vida sobre uma coluna, por mais de meio século, é sinal de uma entrega total e sem reservas a Deus. Num mundo cheio de distrações, o seu exemplo recorda a importância do silêncio, da oração, da penitência e da fidelidade radical. O seu testemunho convida os cristãos a elevar o olhar para o alto, onde está o verdadeiro sentido da vida.

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