Quem pode ser eleito Papa? Mitos e Realidade

A eleição de um novo Papa é um dos momentos mais solenes e observados da vida da Igreja Católica. Milhões de fiéis acompanham com expectativa o fumo que sobe da chaminé da Capela Sistina, símbolo da decisão dos cardeais reunidos em Conclave. Mas, enquanto o mundo observa o resultado, muitas pessoas questionam: afinal, quem pode ser eleito Papa? Será necessário ser cardeal? Pode um leigo ser escolhido? E uma pergunta ousada: uma mulher poderia ser Papa?

1. O que dizem as normas da Igreja?

A eleição do Papa está regulada principalmente pelo Código de Direito Canónico e pela constituição apostólica Universi Dominici Gregis, promulgada por São João Paulo II em 1996.

Segundo o cânone 332 §1 do Código de Direito Canónico e o n.º 88 da Universi Dominici Gregis: “Qualquer homem baptizado pode ser validamente eleito Romano Pontífice, contanto que seja imediatamente ordenado bispo, se ainda não o for.”

Ou seja, não é obrigatório que o eleito já seja cardeal, bispo ou até mesmo padre — mas tem de ser homem, baptizado e católico. Se ainda não for bispo, deve ser ordenado bispo de imediato para poder exercer o pontificado.

2. Tem de ser cardeal?

Não obrigatoriamente.
Embora seja prática comum e quase universal eleger um cardeal, essa não é uma exigência canónica. Historicamente, houve Papas que não eram cardeais no momento da sua eleição, embora o último caso remonte ao século XIV.

Na realidade actual, a eleição de alguém fora do Colégio Cardinalício seria altamente improvável, mas não impossível.

3. Pode um leigo ser eleito Papa?

Tecnicamente, sim.
Um leigo católico baptizado pode ser validamente eleito Papa. No entanto, teria de ser ordenado diácono, padre e bispo de imediato. Esta hipótese, embora juridicamente válida, é considerada impraticável e altamente improvável na realidade da Igreja moderna.

É importante lembrar que os Papas são escolhidos entre aqueles com profundo conhecimento teológico, pastoral e com reconhecida experiência e liderança na Igreja — características pouco prováveis num leigo.

4. Uma mulher pode ser eleita Papa?

Não.
A doutrina da Igreja Católica estabelece que apenas homens podem receber o sacramento da Ordem, ou seja, ser ordenados diáconos, padres ou bispos. Como o Papa deve ser bispo, e como a Igreja não admite a ordenação de mulheres, uma mulher não pode ser eleita Papa.

A lenda de “Papisa Joana”, muito popular na Idade Média, já foi desmentida por historiadores e pela própria Igreja como um mito ou sátira, sem fundamento histórico.

5. É possível eleger alguém de fora do Vaticano?

Sim.
Não há qualquer requisito geográfico ou de nacionalidade. Os Papas mais recentes demonstram isso:

  • João Paulo II (1978) foi o primeiro não-italiano em 455 anos (polaco);
  • Bento XVI (2005) era alemão;
  • Francisco (2013) é argentino, o primeiro da América Latina.

Na teoria, qualquer homem baptizado, em qualquer parte do mundo, poderia ser surpreendido com uma eleição papal — embora na prática, os cardeais tendem a escolher entre os seus pares.

6. A idade tem importância?

Não existe limite máximo de idade.
Desde que o eleito esteja mental e fisicamente apto, pode ser escolhido com qualquer idade. O Papa Bento XVI foi eleito aos 78 anos, e João XXIII aos 76.

Por outro lado, a idade mínima não está definida, mas considera-se que deve ter maturidade pastoral e espiritual para liderar a Igreja. Na prática, nenhum Papa moderno foi eleito com menos de 55 anos.

7. Pode ser eleito alguém que não esteja presente no Conclave?

Sim.
Os cardeais podem eleger qualquer homem baptizado, mesmo que não esteja fisicamente presente na Capela Sistina. Se for escolhido alguém ausente, será contactado e perguntado se aceita. Se disser “sim”, e se não for bispo, é ordenado. No entanto, isso nunca aconteceu nos tempos modernos.

8. Pode ser eleito alguém excomungado?

Curiosamente, sim — mas com reservas.
A Universi Dominici Gregis afirma que todos os cardeais com direito de voto participam no Conclave, mesmo que estejam excomungados. Isto levanta a possibilidade de que até alguém em situação canónica irregular possa ser eleito validamente. No entanto, isso não é aconselhável nem provável, e a Igreja teria de resolver a situação disciplinar antes da posse.

9. Já houve casos insólitos na história?

Sim. A história da Igreja contém casos curiosos:

  • Leão X (1513) foi eleito Papa antes de ser ordenado padre (foi ordenado após a eleição);
  • Gregório XVI (1831) era monge camaldulense e não era bispo nem cardeal no momento da eleição;
  • Em tempos antigos, alguns Papas foram eleitos com forte influência de imperadores e nobres, o que gerou cismas e antipapas.

Hoje, graças às regras do Conclave e ao sigilo absoluto, a escolha é mais livre e espiritual.

Conclusão

A pergunta “Quem pode ser eleito Papa?” tem uma resposta mais ampla do que muitos imaginam. Embora as normas da Igreja permitam que qualquer homem baptizado seja eleito, a realidade mostra que o Colégio de Cardeais tende a escolher alguém experiente, respeitado, com formação sólida e reconhecida liderança pastoral. A figura do Papa é o elo entre a Igreja e o mundo, o sucessor de Pedro, e por isso a escolha recai quase sempre sobre os cardeais mais destacados da Igreja. Ainda assim, a possibilidade teórica de uma escolha fora do esperado mantém o mistério e a expectativa que sempre acompanharam o anúncio do Habemus Papam.

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