Após três anos de reflexão, o Sínodo sobre a Sinodalidade chegou ao fim na noite de 26 de outubro de 2024, quando os 356 membros da assembleia reuniram-se para votar o documento final que sintetiza as discussões e visões partilhadas pelos participantes ao longo do encontro. Realizado na Sala Paulo VI, no Vaticano, o Sínodo contou com a participação de bispos, religiosos e leigos de várias partes do mundo, refletindo sobre temas como a inclusão, a renovação da Igreja, e o papel dos leigos, especialmente mulheres, na vida e na estrutura eclesial.
De forma inesperada, o Papa Francisco aprovou imediatamente o documento, dizendo que não divulgaria uma exortação apostólica pós-sinodal, o tipo de documento papal que geralmente segue um sínodo: “Começámos esta assembleia sinodal a pedir perdão e a sentir vergonha. Não devemos ser rígidos, a rigidez é um pecado que tantas vezes entra nos clérigos, nos consagrados e nas consagradas. À luz do que foi dito, há e haverá decisões a tomar neste tempo de guerra, devemos ser testemunhas da paz. Por isso, não tenciono publicar uma exortação apostólica, basta o que aprovámos, há já indicações muito concretas que podem ser um guia para a missão das Igrejas nos diversos continentes. Ponho-a imediatamente à disposição de todos. Quero que seja publicada imediatamente, é esta a notícia. Não haverá, portanto, exortação apostólica pós-sinodal”. Este texto, entra, assim, imediatamente dentro do magistério do Papa. No entanto, Francisco especificou que não era normativo.
“Quero assim reconhecer o valor do caminho sinodal percorrido, através deste documento que entrego ao povo fiel de Deus. Há necessidade de tempo para chegar a escolhas que envolvam toda a Igreja. Não se trata de adiar indefinidamente as decisões, mas do que corresponde ao estilo sinodal: escutar, convocar, decidir, avaliar. A pausa, a oração são necessárias. O Secretariado Geral do Sínodo ajudar-me-á nesta tarefa. Nem todos o lerão, serão sobretudo vós que o tornareis acessível às Igrejas locais. O que vivemos é um dom e não o podemos guardar para nós. Agora, que as palavras partilhadas sejam acompanhadas de atos”, comentou ainda o Papa Francisco.
O documento, composto por 155 parágrafos, contém inúmeras sugestões e propostas. A questão do lugar e do papel das mulheres na Igreja, muito debatida ao longo dos últimos anos de trabalho, está muito presente. A questão específica sobre as mulheres diáconas, que o Papa tinha deixado de fora desta última sessão, ressurge num parágrafo, mostrando a determinação de alguns membros em garantir que esta reflexão não se perca.
Outro tema significativo foi uma maior responsabilidade partilhada no exercício do ministério episcopal. O documento sublinha que o bispo e o colégio episcopal têm autoridade final, mas que este poder deve estar alinhado a práticas de transparência e prestação de contas, reforçando um espírito de corresponsabilidade e compromisso com a comunidade. O texto também propõe a criação de novas formas de celebrações litúrgicas que reflitam a sinodalidade, incluindo um estilo mais inclusivo e acessível para as diversas comunidades.
O Papa Francisco reforçou a importância de dar voz aos membros das Igrejas orientais e sugeriu que, para preservar as suas tradições, pode ser necessário um sínodo especial. Outros pontos de debate incluem o impacto das mudanças climáticas, o sofrimento de migrantes e refugiados, e a necessidade de um “ministério de escuta” para acolher e integrar aqueles que estão à margem da comunidade eclesial.
O documento final inclui ainda temas sobre a necessidade da Igreja tornar-se mais aberta e acolhedora, acompanhando as diferentes realidades dos fiéis e respondendo aos desafios contemporâneos. O Papa Francisco enfatizou a importância da Igreja transformar-se numa comunidade “sem muros”, que permita maior colaboração entre o clero e os leigos e que se empenhe em responder às questões das novas gerações com empatia e compreensão.
A perspetiva sinodal, que significa “caminhar juntos”, foi destacada como um princípio fundamental para o futuro, incentivando a Igreja a adaptar-se continuamente às necessidades dos tempos e às exigências espirituais dos fiéis. O documento, agora em fase de análise, visa orientar o caminho da Igreja para uma sinodalidade mais profunda, que promova unidade e compaixão como respostas aos desafios da fé moderna.