Neste dia, em 2019, os degraus de mármore da Scala Santa foram destapados para o público

A Scala Santa, ou Santa Escada, é um dos lugares mais venerados da cristandade. Localizada em Roma, junto à Basílica de São João de Latrão, é constituída por 28 degraus de mármore branco, que, segundo a tradição, foram os mesmos que Jesus Cristo subiu no Pretório de Pôncio Pilatos em Jerusalém, no dia da sua Paixão.

Este santuário, carregado de história e devoção, tornou-se um dos pontos centrais de peregrinação, especialmente durante a Idade Média, e continua a ser visitado por milhares de fiéis que sobem os degraus de joelhos em sinal de penitência e oração.

Origem e transladação para Roma

De acordo com a tradição cristã, a escada foi transportada de Jerusalém para Roma por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, no século IV. Santa Helena é conhecida por ter viajado à Terra Santa e trazido consigo várias relíquias ligadas à Paixão de Cristo, como a Vera Cruz e os cravos da crucifixão.

A escada teria sido retirada do Palácio de Pôncio Pilatos e enviada para Roma por volta do ano 326, sendo colocada inicialmente no Palácio de Latrão, residência dos papas durante muitos séculos.

Estrutura e proteção com madeira

Os degraus originais são de mármore branco, mas desde o século XVIII foram revestidos por madeira de nogueira para proteger a superfície, já bastante gasta pelo contato contínuo dos joelhos dos fiéis que subiam a escada em oração.

Durante séculos, apenas pequenas fendas deixavam visíveis partes do mármore, permitindo aos peregrinos tocá-lo ou venerar marcas que, segundo a tradição, seriam de sangue de Cristo.

A devoção e as indulgências

A prática de subir a Scala Santa de joelhos é muito antiga. Vários papas concederam indulgências a quem realizasse este ato de penitência, especialmente durante o Jubileu de 1500, instituído pelo Papa Alexandre VI.

Martinho Lutero, antes da Reforma, também a subiu em 1510, quando visitou Roma. O testemunho conta que, ao chegar ao topo, questionou-se sobre o valor espiritual do gesto — um episódio que teria marcado a sua reflexão sobre a fé e as obras.

Histórias e lendas associadas

  • Diz-se que em alguns pontos da escada existem manchas de sangue de Cristo, visíveis através de pequenas aberturas no revestimento.
  • Durante séculos, peregrinos vinham de toda a Europa para subir a escada, sobretudo em Ano Santo, como forma de alcançar indulgências plenárias.
  • Muitos relatos medievais descrevem a emoção e lágrimas dos fiéis, ao imaginar Jesus a ser condenado à morte exatamente sobre aqueles degraus.

A revelação dos degraus originais em 2019

Um momento histórico ocorreu em 2019, por ocasião dos 300 anos do revestimento de madeira. Pela primeira vez desde o século XVIII, os 28 degraus de mármore foram totalmente destapados.

O evento foi autorizado pelo Papa Francisco, como parte das obras de restauro do complexo Lateranense. Entre Abril e Junho de 2019, os peregrinos puderam subir a escada diretamente sobre o mármore original, tal como teria acontecido antes de 1723.

Este acontecimento atraiu milhares de fiéis de todo o mundo, sendo considerado um momento único e irrepetível, uma vez que, terminado o período de exposição, os degraus voltaram a ser cobertos de madeira para a sua preservação.

A Scala Santa hoje

Atualmente, a Scala Santa continua a ser um lugar de peregrinação privilegiado, especialmente durante a Semana Santa e os Jubileus. Muitos católicos sobem os degraus de joelhos, rezando um Pai-Nosso em cada degrau, em memória da Paixão de Cristo.

O complexo da Sancta Sanctorum, no topo da escada, guarda ainda uma das imagens mais veneradas de Roma: o Acheropita de Cristo (“não feito por mãos humanas”), uma antiga representação de Jesus que remonta ao primeiro milénio.

Conclusão

A Scala Santa é mais do que uma escadaria antiga: é um símbolo da ligação direta entre Jerusalém e Roma, entre a Paixão de Cristo e a devoção dos fiéis ao longo dos séculos. A sua transladação por Santa Helena, a proteção ao longo do tempo e a experiência singular de 2019, quando os degraus de mármore foram revelados, mostram como este espaço continua a ser um ponto de encontro entre a história, a fé e a tradição viva da Igreja.

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