Neste dia, em 1993, o Papa João Paulo II coroava a imagem da Virgem dos Milagres de La Rábida

A devoção à Virgem dos Milagres de La Rábida (em espanhol Nuestra Señora de los Milagros de La Rábida) é uma das mais antigas e veneradas da Andaluzia. A sua imagem, guardada no Mosteiro Franciscano de Santa Maria de La Rábida, em Palos de la Frontera (Huelva, Espanha), está profundamente ligada à história das Descobertas, à espiritualidade franciscana e ao próprio início da evangelização do continente americano.

Origens e o Mosteiro de La Rábida

O Mosteiro de Santa Maria de La Rábida ergue-se junto à foz do rio Tinto, num local que já era habitado desde a Antiguidade. O nome La Rábida vem do termo árabe Rábita, que designava uma antiga torre ou pequeno convento muçulmano dedicado à oração e vigilância costeira.

Após a Reconquista, o lugar foi cristianizado e entregue à Ordem dos Frades Menores (Franciscanos), que fundaram ali um convento entre os séculos XIII e XIV. Desde então, La Rábida tornou-se um refúgio espiritual para navegadores, pescadores e missionários, bem como um ponto de encontro entre a fé e o mar.

A Imagem da Virgem dos Milagres

A imagem venerada no altar principal do mosteiro é uma escultura gótica em madeira policromada, datada do século XV, representando Maria com o Menino Jesus nos braços. O estilo reflete a sobriedade e a ternura típicas da arte religiosa franciscana.

Segundo a tradição, a imagem foi encontrada entre as ruínas de uma antiga ermida costeira, e desde então é invocada como Nossa Senhora dos Milagres, devido às graças e prodígios atribuídos à sua intercessão — especialmente junto dos marinheiros que enfrentavam as incertezas do oceano.

A Virgem e Cristóvão Colombo

O Mosteiro de La Rábida entrou para a história universal por estar diretamente ligado à epopeia das Descobertas.

Em 1485, Cristóvão Colombo chegou ao mosteiro após várias tentativas fracassadas de apresentar o seu projeto de alcançar as Índias navegando para ocidente. Foi recebido e acolhido pelos frades franciscanos, entre eles frei Antonio de Marchena e frei Juan Pérez, que se tornaram seus conselheiros e defensores.

Graças à mediação destes frades, Colombo foi apresentado à corte dos Reis Católicos, Isabel e Fernando, obtendo finalmente o apoio necessário para realizar a expedição que mudaria o curso da história.

Antes da partida das três caravelas (Santa Maria, Pinta e Niña) em 3 de agosto de 1492, Colombo e os marinheiros reuniram-se na capela de La Rábida, onde rezaram diante da Virgem dos Milagres, pedindo proteção para a travessia.

Por isso, Maria de La Rábida é venerada como Padroeira dos Navegantes e das Descobertas, e o seu santuário é considerado berço espiritual do Novo Mundo.

Expansão do Culto e Significado Espiritual

Com o passar dos séculos, a devoção à Virgem dos Milagres espalhou-se por toda a Andaluzia e pelas antigas colónias espanholas. Os frades franciscanos levaram a sua imagem e o seu nome para o continente americano, tornando-a símbolo da fé que acompanhou os primeiros missionários.

A sua presença é, por isso, associada à Evangelização das Américas e ao encontro entre culturas, iluminado pela fé cristã.

Em La Rábida, a Virgem continua a ser celebrada como mãe, guia e intercessora, e o mosteiro mantém-se um lugar de oração, paz e memória histórica.

Coroação Canónica

A devoção secular à Virgem dos Milagres de La Rábida foi solenemente reconhecida pela Igreja com a Coroação Canónica, celebrada a 14 de junho de 1993, por mandato do Papa São João Paulo II.

A cerimónia teve lugar no recinto do Mosteiro, presidida pelo núncio apostólico em Espanha, D. Mario Tagliaferri, e concelebrada por numerosos bispos, sacerdotes e superiores franciscanos.

Os Reis de Espanha, D. Juan Carlos I e D.ª Sofia, foram nomeados padrinhos de honra da coroação, tendo designado a Infanta Cristina de Bourbon para representar a Casa Real e apresentar as coroas que seriam colocadas sobre a imagem da Virgem e do Menino Jesus.

Milhares de fiéis, vindos de toda a Andaluzia e de países da América Latina, participaram na celebração, num gesto de fé e unidade espiritual entre as duas margens do Atlântico.

Na ocasião, São João Paulo II enviou uma mensagem especial, na qual recordou o papel espiritual de La Rábida na história da Igreja e definiu Maria como: “A Estrela que iluminou a rota dos povos do Novo Mundo e continua a guiar os crentes nos caminhos da fé.”

La Rábida hoje: Santuário e Património da Humanidade

Atualmente, o Mosteiro de Santa Maria de La Rábida é reconhecido como Monumento Nacional e Património Mundial pela UNESCO (em conjunto com os Lugares Colombinos de Huelva).

É visitado por peregrinos, historiadores e devotos que buscam reviver o espírito franciscano e mariano que marcou os inícios da era moderna.

Todos os anos, especialmente em agosto, realiza-se uma romaria em honra da Virgem dos Milagres, evocando a oração de Colombo e dos marinheiros antes da grande travessia. O santuário conserva ainda documentos, relíquias e objetos ligados à viagem de 1492, tornando-se um verdadeiro símbolo de fé, cultura e história partilhada.

Conclusão

A Virgem dos Milagres de La Rábida continua a ser um símbolo vivo da fé que uniu continentes e gerações.
No seu olhar materno, os marinheiros de ontem encontraram coragem para enfrentar o desconhecido; e os fiéis de hoje continuam a encontrar esperança e consolo.

Sob o teu manto, Virgem dos Milagres, navegam os corações dos que confiam em Deus.”

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