Neste dia, em 1914, a Catedral de Reims era bombardeada

No dia 29 de julho de 1914, a Europa mergulhava oficialmente na Primeira Guerra Mundial, um conflito que não só destruiu vidas humanas como também profanou lugares sagrados. Poucos dias depois, a majestosa Catedral de Reims, em França, um dos monumentos mais emblemáticos do catolicismo europeu, foi brutalmente atingida pela artilharia alemã. Este ataque não foi apenas um ato de guerra, mas um profundo golpe espiritual, sentido em todo o mundo cristão.

A Catedral de Reims: berço da monarquia e símbolo da fé

A Catedral de Notre-Dame de Reims era muito mais do que um edifício. Ali foram coroado os reis de França durante séculos, num ritual solene que unia o poder temporal ao sagrado. A sua imponência gótica, os vitrais multicoloridos e as esculturas inspiradoras faziam dela um dos mais sublimes templos da cristandade. A destruição da catedral, portanto, não foi apenas uma perda arquitetónica — foi a tentativa de aniquilar um símbolo vivo da identidade cristã e europeia.

O bombardeamento de setembro: fogo e cinzas no altar do Senhor

O ataque mais devastador deu-se a 19 de setembro de 1914, quando as tropas alemãs bombardearam intensamente a cidade de Reims. A catedral, então transformada num hospital militar com centenas de feridos, foi atingida por projéteis que incendiaram o telhado de madeira. O calor foi tão intenso que as estátuas derreteram, os vitrais explodiram, e chamas consumiram o interior outrora repleto de oração e beleza. A imagem do Cristo crucificado carbonizado tornou-se um ícone trágico da destruição.

Reacções da Igreja e do mundo

A destruição da catedral causou indignação internacional. Intelectuais, líderes religiosos e políticos denunciaram o atentado à cultura e à fé. A Igreja Católica considerou o ataque um ultraje à Casa de Deus, e muitos o viram como um símbolo da brutalidade de uma guerra que não poupava sequer o sagrado. A catedral passou a representar, não só a dor de um povo, mas a resistência silenciosa da fé diante da violência.

Reconstrução como ato de esperança

Apesar dos danos profundos, a catedral não foi abandonada. Terminada a guerra, iniciou-se um longo e cuidadoso processo de restauração, apoiado por donativos de fiéis e entidades de vários países. Durante décadas, arquitetos, artistas e operários dedicaram-se a devolver a beleza ao templo ferido. A reabertura da catedral, em meados do século XX, foi um sinal eloquente de que a fé cristã pode ser abalada, mas nunca destruída.

Um apelo à preservação do sagrado

A destruição da Catedral de Reims recorda-nos que os lugares sagrados são também sinais da nossa memória, da nossa fé e da nossa cultura comum. Em tempos de guerra ou de paz, é dever de todos protegê-los como reflexo da transcendência que habita no coração da humanidade. Reims permanece de pé, hoje restaurada, como testemunho de que a beleza sagrada resiste às trevas da destruição.

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