Neste dia, em 1898, era publicada a primeira edição do livro “História de uma Alma” de Santa Teresinha do Menino Jesus

A obra “História de uma Alma”, publicada pela primeira vez a 30 de setembro de 1898, um ano após a morte de Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), tornou-se um dos livros espirituais mais lidos e influentes da Igreja Católica. Traduzido em dezenas de línguas e espalhado por todo o mundo, este livro não nasceu de uma vontade editorial, mas de uma história íntima de obediência, simplicidade e amor, escrita por uma jovem carmelita em clausura, a pedido das suas superioras.

O Contexto da Escrita

Santa Teresinha, cujo nome religioso era Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, ingressou no Carmelo de Lisieux em 1888, com apenas 15 anos. A sua vida no convento foi marcada por uma espiritualidade profunda, centrada na “pequena via” da confiança e do abandono total a Deus.

Durante os últimos anos da sua vida, a Madre Inês de Jesus (Paulina, irmã de Teresa), que era então priora do Carmelo, pediu-lhe que escrevesse as recordações da sua infância e juventude. O pedido foi feito em janeiro de 1895, como exercício de memória e também como testemunho de edificação para a comunidade. Teresa, obediente, começou a escrever os seus manuscritos em cadernos escolares simples.

O Processo da Escrita: Os Três Manuscritos

O livro “História de uma Alma” é composto por três manuscritos principais, redigidos em momentos e circunstâncias diferentes:

  1. Manuscrito A – (janeiro a junho de 1895)
    Escrito a pedido da Madre Inês de Jesus, é um relato autobiográfico da infância e adolescência de Teresa, onde descreve com ternura a sua família, a perda precoce da mãe, a sua vocação precoce e o caminho até ao Carmelo.
  2. Manuscrito B – (junho de 1896)
    Solicitado por Madre Maria do Sagrado Coração (Maria, outra das suas irmãs carmelitas), este é o mais íntimo e teológico dos textos. Teresa revela nele a sua descoberta da “pequena via” da confiança absoluta em Deus, mesmo na fragilidade. É considerado o coração da sua mensagem espiritual.
  3. Manuscrito C – (junho de 1897, já gravemente doente)
    Escrito por obediência à Madre Inês, quando Teresa sofria com a tuberculose. Este texto mostra a sua maturidade espiritual, unindo o sofrimento à alegria do amor, e é o mais próximo do seu “testamento espiritual”.

Todos os manuscritos foram escritos à mão, em cadernos simples, sem pretensão literária. A linguagem é espontânea, íntima, e revela a alma de uma jovem que queria apenas amar a Deus no quotidiano e nas pequenas coisas.

A Primeira Edição de 1898

Após a morte de Santa Teresinha, em 30 de setembro de 1897, as suas irmãs e superioras do Carmelo de Lisieux decidiram compilar os três manuscritos. Madre Inês foi a principal responsável pela edição. A primeira edição, impressa em 30 de setembro de 1898, no aniversário da sua morte, foi publicada em Lisieux com o título completo:

“Histoire d’une Âme. Écrits de sœur Thérèse de l’Enfant Jésus et de la Sainte Face, religieuse carmélite de Lisieux, morte en odeur de sainteté le 30 septembre 1897, à l’âge de 24 ans”.

A tiragem inicial foi de 2.000 exemplares, destinados principalmente a religiosas carmelitas e amigos do convento. Contudo, rapidamente a obra se espalhou para além das fronteiras de Lisieux, ganhando uma popularidade inesperada.

A Difusão e o Impacto

O sucesso imediato da obra foi impressionante: novas edições surgiram em poucos anos, com milhares de exemplares distribuídos em toda a França e, em breve, traduzidos para outras línguas.

  • Em 1914, apenas 16 anos após a primeira edição, já circulavam mais de 200.000 exemplares.
  • Em 1925, ano da canonização de Teresa, o livro já estava traduzido em mais de 30 línguas.
  • Hoje, “História de uma Alma” é considerado um clássico da espiritualidade cristã, inspirando milhões de fiéis em todo o mundo.

Conclusão

A publicação da primeira edição de “História de uma Alma”, em setembro de 1898, não foi fruto de ambições editoriais, mas da simples obediência de uma jovem carmelita que escreveu por amor e humildade. O processo de escrita, feito em três etapas diferentes e motivado pelos pedidos das suas irmãs e superioras, revela não apenas a trajetória espiritual de Teresa, mas também a riqueza da sua doutrina da pequena via, feita de confiança, abandono e amor nas pequenas coisas.

Hoje, este livro continua a ser um dos maiores tesouros espirituais da Igreja, mostrando como a voz de uma jovem de clausura se tornou universal e intemporal.

Partilha esta publicação:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *