Neste dia, em 1666, a Cátedra de São Pedro era colocada no atual relicário de bronze dourado

Entre as relíquias mais veneradas da cristandade, destaca-se a Cátedra de São Pedro, uma antiga cadeira de madeira que, segundo a tradição, pertenceu ao próprio apóstolo Pedro, o primeiro Papa da Igreja.
Guardada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, esta relíquia é um dos maiores símbolos da autoridade espiritual e pastoral conferida por Cristo ao seu apóstolo:

Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.” (Mt 16,18)

A Cátedra de São Pedro é, assim, não apenas um objeto histórico, mas uma testemunha material da sucessão apostólica, expressão visível da missão confiada por Cristo à Igreja.

As origens da Cátedra apostólica

Segundo a tradição, o Apóstolo Pedro utilizou esta cadeira em Antioquia e, mais tarde, em Roma, quando exercia o ministério episcopal sobre a comunidade cristã da cidade. Terá sido a cadeira onde o apóstolo ensinava e presidia às assembleias dos primeiros fiéis, símbolo da sua autoridade e do seu serviço pastoral.

Com o passar dos séculos, a relíquia foi conservada e venerada pelos primeiros cristãos romanos.
Documentos do século IV já mencionam a existência de uma “cathedra Petri” (cadeira de Pedro) guardada com devoção.

Durante a Alta Idade Média, a cadeira foi envolta em camadas de madeira e marfim, de modo a protegê-la, e guardada nas propriedades papais do Palácio de Latrão.

A chegada à Basílica de São Pedro

No século IX, o Papa João VIII mandou transferir a Cátedra de São Pedro para a antiga Basílica Constantina, construída sobre o túmulo do apóstolo. Mais tarde, durante o pontificado de Paulo IV (1555–1559), a relíquia foi trasladada para a nova Basílica de São Pedro, cuja construção estava em curso desde 1506.

Durante séculos, a cadeira foi mantida num relicário de madeira e bronze, e era ocasionalmente exposta aos fiéis em cerimónias solenes. Contudo, foi no século XVII que esta relíquia ganhou o seu enquadramento artístico e teológico definitivo.

A grandiosa escultura de Bernini

O Papa Alexandre VII (1655–1667) confiou ao génio de Gian Lorenzo Bernini (1598–1680) a tarefa de criar um monumento digno para abrigar e venerar a relíquia.

A obra foi concluída a 17 de janeiro de 1666, e hoje pode ser admirada no fundo da Basílica de São Pedro, acima do altar da Cátedra, na abside central.

Bernini criou uma composição monumental, de estilo barroco, que conjuga arquitetura, escultura e luz num profundo simbolismo espiritual.

A estrutura da obra

A Cátedra de São Pedro está encerrada dentro de um trono de bronze dourado, sustentado por quatro imponentes doutores da Igreja — dois do Ocidente e dois do Oriente:

  • Santo Ambrósio e Santo Agostinho, representando a Igreja latina;
  • São João Crisóstomo e São Atanásio, representando a Igreja grega.

Estas figuras sustentam a cátedra como que em atitude de veneração e serviço, simbolizando a sabedoria e a doutrina que sustentam o Magistério da Igreja.

Acima da obra, Bernini abriu uma enorme janela oval de alabastro translúcido, iluminada por detrás, representando o Espírito Santo sob a forma de uma pomba branca — o mesmo Espírito que guiou Pedro e continua a guiar os seus sucessores.

Quando a luz do entardecer atravessa o vitral dourado, todo o conjunto parece irradiar vida, simbolizando o fogo divino que inspira e confirma o ministério petrino.

A inscrição e o significado espiritual

Na base do altar lê-se uma inscrição em latim:
O Pastor de toda a Igreja alimenta as ovelhas e os cordeiros de Cristo.”

O conjunto escultórico não é apenas uma homenagem artística: é uma catequese em bronze e luz, que exprime o mistério da autoridade apostólica iluminada pelo Espírito Santo.

A verdadeira “cátedra” — o trono do Papa — não é apenas um objeto físico, mas o ministério espiritual de ensinar, santificar e governar a Igreja. Bernini conseguiu transformar essa ideia teológica numa obra visível, grandiosa e profundamente devocional.

A relíquia autêntica no interior

No interior do trono de bronze encontra-se a cadeira original de madeira, a autêntica Cátedra de São Pedro.

Estudos realizados durante o pontificado de Pio XII, em 1949, confirmaram que a cadeira é feita de carvalho, datável entre os séculos VI e IX, embora contenha partes ainda mais antigas, possivelmente preservadas desde o período apostólico. A relíquia apresenta inscrições e encaixes que indicam que foi transportada e reforçada várias vezes ao longo dos séculos, o que reforça a tradição da sua antiguidade.

As vezes em que foi exibida ao público

Por ser considerada uma das relíquias mais preciosas da Igreja, a Cátedra de São Pedro raramente é exposta.
Contudo, há registos de algumas ocasiões históricas em que foi mostrada aos fiéis:

  • 17 de janeiro de 1666 – Após a conclusão da obra de Bernini, o Papa Alexandre VII presidiu à solene entronização da relíquia na Basílica de São Pedro, com procissão e bênção pública.
  • 17 de janeiro de 1867 – Durante o pontificado de Pio IX, a Cátedra foi aberta e exibida no contexto das celebrações do XVIII centenário do martírio de São Pedro e São Paulo.
  • 22 de fevereiro de 1968 – Por ocasião da festa da Cátedra de São Pedro, o Papa Paulo VI autorizou uma breve exposição pública da relíquia no interior da basílica, durante as celebrações do Ano da Fé (1967–1968).
  • 22 de fevereiro de 2012 – O Papa Bento XVI celebrou a Missa da Cátedra de São Pedro e reabriu simbolicamente o altar, permitindo a visão direta do relicário interior, num gesto de comunhão com o magistério de Pedro.
  • Em novembro de 2024 – O Papa Francisco permitiu a exibição para os especialistas da Santa Sé fazerem uma série de testes de diagnóstico com o gabinete de pesquisa científica dos Museus do Vaticano.

A relíquia permanece desde então oculta dentro da estrutura de Bernini, visível apenas simbolicamente, mas espiritualmente presente para todos os fiéis.

A Festa da Cátedra de São Pedro

A Igreja celebra anualmente a Festa da Cátedra de São Pedro a 22 de fevereiro, uma data de origem antiquíssima, já mencionada nos calendários litúrgicos do século IV.
Nesta festa, a Igreja agradece a Cristo por ter instituído o ministério de Pedro e confiado à Igreja a missão de ensinar com autoridade e fidelidade à verdade divina.

O Papa preside habitualmente à Missa na Basílica de São Pedro, diante do monumento de Bernini, iluminado de forma especial, recordando que a Cátedra é sinal da unidade da Igreja em torno do sucessor de Pedro.

Conclusão

A Cátedra de São Pedro é mais do que uma relíquia antiga: é o símbolo vivo da continuidade apostólica que liga o primeiro Papa a todos os seus sucessores.
A cadeira onde Pedro se sentou para ensinar o Evangelho tornou-se o trono espiritual de todos os pontífices, sustentado pela fé, pela doutrina e pela ação do Espírito Santo.

Ao contemplar a obra-prima de Bernini, envolta pela luz dourada do vitral do Espírito Santo, o fiel é convidado a recordar que a Igreja é guiada por Deus através da voz do Pastor universal, e que o mesmo Espírito que inspirou Pedro continua hoje a iluminar a barca de Cristo.

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