Neste dia, desde 1463, o corpo incorrupto de Santa Catarina de Bolonha está exposto ao público

Entre as santas mais admiradas da Igreja Católica, Santa Catarina de Bolonha destaca-se pela sua profunda vida espiritual, pelo testemunho de humildade e arte, e pelo extraordinário estado incorrupto do seu corpo, preservado há mais de cinco séculos. A sua vida é uma ponte entre a fé, a arte e a mística cristã, oferecendo ainda hoje um exemplo luminoso de santidade e contemplação.

Origens e infância

Catarina de Vigri nasceu em Bolonha (Itália), a 8 de setembro de 1413, numa família nobre. O pai, João de Vigri, era diplomata ao serviço de Nicolau III d’Este, marquês de Ferrara, o que levou a jovem Catarina a crescer num ambiente de corte e cultura refinada. Desde cedo, revelou inteligência viva, gosto pelas letras e pela pintura, além de profunda piedade.

Aos 11 anos, foi enviada à corte de Ferrara para ser dama de companhia de Margarida d’Este, filha do marquês. Nesse ambiente cortesão, Catarina teve contacto com a música, a literatura e a arte — dons que mais tarde colocaria ao serviço de Deus.

Vocação religiosa

Apesar do luxo e do prestígio da corte, Catarina sentia um vazio interior. Movida por um desejo ardente de consagração total a Cristo, deixou a vida palaciana e ingressou, em 1426, num convento de religiosas leigas dedicadas a Santa Úrsula, em Ferrara.

Poucos anos depois, quando a comunidade adotou a Regra de Santa Clara, Catarina professou votos solenes como clarissa, abraçando uma vida de pobreza e penitência. Recebeu o nome de Irmã Catarina de Bolonha, e passou a dedicar-se inteiramente à oração, à leitura espiritual, à escrita e à pintura sacra.

Vida espiritual e obras

Santa Catarina foi notável pela profundidade da sua vida mística. Viveu experiências espirituais intensas, com visões de Cristo, da Virgem Maria e dos anjos. Uma das mais conhecidas é a visão em que viu o Menino Jesus nos braços da Virgem, que lhe sorriu ternamente.

Escreveu várias obras de espiritualidade, sendo a mais famosa o tratado “As Sete Armas Espirituais” (Le sette armi spirituali), concluído em 1438. Nesta obra, Catarina ensina como vencer as tentações e alcançar a santidade através da humildade, da fé, da paciência e da caridade. O livro é considerado um clássico da literatura mística do século XV e foi amplamente difundido nos conventos clarianos.

Além de escritora, Catarina foi também pintora e miniaturista talentosa. Pintava imagens devocionais e ilustrações de manuscritos, muitas das quais ainda se conservam. Uma das pinturas atribuídas à santa é um pequeno retrato de São Francisco recebendo os estigmas.

O convento de Bolonha e a fama de santidade

Em 1456, por pedido do bispo e da comunidade, Catarina regressou à sua cidade natal para fundar o Mosteiro do Corpus Domini, onde se tornou abadessa. A sua liderança era marcada por caridade, disciplina e profunda fé. As suas irmãs relatavam que a madre Catarina possuía o dom da profecia e da leitura das consciências, além de visões do Purgatório e do Céu.

Com o passar dos anos, a sua saúde enfraqueceu devido às penitências rigorosas. Faleceu a 9 de março de 1463, com 49 anos, cercada pelas suas irmãs e recitando orações.

O corpo incorrupto

O acontecimento mais surpreendente da história de Santa Catarina ocorreu a 27 de março, 18 dias após a sua morte, quando as religiosas decidiram trasladar o corpo para um local mais digno dentro do convento. Ao abrirem o túmulo, encontraram o corpo perfeitamente incorrupto, flexível e com o rosto sereno, como se estivesse viva.

Decidiram então colocá-la sentada — posição que, segundo relatos, refletia a dignidade e serenidade da abadessa —, e assim permanece até hoje.

O corpo incorrupto de Santa Catarina encontra-se exposto no Mosteiro do Corpus Domini, em Bolonha, sentado numa cadeira e vestido com o hábito das clarissas. Apesar da passagem de mais de 560 anos, o corpo mantém-se preservado, sendo um dos exemplos mais notáveis de incorruptibilidade reconhecidos pela Igreja.

Canonização e culto

A fama de santidade espalhou-se rapidamente. Catarina foi beatificada em 1524 pelo Papa Clemente VII e canonizada em 1712 pelo Papa Clemente XI.
É considerada padroeira dos pintores, dos artistas e das estudantes, pela sua combinação de talento intelectual e amor divino.

A sua festa litúrgica celebra-se a 9 de março, dia da sua morte.

Santa Catarina de Bolonha na atualidade

Hoje, o Mosteiro do Corpus Domini, em Bolonha, é um dos locais mais visitados por peregrinos e fiéis. O corpo incorrupto da santa é exposto numa pequena capela, atrás de uma grade de vidro, em ambiente de grande recolhimento.
Todos os anos, no dia da sua festa, o corpo é cuidadosamente limpo e as clarissas organizam uma missa solene, que atrai devotos de toda a Itália e do mundo.

Além disso, as “Sete Armas Espirituais” continuam a ser publicadas e estudadas, inspirando religiosos e leigos que procuram aprofundar a vida interior. O testemunho de Catarina recorda que a santidade é acessível a quem une oração, arte e serviço humilde.

Em 2013, por ocasião dos 600 anos do seu nascimento, a cidade de Bolonha e a Ordem das Clarissas realizaram celebrações especiais, com exposições das suas pinturas e manuscritos.

Conclusão

Santa Catarina de Bolonha é um exemplo luminoso de mulher que uniu fé, inteligência e arte ao serviço de Deus. A sua vida mostra que a verdadeira sabedoria nasce da união com Cristo e da contemplação do seu amor.
O seu corpo incorrupto, que desafia o tempo e a corrupção da matéria, é um sinal visível da promessa divina de que “os que crêem em Cristo não morrerão para sempre”.

Mais do que um milagre físico, a sua vida e obra continuam a falar ao coração do mundo moderno: a beleza e a santidade são inseparáveis quando a alma se entrega totalmente a Deus.

Partilha esta publicação:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *