Neste dia, em 1279, era descoberto o túmulo de Maria Madalena

A figura de Maria Madalena ocupa um lugar de destaque na tradição cristã: testemunha da morte e ressurreição de Cristo, reconhecida pelos evangelhos como “apóstola dos apóstolos”. Ao longo dos séculos, sua memória foi acompanhada por uma rica tradição de peregrinação e veneração de relíquias atribuídas a ela. Dentre essas tradições, encontra-se a lenda da sua presença na Provença (França) e a descoberta do túmulo em Saint‑Maximin‑la‑Sainte‑Baume, bem como a dispersão e veneração das relíquias ao redor do mundo.

A tradição da presença de Maria Madalena na Provença e a descoberta do túmulo

Segundo a tradição popular francesa, após a ascensão de Cristo, Maria Madalena, juntamente com Marta, Lázaro e outros discípulos, teria viajado ao Ocidente e chegado ao território da hoje Provença. Ali, ela teria vivido em eremitério na caverna da La Sainte‑Baume, até sua morte.

Em 1279, o conde Carlos II de Anjou ordenou escavações em Saint-Maximin e, segundo o relato, no dia 9 de dezembro de 1279 foi descoberto um sarcófago de mármore sob o chão da cripta, identificado como o túmulo de Maria Madalena.

O relato medieval fala que, ao abrir-se o sepulcro, um perfume de rosas encheu o ambiente — recordando o episódio em que Maria unge os pés de Jesus com perfume. Dentro do sarcófago foi encontrada uma inscrição em latim: “Hic corpus Mariae Magdalenae” (“Aqui jaz o corpo de Maria Madalena”).

Esta descoberta marcou o crescimento da fama do santuário de Saint-Maximin-la-Sainte-Baume, onde são veneradas relíquias atribuídas à santa até hoje.

Principais relíquias atribuídas a Maria Madalena e seus locais

Diversos fragmentos atribuídos à santa encontram-se em locais diferentes. Segundo os registros, entre as relíquias mais reconhecidas estão:

  • O crânio (ou parte dele) da Santa: Em Saint-Maximin-la-Sainte-Baume encontra-se numa cripta sob a basílica uma grande urna de ouro que abriga o que se denomina “crânio de Maria Madalena”.
  • Fragmento do pé esquerdo (ou ossos da perna): Na Basílica de São João Batista dos Florentinos (em Roma) está uma relíquia da perna/esquerda da santa, identificada em 2000.
  • Mão esquerda: A alegada mão esquerda incorrupta de Santa Maria Madalena é uma relíquia venerada no Mosteiro de Simonopetra, no Monte Athos, na Grécia. Acredita-se que esta relíquia, mantida intacta milagrosamente, mantém uma temperatura corporal, exala uma fragrância agradável e está associada a inúmeros milagres.
  • Outras relíquias menores dispersas: De acordo com recenseamentos modernos, há fragmentos e dentes expostos no Museu Metropolitano de Arte em Nova Iorque.

A trajetória e o “registro” da relíquia principal

Após a exumação de 1279, o túmulo foi transformado em local de peregrinação. D.Carlos II mandou edificar uma nova basílica em Saint-Maximin. A relíquia (o crânio) permaneceu em Saint-Maximin, sendo objeto de procissão anual no domingo mais próximo de 22 de julho (festa de Maria Madalena).

Durante a Revolução Francesa e em períodos posteriores, parte das relíquias foram saqueadas ou perdidas, mas o santuário as recuperou ou substituiu o seu relicário.

Problemas de historicidade e crítica

É importante notar que, embora a veneração seja antiga e institucionalizada, a autenticação científica plena das relíquias não é universalmente aceita. Por exemplo, na análise de 1974 o “crânio” de Maria Madalena em Saint-Maximin foi identificado como provável de uma mulher de descendência mediterrânea que viveu aproximadamente até aos 50 anos, mas a datação exata não foi autorizada pela Igreja.
Portanto, a Igreja católica trata essas relíquias com prudência: elas são objeto de veneração, mas não são requisitos obrigatórios para a fé.

Significado devocional e impacto para os peregrinos

A descoberta do túmulo de Maria Madalena em Saint-Maximin e a veneração das suas relíquias criaram um centro mariano e de peregrinação de grande importância na Provença. A caminhada até a caverna de La Sainte-Baume, a visita à cripta da basílica e a veneração das relíquias convidam à reflexão sobre o chamado à conversão, ao seguimento de Cristo mesmo nas margens da sociedade — tal como Maria Madalena experimentou.

As relíquias — o crânio, os ossos do pé, a suposta mão — apesar das dúvidas históricas, funcionam como sinais visíveis da santidade, instrumentos para fomentar a oração, a intercessão e a comunhão dos fiéis com os santos.

Conclusão

A história da descoberta do túmulo de Maria Madalena em Saint-Maximin-la-Sainte-Baume, no século XIII, e a veneração das relíquias atribuídas a ela formam uma rica tradição de fé, peregrinação e devoção. Embora a autenticação histórica permaneça parcial, o valor espiritual destas relíquias — e o seu papel no culto mariano e apostólico — permanece significativo.

Para o cristão de hoje, a presença dessas relíquias recorda que a santidade é visível na história, que os testemunhos humanos continuam a inspirar, e que a comunhão dos santos nos aproxima de Cristo e do mistério da redenção.

“Naquele túmulo, Maria escolheu o silêncio da fé; e nas relíquias, a Igreja recorda que até a morte de um discípulo é parte da vida divina que venceu a morte.”

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