Em 1984, a Igreja Católica viveu um momento que viria a transformar profundamente a sua relação com as novas gerações: o Jubileu Internacional da Juventude, celebrado em Roma entre 14 e 15 de abril de 1984, por ocasião do Ano Santo da Redenção (1983–1984). Convocado por São João Paulo II, este encontro reuniu jovens de todo o mundo para celebrar a fé, a reconciliação e a esperança, e tornou-se o embrião da futura Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
O contexto: o Ano Santo da Redenção (1983–1984)
O Papa João Paulo II proclamou o Ano Santo da Redenção a 25 de março de 1983, para assinalar o 1950.º aniversário da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
O Jubileu pretendia renovar na Igreja a consciência do mistério da salvação e convidar todos os fiéis à conversão e reconciliação.
Durante aquele ano, milhões de peregrinos acorreram a Roma, e o Papa quis que os jovens também tivessem um momento privilegiado para viver o Jubileu. Assim, foi convocado um encontro especial, designado Jubileu Internacional da Juventude, a realizar-se na cidade eterna, junto do túmulo de São Pedro.
A convocação do Jubileu da Juventude
Em janeiro de 1984, João Paulo II dirigiu um convite aberto a todos os jovens do mundo:
“Convido-vos a vir a Roma, à casa de Pedro, para celebrar juntos o Ano Santo da Redenção. Vinde com o vosso entusiasmo e a vossa fé, como peregrinos da esperança.”
A resposta foi surpreendente. Cerca de 300 mil jovens de mais de 80 países atenderam ao apelo e dirigiram-se a Roma, trazendo consigo bandeiras, cânticos e alegria. Era um sinal claro de que a juventude desejava ser protagonista da vida da Igreja e não apenas espectadora.
As celebrações em Roma — 14 e 15 de abril de 1984
O Jubileu da Juventude decorreu no fim de semana de Ramos, entre 14 e 15 de abril, e teve como locais principais a Basílica de São Pedro e o Circo Máximo.
O programa incluiu momentos de oração, confissão, catequese, procissões, celebrações eucarísticas e um grande encontro com o Papa João Paulo II.
A atmosfera era de entusiasmo e profunda espiritualidade: milhares de jovens rezavam juntos, cantavam e partilhavam a fé em diferentes línguas.
No sábado, 14 de abril, o Papa recebeu os jovens na Praça de São Pedro, exortando-os com palavras que ficariam gravadas na memória da Igreja:
“Vós sois a esperança da Igreja e do mundo. Em vós está o futuro, mas também o presente da fé viva.”
No domingo, 15 de abril, celebrou-se a Missa de Ramos, que simbolicamente encerrava o Ano Santo e abria uma nova etapa no diálogo da Igreja com a juventude.
A entrega da Cruz da Redenção — símbolo da juventude cristã
Um dos momentos mais marcantes do Jubileu foi a entrega da grande Cruz do Ano Santo aos jovens, o que ocorreu na semana seguinte.
Esta Cruz da Redenção, feita em madeira simples, tinha sido colocada por João Paulo II junto do altar principal da Basílica de São Pedro durante todo o Jubileu como sinal da misericórdia e do amor de Cristo.
No final da celebração, o Papa confiou-a simbolicamente aos jovens, dizendo:
“Queridos jovens, confio-vos o sinal deste Ano Santo: a Cruz de Cristo. Levai-a pelo mundo como sinal do amor do Senhor Jesus à humanidade e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção.”
Esta Cruz do Ano Santo tornar-se-ia, a partir de então, a “Cruz dos Jovens”, peregrinando por todo o mundo e tornando-se o símbolo permanente das Jornadas Mundiais da Juventude.
O impacto espiritual e pastoral
O Jubileu de 1984 representou uma verdadeira revolução pastoral. O entusiasmo, a comunhão e a fé demonstrados pelos jovens impressionaram profundamente João Paulo II, que percebeu ali um sinal claro da ação do Espírito Santo.
O Papa ficou particularmente tocado pela força espiritual que emergia das novas gerações e pela sua vontade de viver a fé de modo alegre, comunitário e missionário.
Pouco tempo depois, João Paulo II diria aos responsáveis do Pontifício Conselho para os Leigos:
“Aquilo que vivemos com os jovens em Roma não deve ser um episódio isolado, mas o início de um caminho.”
A semente da Jornada Mundial da Juventude
O Jubileu da Juventude de 1984 lançou as bases para uma nova forma de pastoral juvenil universal.
No ano seguinte, 1985, a ONU proclamou o Ano Internacional da Juventude, e o Papa voltou a convocar os jovens para um novo encontro em Roma — o Encontro Mundial da Juventude de março de 1985 — que consolidou definitivamente o projeto.
Foi então, ainda em 1985, que João Paulo II instituiu oficialmente a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), com uma dimensão anual diocesana e periódica internacional.
Assim, o Jubileu de 1984 é reconhecido como a origem direta e espiritual da JMJ — o momento em que o Papa confiou aos jovens o símbolo da Cruz e o convite a levar Cristo ao mundo.
O legado do Jubileu de 1984
O Jubileu da Juventude de 1984 continua a ser recordado como um dos marcos mais inspiradores do pontificado de São João Paulo II. Ele inaugurou uma nova forma de encontro global de fé, marcada pela alegria, comunhão e protagonismo juvenil.
A Cruz que foi entregue naquela celebração continua a peregrinar pelos cinco continentes, tocando milhões de corações e renovando o espírito do Jubileu da Redenção.
Para muitos, aquele fim de semana em Roma foi a semente da maior celebração católica de juventude do mundo, a Jornada Mundial da Juventude, e um testemunho da visão profética de João Paulo II, que soube ver nos jovens não apenas o futuro, mas o presente vivo da Igreja.
Conclusão
O Jubileu Internacional da Juventude de 1984 foi mais do que uma celebração: foi um ato fundacional, o ponto de partida de um caminho de fé, esperança e comunhão que ainda hoje continua.
Através da Cruz confiada aos jovens, São João Paulo II quis recordar que a força da juventude cristã nasce do amor redentor de Cristo.
Dessa forma, o Jubileu de 1984 não terminou em Roma: ele prossegue, renovado em cada geração que acolhe o mesmo apelo, “Ide e levai Cristo ao mundo!”
