Neste dia, em 2016, era assinada a declaração conjunta do Papa Francisco e do Patriarca Cirilo

Declaração conjunta do Papa Francisco e do Patriarca Cirilo teve lugar no dia 12 de fevereiro de 2016 durante o encontro entre o Papa Francisco, líder da Igreja Católica Apostólica Romana, e Cirilo, Patriarca de Moscovo e de toda a Rússia, o primado da Igreja Ortodoxa Russa. Foi a primeira vez que um papa e um patriarca moscovita encontraram-se. Nas notícias o encontro foi concebido como um evento simbólico no processo do estreitamento de relações entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, que se separaram durante o Grande Cisma de 1054.

Contexto histórico

Desde o Grande Cisma de 1054, a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa dividiram-se formalmente. A separação incluiu excomunhões mútuas e profundas divergências teológicas, culturais e jurisdicionais.

Ao longo dos séculos, houve várias tentativas de reconciliação ou de aproximação: os encontros entre Papas e Patriarcas, a Declaração Conjunta Católico-Ortodoxa de 1965 que removeu as excomunhões de 1054, etc.

O Patriarcado de Moscovo, liderado por Cirilo (Patriarca desde 2009), manteve laços relativamente estreitos com o Estado Russo, o que adiciona uma dimensão política às relações e atos ecuménicos.

O Papa Francisco, desde o início do seu pontificado, manifestou forte interesse em diálogo, humildade, e iniciativas de reconciliação, tendo dito em novembro de 2014: “Eu irei onde você quiser. Você chama-me e eu irei lá“. O acordo do lado russo ortodoxo foi mais complicado porque essa igreja mantém laços estreitos com o governo russo.

O encontro

O encontro teve lugar no dia 12 de fevereiro de 2016 no aeroporto José Martí, Havana, Cuba, um local “neutro”, escolhido para não favorecer nenhum dos lados. O Papa Francisco estava de viagem diplomática pela América Latina, e o Patriarca Cirilo fazia uma visita à região.

O encontro foi de cerca de duas horas, com troca de presentes e conversações privadas, seguido da assinatura da declaração conjunta. Francisco ofereceu a Cirilo um cálice e uma relíquia de São Cirilo. Cirilo ofereceu ao Papa uma cópia do ícone da Virgem de Kazan.

Conteúdo da declaração

A declaração conjunta consiste de cerca de 30 pontos ou seções, cobrindo temas amplos, muitos dos quais de preocupação comum para as duas Igrejas. Principais pontos:

  • Reconhecimento do encontro como histórico, irmãos na fé cristã; desejo de que o documento contribua para a unidade desejada por Deus.
  • Enfoque em desafios atuais: perseguição de cristãos, especialmente no Oriente Médio (Síria, Iraque), migração forçada e sofrimento humanitário.
  • Defesa da liberdade religiosa e da dignidade humana, crítica ao secularismo e ao relativismo ético.
  • Valorização da família como união entre homem e mulher, respeito pela vida, oposição a quaisquer formas de discriminação ou desvalorização dos doentes, idosos.
  • Apelo à cooperação prática, não apenas diálogo teológico: trabalhar juntos nos serviços sociais, no auxílio aos mais vulneráveis, no testemunho cristão nas situações de crise.

Impacto e consequências

O encontro e a declaração foram amplamente vistos como um gesto simbólico de reconciliação, algo esperado há décadas, porque era a primeira vez que um Papa se encontrava oficialmente com um Patriarca de Moscovo.

A declaração reforçou a importância do ecumenismo no século XXI, mostrando que as Igrejas católica e ortodoxa russa podem cooperar em temas urgentes sem, porém, resolver todas as diferenças teológicas ou jurisdicionais.

Politicamente, foi interpretada também como um gesto diplomático de peso: por exemplo, a Rússia conseguiu visibilidade internacional através deste encontro; por outro lado, também há vozes que criticaram que tal gesto pudesse ser percebido como apoio indireto a políticas estatais russas, especialmente nos conflitos da Síria e Ucrânia.

Reações

Muitos meios de comunicação qualificaram o encontro como “histórico”, “milagre ecuménico”, “gesto de esperança”.

Havia entusiasmo entre católicos e ortodoxos fiéis sobre o significado simbólico da união dos líderes. Contudo, também houve dúvidas e reservas: aqueles que acham que o encontro teve pouco impacto prático imediato nos problemas internos das igrejas, ou que pode mascarar tensões não resolvidas.

Foi usado como oportunidade diplomática tanto pelo Vaticano quanto pela Rússia, especialmente num momento em que a política internacional russa estava sob escrutínio por intervenções no Oriente Médio e Ucrânia.

Alguns comentadores críticos apontaram que o encontro e a declaração privilegiaram temas de consenso em vez de realmente enfrentar as divergências teológicas mais profundas. Outros manifestaram preocupação de que a Igreja Ortodoxa Russa esteja muito próxima do governo russo, e que esta proximidade possa comprometer a independência religiosa ou espiritual.

Conclusão

A Declaração Conjunta de 2016 entre Papa Francisco e Patriarca Cirilo representa um marco simbólico: o primeiro encontro histórico entre um Papa e o Patriarca de Moscovo. Embora não tenha resolvido todas as divergências, marca uma clara vontade de cooperação, diálogo e testemunho conjunto em temas urgentes como a perseguição Aos cristãos, a dignidade humana, família e liberdade religiosa.

É um passo importante no caminho ecuménico: mostra que, apesar das feridas históricas, há possibilidade de reconciliação quando se priorizam os valores comuns e se constrói confiança. O desafio que permanece é transformar a boa vontade em gestos contínuos, diálogo profundo e compromisso real para a unidade visível.

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