Neste dia, em 1954, o papa começou a rezar o Ângelus aos domingos para todo o mundo

O Ângelus é uma das mais belas e antigas orações da tradição católica, dedicada a recordar o mistério central da fé cristã: a Encarnação do Verbo. Rezado tradicionalmente três vezes ao dia, ao amanhecer, ao meio-dia e ao entardecer, o Ângelus convida os fiéis a interromper o ritmo quotidiano para contemplar o “sim” de Maria e o mistério de Deus feito homem.

Ao longo dos séculos, esta simples e profunda oração tornou-se parte essencial da vida espiritual da Igreja, e ganhou especial relevo quando os Papas começaram a recitá-la publicamente aos domingos, ao meio-dia, junto dos fiéis reunidos na Praça de São Pedro.

Origens medievais do Ângelus

As raízes do Ângelus remontam à Idade Média. A sua forma atual deriva de uma antiga devoção mariana ligada à saudação angélica do Evangelho de São Lucas: “O Anjo do Senhor anunciou a Maria, e Ela concebeu do Espírito Santo.

A oração começou por ser recitada à noite, no século XIII, como uma forma de meditação sobre a Encarnação e em memória da Paixão de Cristo. Mais tarde, passou também a ser rezada de manhã e ao meio-dia.

O som do sino, conhecido como o sino do Ângelus, servia para recordar aos fiéis o momento da oração, criando uma ligação espiritual entre os cristãos de diferentes lugares. Esta prática difundiu-se rapidamente pela Europa e, com o tempo, tornou-se um elemento marcante da paisagem sonora das aldeias e cidades católicas.

Mas foi o Papa João XXII (1316–1334) que, segundo a tradição, encorajou a sua recitação diária, concedendo indulgências a quem a rezasse com devoção.

O Ângelus e os Papas

Tudo começou quando Luigi Gedda, um médico católico italiano, aquando de um ano mariano, convenceu o seu amigo Papa Pio XII a recitar o Ângelus em público ao meio-dia a partir da janela do seu gabinete.

Foi a 15 de agosto de 1954, solenidade da Assunção de Maria, que Pio XII dirigiu-se aos católicos em Roma e a todo o mundo pela Rádio Vaticano, convidando-os a juntar-se a ele “na piedosa saudação à Mãe de Deus”.

Foi o início de um costume dos papas que se repete todos os domingos e nas solenidades marianas: o papa aparece na janela da biblioteca no Palácio Apostólico ao meio-dia para conduzir os fiéis reunidos na praça de São Pedro na oração do Ângelus em latim.

Estrutura e significado

O Ângelus é composto por três versículos, cada um recordando um momento do diálogo entre o Arcanjo Gabriel e Maria, seguidos pela oração da Ave-Maria. Termina com uma oração final que resume o mistério da Encarnação e a esperança da salvação:

Infundi, Senhor, a vossa graça em nossas almas, para que, conhecendo pela anunciação do Anjo a encarnação de Jesus Cristo, vosso Filho, pela sua Paixão e Cruz sejamos conduzidos à glória da ressurreição.”

O gesto de interromper o trabalho ou as tarefas diárias para recitar o Ângelus é, desde os seus primórdios, um ato de fé e de entrega. A oração convida à contemplação e à gratidão, lembrando que Deus entrou na história humana de forma humilde e silenciosa.

O Ângelus papal ao meio-dia

A tradição do Papa rezar o Angelus com os fiéis aos domingos e dias santos começou de forma mais sistemática no século XX. Embora pontífices anteriores já tivessem incentivado a oração, foi São João XXIII, nos anos 1950 e 1960, quem começou a recitá-la regularmente da janela do Palácio Apostólico, dirigindo também uma breve mensagem espiritual.

O costume consolidou-se com São Paulo VI e ganhou grande projeção mundial com São João Paulo II, que transformou o Ângelus dominical num momento de comunhão entre o Papa e os católicos de todo o mundo. Desde então, o Ângelus é transmitido em direto pelos meios de comunicação, tornando-se um ponto de encontro universal da Igreja.

Atualmente, o Papa Leão XIV continua esta tradição, rezando o Ângelus todos os domingos ao meio-dia, acompanhado por milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro e por milhões que o seguem através da televisão e da internet. O momento é precedido de uma breve meditação sobre o Evangelho do dia e seguido de uma saudação e bênção apostólica.

Um elo diário entre fé e vida

Mais do que uma simples oração, o Ângelus é uma pausa espiritual que une os cristãos de todas as partes do mundo. Lembra o valor do silêncio, da contemplação e da disponibilidade de Maria perante o mistério divino.

Ao som do sino ou ao meio-dia de cada domingo no Vaticano, esta oração continua a ecoar como um convite à esperança: recordar que Deus se fez homem para habitar entre nós, e que cada instante da vida pode ser um espaço de encontro com Ele.

Assim, o Ângelus permanece como um dos mais belos símbolos da tradição católica, uma ponte entre o Céu e a Terra, entre o passado da fé e o presente da oração viva da Igreja.

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