Neste dia, em 1164, as relíquias dos Reis Magos chegavam à cidade de Colónia na Alemanha

As relíquias dos Reis Magos – os três sábios do Oriente que, segundo o Evangelho de São Mateus, seguiram a estrela até Belém para adorar o Menino Jesus – sempre despertaram grande devoção no mundo cristão. A sua veneração está associada não só à tradição bíblica, mas também a uma fascinante história de transladações que culminaria na construção de uma das maiores catedrais da cristandade: a Catedral de Colónia, na Alemanha.

Origem e primeiros testemunhos

A tradição afirma que, após a visita a Belém, os Magos foram batizados pelo apóstolo São Tomé e, mais tarde, martirizados no Oriente. Os seus corpos teriam sido preservados e venerados no século IV, altura em que a imperatriz Santa Helena, mãe do imperador Constantino, os levou da Pérsia até Constantinopla, por volta do ano 330.

De Constantinopla, as relíquias teriam sido posteriormente trasladadas para Milão, no século V, quando o imperador bizantino trouxe várias relíquias importantes para o Ocidente. Ali permaneceram durante séculos, guardadas na Basílica de Santo Eustórgio, tornando-se centro de peregrinação.

O saque de Milão e a transladação para Colónia

O episódio decisivo ocorreu em 1162, quando Milão foi sitiada e destruída pelo imperador germânico Frederico I Barbarossa. A cidade fora punida por se revoltar contra o poder imperial. Após a vitória, o imperador ordenou a pilhagem de vários tesouros, entre eles as relíquias veneradas dos Reis Magos.

Em 1164, o imperador confiou-as ao seu arcebispo e chanceler, Rainaldo de Dassel, arcebispo de Colónia e um dos seus mais fiéis aliados. Rainaldo levou as relíquias da Basílica de Santo Eustórgio até à cidade de Colónia, na Alemanha, onde chegaram em triunfo.

Este traslado marcou profundamente a vida religiosa da cidade. As relíquias dos Magos passaram a ser vistas como um símbolo de prestígio e proteção divina, transformando Colónia num dos maiores centros de peregrinação da Idade Média, rivalizando com Roma e Santiago de Compostela.

A construção do relicário e da Catedral de Colónia

A chegada das relíquias provocou imediatamente a decisão de erguer um relicário monumental, encomendado ao mestre ourives Nicolau de Verdun, concluído em cerca de 1225. Esta obra-prima da ourivesaria medieval, conhecida como o Relicário dos Três Reis, permanece até hoje no altar-mor da Catedral de Colónia.

Pouco depois, em 1248, iniciou-se a construção da Catedral de Colónia, uma das maiores e mais ambiciosas igrejas góticas do mundo, erguida precisamente para acolher condignamente as relíquias. A sua conclusão só se daria muitos séculos mais tarde, em 1880, mas desde a Idade Média que a presença dos Magos lhe conferiu imenso significado espiritual e político.

A importância para Colónia e para a cristandade

As relíquias dos Reis Magos tornaram-se parte da identidade da cidade de Colónia. A sua imagem aparece até hoje no brasão da cidade: três coroas douradas sobre fundo vermelho, símbolo dos Magos. Durante a Idade Média, milhões de peregrinos afluíram à catedral para venerar o relicário, o que trouxe prosperidade e prestígio à cidade.

Além disso, a presença dos Reis Magos em Colónia reforçou a devoção popular ao episódio da Epifania, celebrada a 6 de janeiro, e contribuiu para a difusão do costume de abençoar casas nesse dia, escrevendo com giz a inscrição C+M+B, que significa Christus Mansionem Benedicat (“Cristo abençoe esta casa”), mas que também remete para os nomes tradicionais dos Magos: Caspar, Melchior e Baltasar.

Situação atual

Atualmente, o relicário continua a ser venerado na Catedral de Colónia, que é Património Mundial da UNESCO e destino de milhões de visitantes por ano. O relicário, de dimensões monumentais, mede mais de dois metros de comprimento e contém ossadas humanas, que a tradição continua a atribuir aos Magos do Oriente.

Apesar das discussões históricas e científicas sobre a autenticidade das relíquias, a sua força simbólica e espiritual permanece inalterada. Elas representam não apenas a veneração dos Magos, mas também a universalidade do chamamento de Cristo, adorado pelos primeiros que vieram de terras distantes para reconhecer no Menino de Belém o Salvador do mundo.

Conclusão

A transladação das relíquias dos Reis Magos de Milão para Colónia, em 1164, foi um acontecimento que mudou para sempre a história da cidade e reforçou o culto dos Magos em toda a cristandade. Hoje, o Relicário dos Três Reis não é apenas uma joia da arte medieval, mas sobretudo um testemunho vivo da fé que atravessou séculos, lembrando que o Evangelho de Belém se estende a todos os povos e nações.

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