Entre os grandes santos do século XX, destaca-se São Pio de Pietrelcina, conhecido em todo o mundo como Padre Pio. Este humilde frade capuchinho italiano, canonizado por São João Paulo II em 2002, recebeu um dom místico extraordinário: os estigmas de Cristo, que permaneceu visível no seu corpo durante cinquenta anos. Estes sinais tornaram-se expressão da sua profunda união com o Senhor crucificado e da sua missão de intercessor junto de Deus pelo povo cristão.
Quem foi São Pio de Pietrelcina?
Nascido em 25 de Maio de 1887, em Pietrelcina (Itália), com o nome de Francesco Forgione, ingressou ainda jovem na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, tomando o nome de Pio. Ordenado sacerdote em 1910, viveu grande parte da sua vida no convento de San Giovanni Rotondo, onde se dedicou à oração, ao ministério da confissão e à celebração da Eucaristia.
Ficou conhecido pelo dom da escuta paciente, pela sua vida austera e pela capacidade de ler os corações, atraindo milhares de fiéis que buscavam a reconciliação com Deus através do sacramento da Penitência.
O acontecimento dos estigmas
A 20 de Setembro de 1918, enquanto rezava diante de um crucifixo no coro da igreja do convento de San Giovanni Rotondo, Padre Pio entrou numa profunda experiência mística. Teve uma visão de Cristo crucificado que lhe comunicou um fogo de amor e de dor. Nesse instante, apareceram-lhe feridas abertas nas mãos, nos pés e no lado, reproduzindo as chagas do Crucificado.
Estas feridas eram visíveis, dolorosas e sangravam frequentemente, permanecendo inexplicavelmente abertas durante cinquenta anos, até à véspera da sua morte, a 23 de Setembro de 1968.
O uso de luvas e discretas coberturas
Padre Pio nunca procurou exibir os estigmas; pelo contrário, escondia-os sempre que podia. Usava frequentemente luvas de lã sem dedos ou faixas de pano para cobrir as mãos, sobretudo fora da celebração da Missa. Nos pés, usava meias grossas, e no lado trazia ligaduras.
Este gesto não era apenas por pudor, mas também por humildade: Pio temia ser visto como uma figura de espetáculo e queria evitar qualquer forma de vanglória ou curiosidade. Os estigmas, para ele, eram uma carga espiritual e física, que suportava em silêncio, oferecendo-os como sacrifício pela salvação das almas.
Controvérsias e investigações
O fenómeno dos estigmas de Padre Pio despertou enorme interesse e atraiu multidões de fiéis ao convento de San Giovanni Rotondo. Ao mesmo tempo, levantou também suspeitas e controvérsias dentro e fora da Igreja.
- Investigações médicas: Diversos médicos, enviados tanto pela Igreja como por entidades civis, examinaram-no. Confirmaram a presença de feridas que não cicatrizavam nem apresentavam sinais de infecção, mas nunca conseguiram dar uma explicação científica clara.
- Suspeitas de fraude: Houve quem afirmasse que as chagas poderiam ter sido provocadas artificialmente, talvez com produtos químicos, mas nunca se encontrou qualquer prova nesse sentido.
- Discernimento da Igreja: O Santo Ofício (actual Congregação para a Doutrina da Fé) chegou a impor restrições a Padre Pio, limitando o seu contacto com os fiéis e proibindo que celebrasse Missa em público. No entanto, estas medidas foram progressivamente levantadas, à medida que se constatava a sua integridade, humildade e frutos espirituais.
A grande afluência de peregrinos, os testemunhos de conversão e a vida de intensa oração e penitência acabaram por prevalecer como sinais de autenticidade.
O sofrimento físico e espiritual
Os estigmas não eram apenas um fenómeno visível, mas também fonte de grande sofrimento. Padre Pio suportava dores constantes, sobretudo nas mãos e no peito, e frequentemente perdia sangue em abundância. Calcula-se que, ao longo da sua vida, tenha perdido litros de sangue devido às chagas, sem nunca sofrer de anemia.
Apesar do sofrimento, Padre Pio oferecia-o como sacrifício unido à cruz de Cristo. Via nos estigmas uma forma de participar de modo real na Paixão do Senhor e de se tornar mediador pelos pecadores que se aproximavam dele.
O desaparecimento dos estigmas
Poucos dias antes da sua morte, em Setembro de 1968, os estigmas de Padre Pio começaram a desaparecer misteriosamente, cicatrizando sem deixar praticamente cicatrizes. Os médicos que o acompanharam ficaram perplexos, pois as feridas tinham permanecido abertas e dolorosas durante cinquenta anos.
Este desaparecimento foi visto como um sinal místico, um selo final da sua missão cumprida na terra.ração, pela confissão e pela caridade – foi o maior testemunho da autenticidade deste dom.
O seu legado espiritual
São Pio de Pietrelcina continua hoje a ser um dos santos mais populares da Igreja. Através dos estigmas, do seu ministério sacerdotal e do testemunho da sua vida, deixou-nos uma mensagem poderosa:
- A cruz é caminho de salvação – os sofrimentos oferecidos com amor unem-nos a Cristo e tornam-se fecundos para o mundo.
- O confessionário é lugar de cura – Padre Pio passou longas horas a ouvir confissões, fazendo da misericórdia de Deus a prioridade da sua missão.
- A oração é arma poderosa – especialmente o Rosário, que rezava continuamente, confiando tudo a Nossa Senhora.
Conclusão
Os estigmas de São Pio de Pietrelcina permanecem como um dos fenómenos místicos mais impressionantes da história moderna da Igreja. Através deles, Padre Pio tornou-se testemunha viva da Paixão de Cristo, carregando no corpo as marcas do amor de Jesus durante cinquenta anos.
O uso das luvas para esconder as chagas, a sua humildade diante das controvérsias e a aceitação do sofrimento como dom redentor mostram a grandeza espiritual de um homem que viveu apenas para Deus e para os irmãos.
Hoje, a mensagem dos estigmas de Padre Pio continua viva: só pela cruz se chega à ressurreição, e só no amor crucificado se encontra a verdadeira esperança.