Pouco passava das 17h quando o cardeal proto-diácono Dominique Mamberti pronunciou a tão aguardada fórmula em latim, comunicando a Roma e ao mundo o nome do novo sucessor de Pedro:
“Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum, Dominum Robertum Franciscum, Sanctæ Romanæ Ecclesiæ Cardinali Prevost, qui sibi nomen imposuit Leo XIV.
(“O eminentíssimo e reverendíssimo senhor, senhor Robert Francis, cardeal da Santa Igreja Romana PREVOST, que se impôs o nome de Leão XIV”).
A Igreja Católica registou hoje a eleição do cardeal norte-americano Robert Francis Prevost como o 267.º Papa, adotando o nome de Leão XIV. Esta escolha marca a primeira vez que um cidadão dos Estados Unidos assume o papado, sinalizando uma nova era de continuidade e renovação na liderança da Igreja.
Anúncio e escolha do nome
A eleição de Leão XIV ocorreu após a quarta votação do conclave, apenas dois dias após o início das deliberações. O cardeal Dominique Mamberti anunciou o novo pontífice com o tradicional “Habemus Papam”, recebendo uma calorosa recepção dos fiéis reunidos na Praça de São Pedro.
Ao escolher o nome Leão XIV, o novo Papa homenageia Leão XIII, conhecido pela sua encíclica social Rerum Novarum, que abordou os direitos dos trabalhadores e a justiça social. Esta escolha sugere um compromisso com temas sociais e uma continuidade com as reformas iniciadas pelos seus predecessores.
Primeiro discurso: uma mensagem de paz e unidade
No primeiro discurso como Papa, Leão XIV enfatizou a importância da paz, da inclusão e da justiça. Ele expressou gratidão ao Papa Francisco e destacou a necessidade de construir pontes através do diálogo. As suas palavras ressoaram com um chamamento à unidade e ao amor incondicional de Deus para com todos os povos.
Trajetória e formação
Nascido a 14 de setembro de 1955, em Chicago, Robert Francis Prevost ingressou na Ordem de Santo Agostinho em 1977, fazendo os votos solenes em 1981. Formado em Matemática e Filosofia pela Universidade de Villanova, possui um mestrado em Divindade e doutorado em Direito Canónico. A sua ordenação sacerdotal ocorreu em 1982.
O seu lema episcopal é “In Illo uno unum”, palavras que Santo Agostinho pronunciou num sermão, a Exposição sobre o Salmo 127, para explicar que “embora nós cristãos sejamos muitos, no único Cristo somos um”.
A sua missão levou-o ao Peru, onde serviu como missionário e posteriormente como bispo de Chiclayo. Em 2023, foi nomeado prefeito do Dicastério para os Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, sendo nomeado cardeal no mesmo ano.
Desafios e expectativas
O pontificado de Leão XIV enfrenta desafios significativos, incluindo a continuidade das reformas da Cúria Romana, o enfrentar a crise de abusos sexuais e a promoção da justiça social. A sua experiência missionária e compromisso com as periferias da Igreja sugerem uma liderança voltada para a inclusão e o diálogo.
A eleição de Leão XIV representa uma continuidade com o legado do Papa Francisco, mantendo o foco em temas sociais e na reforma da Igreja. A sua escolha simboliza uma esperança renovada para os fiéis em todo o mundo.
Às cerca de 100 mil pessoas que lotavam a Praça São Pedro e Via da Conciliação, o novo Pontífice dirigiu as seguintes palavras:
“A paz esteja com todos vós!
Caríssimos irmãos e irmãs, esta é a primeira saudação de Cristo Ressuscitado, o Bom Pastor que deu a vida pelo rebanho de Deus. Eu também gostaria que esta saudação de paz entrasse nos vossos corações, chegasse às suas famílias, a todas as pessoas, onde quer que estejam, a todos os povos, a toda a terra. A paz esteja convosco!
Esta é a paz do Cristo Ressuscitado, uma paz desarmada e uma paz desarmante, humilde e perseverante. Ela vem de Deus, Deus que nos ama a todos incondicionalmente. Ainda conservamos nos nossos ouvidos aquela voz fraca, mas sempre corajosa, do Papa Francisco que abençoava Roma!
O Papa que abençoava Roma concedia a sua bênção ao mundo, ao mundo inteiro, naquela manhã do dia de Páscoa. Permitam-me prosseguir com essa mesma bênção: Deus nos ama, Deus ama a todos vocês, e o mal não prevalecerá! Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos de mãos dadas com Deus e entre nós, sigamos em frente. Somos discípulos de Cristo. Cristo nos precede. O mundo precisa da sua luz. A humanidade precisa dele como ponte para ser alcançada por Deus e seu amor. Ajudai-nos também vós, e depois uns aos outros, a construir pontes, com o diálogo, com o encontro, unindo-nos a todos para sermos um só povo, sempre em paz. Obrigado, Papa Francisco!
Quero também agradecer a todos os meus irmãos cardeais que me escolheram para ser o Sucessor de Pedro e caminhar junto com vocês, como Igreja unida, sempre procurando a paz, a justiça, procurando sempre trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo, sem medo, para proclamar o Evangelho, para sermos missionários.
Sou filho de Santo Agostinho, um agostiniano, que disse: “com vocês sou cristão e para vocês bispo”. Nesse sentido, podemos todos caminhar juntos rumo àquela pátria que Deus nos preparou.
À Igreja de Roma, uma saudação especial! Devemos procurar juntos como ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, dialoga, sempre aberta para receber como esta praça com os braços abertos. A todos, a todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, do diálogo e do amor.
A todos vocês, irmãos e irmãs de Roma, da Itália, do mundo inteiro, queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, uma Igreja que sempre procura a paz, que sempre procura a caridade, que sempre procura estar próxima, especialmente daqueles que sofrem.
Hoje é o dia da Súplica a Nossa Senhora de Pompeia. Nossa Mãe Maria quer sempre caminhar connosco, estar próxima, ajudar-nos com a sua intercessão e amor.
Por isso, gostaria de rezar junto com vocês. Rezemos juntos por esta nova missão, por toda a Igreja, pela paz no mundo e peçamos esta graça especial a Maria, nossa Mãe.”