Neste dia, em 2024, o relicário da Coluna da Flagelação era aberto para veneração dos fiéis

Entre as relíquias mais veneradas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Coluna da Flagelação ocupa um lugar de profundo simbolismo e piedade. Este pequeno fragmento de pedra, conservado na Basílica de Santa Prassede, em Roma, é tido como parte da coluna à qual Cristo foi amarrado durante a flagelação, antes da crucifixão.

Ao longo dos séculos, a coluna tornou-se um sinal de contemplação do sofrimento redentor de Jesus, e de veneração silenciosa do amor de Deus que se fez obediente até à morte.

As origens bíblicas e o significado espiritual

Os Evangelhos narram que Jesus, depois de ser condenado por Pilatos, foi flagelado pelos soldados romanos (cf. Jo 19, 1). Este suplício, antecedente imediato da crucifixão, era uma forma cruel de tortura aplicada a criminosos e escravos.

A tradição cristã antiga conservou a memória de que Jesus foi amarrado a uma coluna de pedra, enquanto era açoitado. Essa coluna passou, com o tempo, a ser objeto de veneração como símbolo da paciência e da entrega de Cristo.

Espiritualmente, a Coluna da Flagelação recorda-nos a firmeza de Jesus diante da dor: Ele não se defende nem resiste, mas suporta o sofrimento por amor. É também símbolo da fé que permanece firme perante as provações.

A história da relíquia

A relíquia hoje venerada em Roma consiste num pequeno fragmento cilíndrico de pedra marmórea, com cerca de 63 cm de altura, e encontra-se guardada num relicário de vidro e ferro dourado, na Capela de São Zenão, dentro da Basílica de Santa Prassede.

De acordo com a tradição mais antiga, a coluna provém de Jerusalém, do local onde se situava o Pretório de Pilatos, onde Cristo foi julgado e flagelado.

O primeiro a falar dela foi Egeria no seu Itinerário, em 383, durante o culto da Sexta-feira Santa em Jerusalém: “O sol ainda não nasceu; depois da despedida todos vão de pressa para Sião, para rezar junto à coluna da flagelação“. O lugar de que Egeria fala, o Monte Sião, corresponde ao lugar onde se ergue a Igreja dos Apóstolos.

Séculos mais tarde, a coluna seria trazida de Jerusalém para Roma pelo cardeal Giovanni Colonna, durante a Quinta Cruzada, em 1223. Pascoal I, grande promotor do culto das relíquias, é o mesmo papa que mandou construir e decorar a atual Basílica de Santa Prassede, destinada a acolher numerosas relíquias vindas do Oriente. É nesta ocasião que, segundo as crónicas medievais, a Coluna da Flagelação foi ali colocada como parte do tesouro espiritual da Igreja de Roma. A solenidade da coluna foi aprovada pela Santa Sé e celebrada no quarto domingo da Quaresma.

Com o tempo, parece que o anel de ferro que estava ancorado no topo, para passar a corda e amarrar os pulsos, havia sido doado em 1240 ao Rei da França, São Luís IX. Em 1585, o Papa Sisto V doou uma lasca da coluna aos habitantes da cidade de Pádua.

A Basílica de Santa Prassede e a Capela da Coluna

A Basílica de Santa Prassede é uma das mais belas e antigas igrejas de Roma, conhecida pelos seus mosaicos bizantinos do século IX, considerados dos mais preciosos da cidade.

A Coluna da Flagelação está guardada na Capela de São Zenão, também conhecida como “Oratório de Santa Prassede” ou “Jardim do Paraíso”, uma pequena joia arquitetónica mandada construir por Pascoal I em honra da mãe, Teodora.

Dentro desta capela, a coluna é venerada num pequeno relicário, e o ambiente ornamentado de mosaicos dourados e motivos bíblicos confere ao local uma atmosfera de profunda sacralidade.

A basílica, situada perto da Basílica de Santa Maria Maior, é ainda hoje local de peregrinação e de oração silenciosa. Muitos peregrinos ajoelham-se diante da coluna, meditando sobre o sofrimento de Cristo e a redenção que brota do seu amor obediente.

Curiosidades e acontecimentos históricos documentados

  • Século XIII (c. 1230) — A Coluna da Flagelação é mencionada pela primeira vez em escritos de peregrinos medievais que visitavam Roma, já identificada como “a pedra à qual Nosso Senhor foi amarrado”.
  • Ano de 1450 — Durante o Jubileu convocado pelo Papa Nicolau V, Santa Prassede foi uma das igrejas designadas para acolher peregrinos e indulgências, e a Coluna tornou-se ponto de grande devoção popular.
  • Ano de 1725 — O Papa Bento XIII mandou restaurar o relicário que protegia a Coluna, reforçando-o com vidro espesso e grades metálicas para garantir a sua preservação.
  • Ano de 1898 — Por ocasião do XIII centenário da Basílica, o Papa Leão XIII concedeu indulgência plenária aos fiéis que visitassem a Coluna e rezassem em intenção da Igreja.
  • Ano de 1954 — Durante as comemorações do Ano Mariano, o Papa Pio XII enviou um grupo de restauradores à Basílica para limpeza e estudo das relíquias, incluindo a Coluna.
  • Ano de 2016 (21 de março) — O Vaticano autorizou nova intervenção de conservação na Capela de São Zenão e na Coluna, restaurando o mármore e melhorando o sistema de climatização.
  • Ano de 2024 (13 de abril) — Pela primeira vez em décadas, a Basílica de Santa Prassede abriu o relicário da Coluna da Flagelação à veneração pública direta dos fiéis, num ato solene promovido pela Diocese de Roma durante a Semana Santa.

Significado e devoção atual

Hoje, a Coluna da Flagelação continua a ser uma das relíquias mais visitadas pelos peregrinos que passam por Roma. A Igreja propõe a sua veneração sobretudo durante a Quaresma e na Semana Santa, como meio de contemplar a dor redentora de Cristo e de fortalecer a fé em tempos de sofrimento.

O local, discreto e silencioso, oferece um contraste impressionante com o barulho das grandes basílicas romanas — e convida à interioridade. Diante da pedra que, segundo a tradição, tocou o corpo ferido do Salvador, os fiéis são chamados a recordar que o amor de Cristo é firme como a rocha e mais forte que a dor.

Conclusão

A Coluna da Flagelação, guardada há mais de mil anos na Basílica de Santa Prassede, é mais do que uma relíquia — é um testemunho silencioso da entrega total de Jesus.

De Jerusalém a Roma, atravessando séculos de fé e arte, esta pedra fala-nos da esperança que nasce do sofrimento e da firmeza do amor divino que redime o mundo. Contemplá-la é recordar que, na flagelação e na dor, Cristo permanece o centro da misericórdia, e que em cada ferida sua há uma promessa de salvação.

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