A canonização de São Francisco e Santa Jacinta Marto, os dois pequenos videntes de Fátima, foi um dos momentos mais marcantes da história recente da Igreja Católica e do Santuário da Cova da Iria. Realizada a 13 de maio de 2017, precisamente no centenário das Aparições de Nossa Senhora de Fátima, a cerimónia foi presidida pelo Papa Francisco e constituiu um acontecimento de fé que reuniu mais de meio milhão de peregrinos.
As Aparições e a missão confiada aos Pastorinhos
Francisco e Jacinta Marto nasceram em Aljustrel, pequena aldeia pertencente à freguesia de Fátima. Eram irmãos e primos de Lúcia de Jesus, com quem partilharam as aparições da Virgem Maria em 1917, na Cova da Iria.
Durante as seis aparições, Nossa Senhora pediu-lhes oração, penitência e reparação pelos pecados do mundo. As crianças acolheram este pedido com uma fé simples, mas profunda. Francisco destacou-se pela sua vida de oração e contemplação, procurando “consolar Jesus pelos pecados do mundo”. Jacinta, por sua vez, sentia um grande amor pelo Santo Padre e pelas almas, oferecendo sacrifícios em reparação pelos pecadores.
Ambos foram vítimas da gripe pneumónica que assolou Portugal entre 1918 e 1920. Francisco faleceu em 1919, com apenas 10 anos, e Jacinta em 1920, com 9 anos, após uma longa doença vivida com heroica paciência.
O início do processo de canonização
O caminho para os altares começou cedo. Em 1937, o então bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, autorizou a recolha de informações sobre a vida e virtudes dos dois pastorinhos. A fama de santidade das crianças cresceu rapidamente, não apenas em Portugal, mas em todo o mundo católico.
Em 1952, o processo diocesano foi formalmente aberto, e as suas causas foram apresentadas em Roma em 1979. Após a análise dos testemunhos, escritos e curas atribuídas à sua intercessão, o Papa João Paulo II, ele próprio profundamente ligado a Fátima, beatificou Francisco e Jacinta a 13 de maio de 2000, durante a sua terceira visita ao Santuário.
Foi a primeira vez na história que a Igreja beatificou crianças não mártires, reconhecendo que a santidade pode ser alcançada através da simplicidade e fidelidade à mensagem de Deus.
O milagre para a canonização
O milagre reconhecido para a canonização foi a cura inexplicável de um menino brasileiro, Lucas Batista de Souza, natural do estado do Paraná. Em 2013, Lucas caiu de uma janela a cerca de sete metros de altura, sofrendo um traumatismo craniano grave, com paragem respiratória e coma profundo.
Os médicos consideraram o caso praticamente irreversível. No entanto, os pais, profundamente devotos de Fátima, começaram a rezar com fé a Francisco e Jacinta Marto, pedindo a sua intercessão. Em poucas horas, Lucas apresentou uma recuperação inexplicável, e em poucos dias teve alta hospitalar sem qualquer sequela.
A Congregação para as Causas dos Santos, após exames médicos e teológicos rigorosos, reconheceu oficialmente o milagre em fevereiro de 2017, abrindo caminho à canonização.
A cerimónia de canonização
A canonização de Francisco e Jacinta Marto decorreu no dia 13 de maio de 2017, na esplanada do Santuário de Fátima, perante centenas de milhares de peregrinos vindos de todo o mundo. A celebração foi presidida pelo Papa Francisco, que peregrinou a Fátima como “peregrino da paz e da esperança”.
Durante a missa, o Santo Padre proclamou solenemente:
“Em honra da Santíssima Trindade, para exaltação da fé católica e incremento da vida cristã, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, declaramos e definimos santos os beatos Francisco Marto e Jacinta Marto.”
Após estas palavras, a multidão explodiu em aplausos e emoção, enquanto o ícone dos dois pastorinhos era descoberto junto do altar.
A mensagem espiritual dos dois santos
Francisco e Jacinta são hoje modelo de santidade infantil, testemunhando que o amor a Deus e à Virgem Maria não conhece idade. A Igreja reconhece neles o exemplo da pureza de coração, da fidelidade à oração e da oferta generosa pelo bem da humanidade.
- São Francisco Marto é lembrado como o menino do silêncio e da adoração. Gostava de se recolher na igreja para “fazer companhia a Jesus escondido”.
- Santa Jacinta Marto, de temperamento mais vivo, oferecia pequenos sacrifícios pelas almas e pelo Santo Padre, mostrando um amor ardente pelos outros.
O Papa Francisco destacou na homilia que “Deus utiliza os pequenos para realizar as suas grandes obras” e que os dois pastorinhos “ensinam que podemos ser santos no dia a dia, mesmo nas pequenas coisas”.
A atualidade da devoção
Hoje, os túmulos de São Francisco e Santa Jacinta Marto repousam na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, lado a lado, junto ao de Irmã Lúcia, falecida em 2005 e atualmente em processo de beatificação.
Milhares de peregrinos visitam diariamente os seus jazigos, pedindo a sua intercessão. A sua santidade infantil é fonte de inspiração para famílias, catequistas e jovens de todo o mundo.
Em 2020, por ocasião do centenário da morte de Santa Jacinta, o Santuário de Fátima celebrou um Ano Jubilar, reforçando o legado espiritual dos dois santos.
Conclusão
A canonização de São Francisco e Santa Jacinta Marto representa o reconhecimento da simplicidade e pureza com que as crianças podem acolher a fé e torná-la exemplo para o mundo.
Elevados aos altares no centenário das Aparições, os dois pequenos pastores tornaram-se símbolos vivos da mensagem de Fátima: oração, penitência e confiança no Coração Imaculado de Maria.
“Que o exemplo de São Francisco e Santa Jacinta nos ajude a dizer sim a Deus, como eles disseram, com um coração puro e generoso.” — Papa Francisco, Fátima, 13 de maio de 2017