O Sínodo dos Bispos é um dos organismos mais importantes da Igreja Católica no período contemporâneo. Criado pelo Papa São Paulo VI, em 1965, no final do Concílio Vaticano II, o Sínodo foi pensado como uma forma de reforçar a comunhão colegial entre o Papa e os bispos do mundo inteiro, permitindo uma maior participação destes na vida e nas decisões da Igreja universal.
A origem: o contexto do Concílio Vaticano II
O Concílio Vaticano II (1962-1965), convocado pelo Papa São João XXIII, representou uma profunda renovação da Igreja, chamando-a a abrir-se ao diálogo com o mundo moderno. Durante os trabalhos conciliares, destacou-se o tema da colegialidade episcopal: a convicção de que os bispos, em comunhão com o Papa, partilham uma responsabilidade conjunta pelo governo e pela missão da Igreja.
Muitos padres conciliares pediram que, após o Concílio, se mantivesse um organismo que permitisse aos bispos continuarem a colaborar de forma estruturada com o Papa na orientação da Igreja.
Foi nesse espírito que Paulo VI, a 15 de setembro de 1965, promulgou o Motu Proprio Apostolica sollicitudo, instituindo oficialmente o Sínodo dos Bispos.
Finalidade e missão
No documento de criação, Paulo VI indicava claramente os objetivos do Sínodo:
- Promover a união entre o Papa e os bispos do mundo inteiro;
- Assegurar uma colaboração eficaz dos bispos com o Romano Pontífice nas questões mais relevantes da Igreja;
- Dar continuidade ao espírito do Concílio Vaticano II, garantindo que a renovação pastoral não fosse apenas um momento extraordinário, mas um processo constante;
- Favorecer a colegialidade, expressando que o Papa governa a Igreja não de forma isolada, mas em comunhão com os sucessores dos Apóstolos.
Assim, o Sínodo não é um concílio ecuménico (que reúne todo o episcopado universal), mas uma assembleia representativa que aconselha o Papa, fornecendo-lhe pareceres e sugestões.
Estrutura e funcionamento
O Sínodo dos Bispos é composto por bispos eleitos pelas conferências episcopais, representantes de ordens religiosas, chefes de Igrejas orientais católicas, e membros nomeados diretamente pelo Papa.
As assembleias sinodais podem ser de três tipos:
- Ordinárias – realizadas a intervalos regulares, sobre temas de interesse universal (ex.: família, juventude, evangelização).
- Extraordinárias – convocadas para tratar questões urgentes.
- Especiais – dedicadas a regiões específicas (ex.: Sínodo para a Amazónia, em 2019).
O trabalho do Sínodo decorre em sessões plenárias, debates em pequenos grupos linguísticos e na elaboração de documentos finais. O Papa pode depois publicar uma Exortação Apostólica Pós-Sinodal, recolhendo as conclusões do Sínodo.
Linha Cronológica dos Sínodos dos Bispos
Abaixo está um resumo, organizado cronologicamente, dos principais Sínodos dos Bispos desde a sua criação em 1965 até hoje, com indicação do tipo (Ordinário, Extraordinário ou Especial), tema principal e datas principais de realização:
- Início e fundamento teológico
A instituição do Sínodo dos Bispos foi anunciada pelo Papa Paulo VI em 14 de setembro de 1965, na última sessão do Concílio Vaticano II, e formalizada no dia seguinte, 15 de setembro de 1965, por meio da Constituição Apostólica Apostolica sollicitudo.
O objetivo central era reforçar a colegialidade episcopal e tornar a instituição do episcopado participante ativo no governo da Igreja. - Sínodos Ordinários
A partir de 1967 (primeiro Sínodo), seguiram-se reuniões regulares com intervalos entre 3 a 5 anos. Exemplos relevantes:- 1974 – Evangelização no mundo moderno (Evangelii nuntiandi)
- 1980 – Família cristã (Familiaris consortio)
- 2005 – Eucaristia como fonte e cume da vida e missão da Igreja (Sacramentum caritatis)
- 2013 – Nova Evangelização (Evangelii gaudium)
- 2023 – Sínodo da XVI Assembleia Ordinária (For a Synodal Church: Communion, Participation and Mission)
- Sínodos Extraordinários
Convocados para temas urgentes que exigiam respostas rápidas da Igreja.- 2014 e 2015 – Duas sessões consecutivas foram dedicadas à família e evangelização, culminando na exortação Amoris laetitia (2016)
- Sínodos Especiais
Celebrados para regiões específicas, a fim de abordar desafios culturais e pastorais próprios. Alguns exemplos:- África (1994)
- América (1997)
- Europa (1999)
- Oriente Médio (2010)
Esta linha cronológica oferece uma visão clara da evolução dos Sínodos dos Bispos desde 1967 até à atualidade. Cada assembleia mostra como a Igreja procura estar em comunhão, discernir os seus caminhos e responder com sabedoria às necessidades de todos os povos – coerente com o espírito do Concílio Vaticano II. É realmente um organismo vivo, a serviço da fidelidade à missão evangelizadora.
Um sinal de comunhão e corresponsabilidade
O Sínodo dos Bispos continua a ser, hoje, um instrumento privilegiado de escuta e discernimento na Igreja. Ele expressa a convicção de que o Espírito Santo fala através de todo o Povo de Deus e que o Papa, como sucessor de Pedro, deve exercer o seu ministério em diálogo com os bispos.
Ao instituir o Sínodo, Paulo VI respondia ao desejo do Concílio Vaticano II: uma Igreja mais colegial, mais próxima do mundo e mais fiel ao Evangelho.
Conclusão
O Sínodo dos Bispos nasceu do dinamismo do Concílio Vaticano II e permanece até hoje como um espaço de partilha e discernimento que enriquece a missão da Igreja. A sua criação, a 15 de setembro de 1965, representou um marco histórico: a afirmação de que a unidade da Igreja se vive na diversidade de vozes e culturas, em comunhão com o sucessor de Pedro.
Assim, cada assembleia sinodal é mais do que um encontro de pastores: é um sinal vivo da ação do Espírito Santo que guia a Igreja no seu caminho através da história.