Neste dia, em 1846, Giovanni Maria Mastai-Ferretti era eleito como Papa Pio IX

A eleição do Papa Pio IX, nascido Giovanni Maria Mastai-Ferretti, marcou profundamente a história da Igreja Católica e o século XIX. A sua escolha para o trono de São Pedro ocorreu num período de grande agitação política e social na Europa, passando pela Revolução Industrial, a unificação italiana e o início da Belle Époque. Entre os seus feitos, destaca-se o fato de ter sido primeiro pontífice a ser fotografado na História. O seu longo pontificado viria a ser um dos mais significativos e duradouros da história moderna da Igreja.

Contexto e o Conclave de 1846

Após a morte do Papa Gregório XVI, a 1 de junho de 1846, a Igreja enfrentava um momento delicado. A Europa fervilhava de ideais revolucionários e liberais que desafiavam as monarquias e as estruturas tradicionais, incluindo a autoridade papal e os Estados Pontifícios.

O conclave iniciou-se a 14 de junho de 1846, no Palácio do Quirinal, em Roma. Participaram 62 cardeais, representando diferentes sensibilidades dentro do Colégio Cardinalício — uns defendiam a continuidade da linha conservadora de Gregório XVI, outros desejavam uma abertura moderada às mudanças da época.

Após apenas dois dias de votações, e na quarta votação, o cardeal Giovanni Maria Mastai-Ferretti foi eleito Sumo Pontífice a 16 de junho de 1846. Tinha então 54 anos e era conhecido pela sua piedade, sensibilidade pastoral e simpatia pelos pobres.

Escolheu o nome Pio IX, em homenagem a Pio VII, o Papa que o ordenara sacerdote e que sofrera o cativeiro napoleónico.

Os Primeiros Anos do Pontificado

Nos primeiros tempos, Pio IX foi visto como um Papa reformador e benevolente. Introduziu anistias políticas, promoveu reformas administrativas nos Estados Pontifícios e demonstrou simpatia por algumas ideias liberais moderadas. Estas atitudes granjearam-lhe grande popularidade, tanto em Roma como fora dela.

Contudo, a eclosão das Revoluções de 1848 alterou radicalmente o panorama. O Papa, forçado a fugir de Roma para Gaeta, percebeu que o movimento revolucionário pretendia eliminar o poder temporal do papado. Regressou em 1850, profundamente marcado, e assumiu uma postura mais firme e conservadora na defesa da fé e da autoridade da Igreja.

Pontificado e Grandes Realizações

O pontificado de Pio IX durou mais de 31 anos (1846–1878), o mais longo da história, depois de São Pedro. Entre as suas grandes realizações destacam-se:

  • A proclamação do Dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria, em 1854, com a bula Ineffabilis Deus;
  • A convocação do Concílio Vaticano I (1869–1870), que definiu solenemente o dogma da infalibilidade papal;
  • A defesa da fé católica face ao racionalismo, ao liberalismo e ao materialismo da época;
  • A publicação do Syllabus Errorum (1864), documento que condenava os principais erros modernos contra a fé;
  • O fim dos Estados Pontifícios, em 1870, após a unificação italiana e a ocupação de Roma, tornando o Papa “prisioneiro no Vaticano”.

Morte e Legado

O Papa Pio IX faleceu a 7 de fevereiro de 1878, após um pontificado que moldou profundamente a Igreja contemporânea. Apesar das controvérsias políticas, é lembrado pela sua profunda fé, firmeza doutrinal e amor à Virgem Maria.

O seu processo de beatificação foi iniciado no século XX, e o Papa João Paulo II proclamou-o Beato a 3 de setembro de 2000, reconhecendo a sua santidade de vida e o seu papel decisivo na história da Igreja.

Conclusão

A eleição de Pio IX representou um ponto de viragem na história da Igreja Católica. O seu pontificado atravessou revoluções, guerras e profundas mudanças culturais, mas também foi tempo de renovação espiritual e definição doutrinal. A sua figura permanece como um símbolo de fé inabalável num tempo de grandes tempestades — o Papa que viu ruir o poder temporal da Igreja, mas fortaleceu como nunca o seu poder espiritual.

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