O Perdão Celestino é uma indulgência plenária concedida pela Igreja Católica, com raízes profundas na história espiritual da Europa e ligada à figura de São Celestino V, o chamado “papa do grande recuo”. Este dom espiritual, nascido no final do século XIII, continua vivo até hoje, recordando aos cristãos a centralidade do perdão, da penitência e da reconciliação com Deus. Mais do que uma prática devocional, o Perdão Celestino é uma mensagem de esperança e de misericórdia, plenamente actual para o nosso tempo.
A origem: São Celestino V e a bula Inter Sanctorum Solemnia
O Perdão Celestino nasceu em 1294, quando o eremita Pietro Angelerio, monge beneditino da Abadia de Santo Espírito em Maiella, foi eleito papa, tomando o nome de Celestino V. A sua eleição foi marcada por um desejo de simplicidade e de reforma espiritual numa época conturbada para a Igreja.
Pouco depois da sua coroação em Áquila, Celestino V promulgou a bula Inter Sanctorum Solemnia, a 29 de Setembro de 1294. Nela, instituiu uma indulgência plenária – conhecida como Perdão Celestino ou Perdonanza Celestiniana – que poderia ser recebida por todos os fiéis que, com verdadeiro arrependimento e confessados sacramentalmente, visitassem a Basílica de Santa Maria de Collemaggio, em Áquila, entre as vésperas de 28 de Agosto e as vésperas de 29 de Agosto de cada ano.
Com este gesto, Celestino V abriu as portas da misericórdia a todos, antecipando em quase um século a prática dos Anos Santos que começariam formalmente com o jubileu de 1300, instituído por Bonifácio VIII.
Significado espiritual do Perdão Celestino
O Perdão Celestino não é apenas um rito ou uma tradição; é um convite profundo à conversão do coração. São Celestino V, homem de vida eremítica e de austeridade evangélica, quis que os cristãos tivessem acesso directo à misericórdia de Deus, sem distinções sociais ou económicas, desde que houvesse verdadeiro arrependimento.
O perdão é sempre fruto da graça de Deus, que encontra o coração humano disponível através da confissão, da Eucaristia e da oração. Por isso, o Perdão Celestino é considerado uma peregrinação interior, um caminho de humildade que lembra a todos que a misericórdia divina não está presa a privilégios, mas é dom gratuito e universal.
A celebração em Áquila
Todos os anos, a cidade de Áquila, em Itália, revive a tradição do Perdão Celestino com uma grande celebração religiosa e cultural chamada Perdonanza Celestiniana, que atrai milhares de peregrinos. A festa começa a 28 de Agosto com a abertura da Porta Santa de Collemaggio pelo arcebispo da cidade, repetindo o gesto instituído por Celestino V. Durante as 24 horas seguintes, os fiéis atravessam a Porta Santa, participam na missa, confessam-se e comungam, obtendo a indulgência plenária.
Em 2019, a UNESCO reconheceu a Perdonanza Celestiniana como Património Cultural Imaterial da Humanidade, sublinhando não apenas o valor religioso, mas também a sua importância histórica e cultural para a Europa.
A mensagem do Perdão Celestino hoje
O Perdão Celestino continua a ser extremamente actual, sobretudo num mundo marcado por guerras, divisões e falta de reconciliação. A mensagem de São Celestino V recorda que:
- O perdão é caminho de paz – sem reconciliação com Deus e com os irmãos, não há verdadeira paz interior nem social.
- A misericórdia de Deus é ilimitada – qualquer pessoa arrependida, independentemente do passado, pode encontrar na Igreja o abraço do Pai.
- A simplicidade do Evangelho é revolucionária – num tempo de ostentação e poder, Celestino V propôs um caminho de humildade e de serviço, ainda hoje inspirador.
Conclusão
O Perdão Celestino é uma herança espiritual preciosa da Igreja Católica, que continua a ecoar como convite à conversão, ao sacramento da reconciliação e à vivência do amor misericordioso de Deus. São Celestino V, com a sua vida simples e com este gesto profético, deixou-nos um caminho de esperança que, mais de setecentos anos depois, permanece vivo.
Participar, mesmo espiritualmente, no Perdão Celestino é entrar no mistério de um Deus que não se cansa de perdoar, e que abre continuamente as portas da sua misericórdia a todos os seus filhos.