Padre Francisco Rodrigues da Cruz, mais conhecido como Padre Cruz, é uma das figuras mais queridas da Igreja em Portugal. Chamado popularmente de “padre da caridade”, foi durante décadas um sacerdote itinerante, amigo dos pobres, confessor incansável e pregador próximo do povo. A sua fama de santidade espalhou-se ainda em vida, e a sua causa de beatificação mantém-se viva até hoje.
Origens e Vida
Francisco Rodrigues da Cruz nasceu em Alcochete, a 29 de julho de 1859, filho de Manuel da Cruz e de Catarina de Oliveira da Cruz. Desde cedo mostrou grande sensibilidade espiritual e uma inteligência viva, que o levaram a estudar em Lisboa e depois na Universidade de Coimbra, onde se formou em Teologia em 1880.
Foi ordenado sacerdote a 3 de junho de 1882. O seu ministério começou de forma dedicada ao ensino e à orientação espiritual: dirigiu o Colégio dos Órfãos entre 1886 e 1894 e, alguns anos mais tarde, foi diretor espiritual em São Vicente de Fora, em Lisboa. No entanto, cedo se destacou por não se limitar às funções institucionais: a sua missão estendia-se às ruas, aos campos e às prisões, aonde quer que houvesse alguém necessitado de ouvir uma palavra de conforto ou de receber ajuda concreta.
Obra e Legado
O que tornou Padre Cruz uma figura única foi a sua proximidade com todos, sobretudo com os mais pobres e marginalizados. Tornou-se conhecido como pregador ambulante, confessor incansável e homem de oração constante. Rezava o terço, passava longas horas diante do Santíssimo Sacramento e era visto como alguém que fazia da sua própria vida um testemunho de fé.
Viajava por todo o país e também pelas ilhas, levando consigo a mensagem do Evangelho e o exemplo de caridade. Não raro, partilhava o pouco que tinha com os necessitados. A sua reputação de santidade cresceu tanto que, ainda em vida, muitos já o chamavam de santo. O seu funeral, em 1948, foi uma manifestação de fé e carinho popular, com milhares de pessoas a acompanhar o cortejo.
Um aspeto marcante da sua vida foi a entrada tardia na Companhia de Jesus, em 1940. Ainda assim, a mudança de instituição não alterou o seu estilo de vida, marcado pela simplicidade, oração e entrega aos outros. Faleceu em Lisboa a 1 de outubro de 1948, com 89 anos, sendo sepultado no Cemitério de Benfica, no jazigo da Companhia de Jesus.
Processo de Beatificação
Poucos anos após a sua morte, iniciou-se oficialmente o processo de beatificação. A fase diocesana começou a 10 de março de 1951, em Lisboa, e prolongou-se até 1965, quando a documentação foi enviada para a Santa Sé. Já em 1971, a Igreja reconheceu as suas virtudes heroicas e declarou Padre Cruz como Venerável.
O processo conheceu novos avanços em 2009, quando foi reaberto um tribunal diocesano supletivo para adequar a causa às normas atuais da Congregação para as Causas dos Santos. A clausura desta fase ocorreu a 17 de dezembro de 2020, em cerimónia solene na Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa. Desde então, toda a documentação foi remetida para Roma, onde se aguarda a continuação da avaliação.
Para a sua beatificação, é necessário o reconhecimento oficial de um milagre atribuído à sua intercessão, embora muitos fiéis relatem graças e favores alcançados por meio da sua oração. O povo português continua a acorrer ao seu túmulo, pedindo a sua ajuda e deixando testemunhos de devoção.
Estado Atual e Perspetivas
Padre Cruz é hoje recordado como exemplo de sacerdote próximo, humilde e totalmente entregue ao Evangelho. O título de Venerável já lhe foi concedido, e a esperança é que o processo de beatificação possa avançar rapidamente, permitindo que a Igreja reconheça oficialmente aquilo que o povo já crê há muito tempo: a santidade da sua vida.
As celebrações em torno das efemérides do seu nascimento e da sua morte continuam a reunir muitos devotos, e o seu jazigo tornou-se local de oração frequente. Para além da sua importância na história da Igreja em Portugal, Padre Cruz permanece como modelo universal de entrega pastoral, mostrando que a santidade pode ser vivida no quotidiano, com simplicidade e amor aos mais pequenos.